
Guardo o travo na minha língua      
De todo os gostos de eu pequeno.       
O gosto das doces tamarindas       
Umedecidas pelo sereno da chuva!       
O gosto dos imbus! Dos canapus!       
O gosto das cajaranas! Das bananas       
Amadurecidas todas no pé!       
O gosto dos juás! Dos trapiás!       
Das tamboeiras de melancia       
Cultivadas no roçado da muriçoca!       
      
Trago na boca o sal da paçoca      
De carne-de-sol assada,       
Misturada com cebola e farinha!       
O gosto salgado dos preás!       
O gosto dos tamanduás!       
O gosto torrado da galinha!
Sinto o cheiro nas narinas      
De afogueado de batatas assadas       
Nas labaredas de fogos na areia!       
O cheiro de escaldado! De coalhada!       
O cheiro de maxixada! De buchadaa!       
O cheiro de jerimum caboclo!       
O cheiro de cuscuz com coco!       
O cheiro de fuçura de porco!       
O cheiro de café coado no pano!       
De café torrado com rapadura!       
De café do bule para a quenca!       
Tudo feito no fogo de lenha!
Hoje, no supermercado,      
Minha língua não sente mais travo!       
Hoje, vindo do inox, não sinto o gosto       
Da mistura dos gostos da panela de barro!
Gilberto Costa
 
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