ENTREVISTA
Manhã de quinta-feira, dia do protesto. Sem que haja qualquer cobrança mais efetiva, a governadora Rosalba Ciarlini convoca entrevista coletiva para falar sobre a questão da passagem de ônibus em Natal. O tema é de responsabilidade da Prefeitura, mas o Governo se envolveu. Expectativa criada para um golaço político da gestão desgastada. Fraude.
DESNECESSÁRIA
A entrevista estava prevista para ocorrer com a presença da governadora Rosalba Ciarlini e do prefeito Carlos Eduardo. Para surpresa da imprensa, nenhum dos dois compareceu. Para a missão da enganação, foi escalado o secretário Demétrio Tôrres, que não tinha nada a ver com a história e teve que tentar ‘engabelar’ todo mundo. Fez um grande esforço, mas sem conteúdo algum, frustrou a todos ao não assumir que o Governo realmente poderia reduzir o ICMS do óleo diesel. Era melhor não ter dito nada. Aliás, nem precisava de coletiva.
INACREDITÁVEL
A governadora Rosalba Ciarlini continua marcando pontos negativos. O pior é que a Rosa, para usar uma linguagem do futebol, fica na cara do gol, com a responsabilidade apenas de empurrar a bola para o fundo da rede, mas consegue chutar pra fora. Inacreditável futebol clube é pouco para a mulher de Carlos Augusto. Quem será que orienta as ações desse Governo?
MULTIPLICAÇÃO
O Governo ter escalado Demétrio para ‘não dizer nada’, fato levado ao noticiário no horário do almoço, certamente colaborou para a multiplicação da passeata de ontem. Ou seja: A Rosa, de forma indireta, ajudou a aumentar o protesto, que quase invade a governadoria.
OPORTUNIDADE
Já o prefeito Carlos Eduardo, que havia dito que não faria nada para baixar o preço das passagens, vislumbrou no recuo da governadora Rosalba Ciarlini uma oportunidade de marcar um gol político ao anunciar sozinho a redução na tarifa. Sua arrogância foi derrubada pelo prenúncio de uma manifestação de milhares de pessoas nas ruas. Teve que engolir o que dissera e ceder. Sua postura foi sensata, oportuna e revelou que ele está atento à leitura correta das ruas.
PROJETO
Caso não tivesse sido tão arrogante a ponto de sequer querer discutir a redução no preço da passagem de ônibus a partir da isenção parcial do ISS, proposto por seu líder na Câmara, vereador Júlio Protásio, o prefeito Carlos Eduardo teria evitado o desgaste da punhalada nas costas do natalense. Não o fez, mas nada impede que faça agora, já que anunciou a redução no preço sem dizer de onde partiria o respaldo para tal atitude.
GOSTOU
Pelo menos uma pessoa em particular gostou do protesto ontem em Natal: O deputado federal João Maia. Justamente por causa das manifestações, o processo que pede a cassação do parlamentar teve sua votação adiada no Tribunal Regional Eleitoral. Para o ‘platinado’, o gigante vai continuar dormindo um pouco mais nas gavetas do TRE.
EXCLUSÃO
Os protestos em todo o país foram marcados pela hostilidade aos políticos e aos partidos. Os manifestantes não se sentem representados pela atual classe política brasileira e externaram sua revolta de forma generalizada.
REPÚDIO
O PT, que foi gestado nas manifestações públicas, assumiu o poder e teve que engolir o repúdio de grande parte da população ao ‘sistema’ que outrora condenava e hoje comanda. O pior é que alguns de seus líderes ainda tentaram se ‘infiltrar’ nos movimentos e tiveram que passar constrangimento histórico de ser ‘convidados’ a deixar o protesto.
OPOSIÇÃO
O PT foi vaiado e é, mesmo que seus integrantes não queiram admitir e chegam a ser ridículos falando em golpe, o alvo principal das manifestações. Mas a oposição, cujos líderes não representam nem de longe o que os protestos buscam, também foi hostilizada à distância pela inoperância e ausência de sintonia com o clamor das ruas.
VAIA
A vereadora Amanda Gurgel tentou capitalizar, assim como outros políticos, a reação popular dos protestos, mas foi vaiada e tratada como os outros políticos excluídos dos protestos. Não fez a leitura do momento.
PARTICIPAÇÃO
A manifestação revelou intolerância da sociedade desorganizada com sindicatos e partidos políticos. É compreensível diante da ausência de representatividade democrática, mas não podemos esquecer a importância dos sindicatos e partidos políticos na redemocratização e até na construção da cidadania.
EQUÍVOCOS
Os erros e equívocos de sindicatos e políticos, reforçam a tese de que a arrogância de ambos e o distanciamento das verdadeiras lutas sociais e políticas da sociedade impõe uma nova leitura do momento, especialmente a respeito das prioridades em relação a prestação do serviço público de qualidade.
ARENA
A vaia que centenas de pessoas deram ao passar pela Arena das Dunas é simbólica. Revela que a população identificou um paradoxo de termos um gigante milionário erguido sob o aplauso da classe política, cuja serventia não atenderá nem de longe às prioridades básicas do povo. Um estádio de primeiro mundo e um inferno de hospital público.
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