
A possibilidade de Caixa 2, de compra de votos e a busca por notas fiscais frias para justificar saques de campanha não foram as únicas irregularidades que a Procuradoria-geral da República deixou passar ao arquivar as supostas irregularidades realizadas durante a campanha de Rosalba Ciarlini, que levaram a atual governadora a ser eleita senadora, em 2006. No final da noite de ontem, o blog De Olho no Discurso, do jornalista Daniel Dantas Lemos, publicou novos trechos de conversas telefônicas de Galbi Saldanha, na época, contador da campanha do PFL, agora DEM, com a irmã da governadora, Ruth Ciarlini. As interceptações apontam a tentativa de nepotismo e a utilização da máquina pública, no caso a Assembleia Legislativa, para dar empregos aos que trabalharam na campanha. Além disso, as escutas mostram ainda a insatisfação de Ruth Ciarlini com a prefeita de Mossoró, Fafá Rosado. Tanto foi assim que a irmã de Rosalba Ciarlini chegou a dizer que iria "continuar vivendo para trabalhar contra Fafá".
Contudo, dois anos depois disso, se uniu justamente a Fafá para formar a chapa do DEM que ganhou as eleições municipais de 2008 em Mossoró, com Ruth na condição de vice-prefeita. Sobre o "cabide de emprego", quer dizer, o gabinete, as escutas telefônicas mostram Ruth Ciarlini conversando com Galbi Saldanha para pegar a lista de pagamento de pessoal que trabalhou na campanha. São 18 nomes citados e, juntos, resultam num gasto superior a R$ 18 mil. Ruth Ciarlini também mostra receio pela derrota nas urnas, afirmando que não sabe do que vai viver a partir daquele momento. "Isso não é mais gabinete não, é um cabide de emprego", ironiza Ruth Ciarlini, após ouvir os 18 nomes citados por Galbi e seus respectivos salários, logo no início da ligação interceptada. Em outro contato telefônico, Ruth conversa sobre a situação de seus familiares. O interesse da deputada é fazer nepotismo cruzado, mas a possibilidade é descartada por Galbi Saldanha, que explica a gestora pública que tal atitude é ilegal.
USO DA MÁQUINA
Segundo Daniel Dantas Lemos, essas escutas telefônicas teriam chegado até a Procuradoria-geral da República (PGR), por citarem pessoas com foro privilegiado. Contudo, elas não foram levadas a frente, mesmo tendo mostrado várias irregularidades, inclusive, nos áudios divulgados com Ruth Ciarlini. Afinal, se realmente o gabinete da então deputada estadual tiver sido usado para abrigar pessoas que trabalharam em campanha, o caso se assemelha ao do deputado estadual Dibson Nasser, que está para ter o mandato cassado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), justamente, por suspeita de que o pai dele, Dickson Nasser, usou a Câmara Municipal de Natal para dar emprego a pessoas que fizeram altas doações financeiras a campanha eleitoral que o levou à Assembleia Legislativa.
ESCUTAS TELEFÔNICAS
As escutas telefônicas feitas no celular de Galbi Sadanha, em 2006, foram autorizadas pela Justiça com o objetivo de investigar um possível envolvimento dele com a pistolagem a qual o irmão era investigado na época. Contudo, Galbi Saldanha, que atualmente é secretário-adjunto do Gabinete Civil do Governo do Estado, era contador da campanha eleitoral que levou Rosalba Ciarlini ao Senado Federal. Por isso, durante os últimos meses do ano, recebeu diversas ligações de pessoas envolvidas na campanha, como o marido da atual governadora, Carlos Augusto Rosado. Segundo o jornalista Daniel Dantas Lemos, do Blog De Olho no Discurso (www.blogdodanieldantas.blogspot.com.br), foram feitas mais de 40 interceptações telefônicas durante o período. Na edição de ontem, O JORNAL DE HOJE publicou diálogos retirados desses telefonemas em que Carlos Augusto fala com Regina Gadelha, secretária de Betinho Rosado, sobre um depósito feito de R$ 100 mil na conta do atual secretário. "O dinheiro é de Rosalba", afirmou Carlos Augusto, ouvido, depois, em conversa com Galbi Saldanha, perguntando qual a maneira de retirar esse dinheiro de forma correta.
Ruth Ciarlini: “Eu vou viver para trabalhar contra Fafá”
Trecho do diálogo entre Ruth Ciarlini e Galbi Saldanha em que eles tratam do futuro e do apoio a Fafá Rosado, além da conversa sobre a possibilidade de fazer nepotismo cruzado na Assembleia Legislativa.
Ruth Ciarlini: - Eu vou viver para trabalhar contra Fafá. Não tem acordo, não tem acordo!
Galbi Saldanha: - Mas eu acho que nesse primeiro momento você tem que ter calma e vamos ver a eleição de governador e você só deve tomar uma posição depois. Porque...
Ruth Ciarlini: - Não, ele tendo com o que me pagar...
Galbi Saldanha: - O próximo a disputar voto não é você não, é ela, né? Vamos ver...
Ruth Ciarlini: - É esperar para dar o troco, bem bonitinho...
Galbi Saldanha: - E aqui em casa, olhe, eu votei em Arlene, minha mulher votou em Arlene, Tereza votou, a gente pediu voto. Alias, seu gabinete foi até usado de uma certa forma para ajudar a Arlene. Você sabe disso, né? Por debaixo do pano a gente sempre ajudava. Porque ela sempre precisava. Mas eu acho que vai ser difícil eu votar de novo em Arlene, viu? Ruth Ciarlini: - Galbi, me diga uma coisa: papai é mil reais ou é dois mil?
Galbi Saldanha: - Não, é dois, porque não é mil no final do mês e mil no meio do mês!
Ruth Ciarlini: - Ah, então tá. É mil no meio e mil no final.
Galbi Saldanha: - É, exato.
Ruth Ciarlini: - E por que veio essa conversa de mil e quinhentos de Nívia?
Galbi Saldanha: - Bom, está aí porque ele foi demitido do cargo. Então, aquele benefício que saia não está. Ele está pelo gabinete. Então, é isso que eu botei. Cabe a você dizer se vai pagar ou não.
Ruth Ciarlini: - Olhe: porque o que a gente poderia ter feito era, na época, botar ele em algum gabinete aí, nera?
Galbi Saldanha: - Sim, mas o problema é que era na Assembleia a questão do nepotismo, né?
Ruth Ciarlini: - De outro colega! O próprio André a gente botava em outro. Tinha trocado, só para não perder, né, Galbi?
Galbi Saldanha: - É, não sei se podia dessa maneira, viu?
Ruth Ciarlini: - Podia! Botava lá com... Pronto, lá em Gesane!
Galbi Saldanha: - Não sei, eu acho que não pode.
Ruth Ciarlini: - Pode não eu sair cruzando?
Galbi Saldanha: - Não, não pode não. Cruzado. Isso aí foi combatido dentro da própria assembleia. Isso ele estavam fazendo com o Tribunal de Justiça, algumas pessoas.
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