Doença crônica é considerada caso de saúde pública e atinge cerca de 38 milhões de brasileiros/Isaac Ribeiro/Repórter
Sabe quando você almoça e pouco tempo depois inicia uma queimação no peito, um desconforto, um gosto ácido na boca e a sensação de que a comida está voltando à boca? Esses sintomas podem indicar que você está sofrendo da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) ou, simplesmente, refluxo, como é mais conhecida. A incidência no Brasil é alta, atingindo 20% da população, o que representa cerca de 38 milhões de pessoas — índices semelhantes aos registrados nos Estados Unidos e na Inglaterra. Considerado um problema de saúde pública, por ser uma doença crônica, o refluxo apresenta vários sintomas, que comprometem a qualidade de vida dos enfermos, alternando momentos de crise com outros de melhoras. Entre os principais fatores causadores estão os genéticos, hábitos alimentares inadequados, excesso de peso e obesidade, fumo, consumo exagerado de bebidas alcoólicas e situações de estresse emocional.
Também contribuem para o aparecimento ou agravo da doença, o alto consumo de comidas gordurosas ou muito condimentadas, além dos industrializados, refeições com intervalos muito curtos – sem que dê tempo para o estômago esvaziar — e ainda mastigação insuficiente. De acordo com o gastroenterologista Ricardo Oliveira, membro titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), o refluxo também possui um forte componente hereditário, e atinge vários membros de uma mesma família, muitas vezes associado a cálculos na vesícula biliar e divertículos no intestino grosso. “Tem um componente hereditário aí no meio; tanto que se partir para fazer uma averiguação da quarta geração em diante, você vai encontrar gente com refluxo. Isso, geralmente, é uma regra”, comenta Roberto Oliveira, membro titular também da Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva.
O diagnóstico, segundo o gastro, é feito após uma conversa detalhada com o paciente para saber seus hábitos de vida e histórico familiar. “São analisadas as queixas, presença de outros sintomas, o tempo de aparecimento, fatores que aliviam ou agravam, estilo de vida adotado e existência de familiares com doenças semelhantes.” Entre os exames que auxiliam o diagnóstico estão a esdoscopia digestiva alta, manometria e pH-metria esofágica e pH-impedânciometria. O primeiro teste realizado é a endoscopia e atesta inflamação no esôfago em cerca de 40% dos casos. O tratamento é diferente para cada paciente, podendo ser clínico ou cirúrgico.
No primeiro, são necessárias mudanças no estilo de vida, com adoção de dieta restritiva e uso de medicamentos capazes de diminuir a produção de ácido clorídrico pelo estômago. Já o tratamento cirúrgico é indicado para quem possui grandes hérnias de hiatais — quando pedaço do estômago invade tórax —, em paciente jovens, quem não reponde bem aos medicamentos. Uma das novidades é o implante LINX, um anel elástico com esferas metálicas, que envolve o final do esôfago, capaz de reduzir os episódios de refluxos. O problema é que ainda não está disponível no Brasil.
Desconforto é confundido com azia
O esôfago é um órgão de forma tubular, localizado no meio do tórax, revestido por um tecido que se contrai para transportar até o estômago os alimentos deglutidos durante a alimentação. Quando a comida chega lá, é submetida à alção corrosiva do suco gástrico, rico em ácido clorídrico e pepsina, uma enzima digestiva. O interior do esôfago não é resistente a esse líquido e uma falha no esfíncter permite o retorno da comida junto com o suco gástrico, provocando um grande desconforto.
Mas a variedade de sintomas pode acabar gerando confusão, não representando exatamente a Doença do Refluxo Gastroesofágico. Geralmente, confunde-se com azia ou gastrite. Azia é aquela queimação no peito e na garganta, geralmente com a presença de um gosto ácido na boca. Já a gastrite pode se manifestar por perda de apetite, náuseas, vômitos, associados à dor e queimação na ‘boca do estômago’. A universitária Karla Jeane de Almeida Régis, 35 anos, sabe bem o que é o desconforto causado pelo refluxo. Ela foi diagnosticada com a doença há pouco mais de cinco anos e diz sentir bastante azia, retorno da comida, dificuldade de arrotar e um aperto no peito, sempre que está passando por uma crise.
Segundo ela, tem alguns alimentos que pioram o desconforto. “Tem época de pico de crise que piora. Quando estou tomando a medicação é tranquilo. Mas quando acaba, os sintomas voltam”, comenta Karla. Sobre o fato de o refluxo ter forte componente hereditário, Jeane Karla diz não haver casos em sua família. Sua mãe, porém, conta ela, faz tratamento para gastrite. “Mas nos exames dela não aparece refluxo. Ela toma apenas Omeprazol, mas eu já tomei uns medicamentos bem pesados.” Afim de amenizar, retardar ou prevenir os sintomas do refluxo, indica-se evitar alguns alimentos gordurosos. Para alguns, principalmente os mais glutões, isso representa um verdadeiro sacrifício, já que as restrições incluem acepipes como croissants, alimentos recheados amanteigados, queijo muito gordurosos (os amarelos), gordura do leite integral, margarina, manteiga, bacon, sorvetes cremosos, chocolates, bebidas gasosas, álcool, pimentas e comidas oleosas.
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