
ATO DERRADEIRO - Dilma falará a senadores nesta segunda (Ueslei Marcelino/Reuters)
A presidente afastada Dilma Rousseff fará nesta segunda-feira
seu derradeiro ato na tentativa de salvar-se da condenação no processo de
impeachment: está previsto para as 9 horas o início do depoimento da petista a
senadores. Ela terá trinta minutos para discursar – prorrogáveis por mais
trinta, se assim permitir o presidente do julgamento, ministro Ricardo
Lewandowski – e depois responderá a perguntas dos parlamentares inscritos (até a
tarde de domingo havia 47 nomes na lista). Diante do fato de que, mesmo dentro
do PT, é difícil encontrar em Brasília alguém que acredite na volta de Dilma ao
Planalto, o depoimento da presidente afastada deve servir apenas como o
ponto alto das gravações da equipe de documentaristas dedicada
a registrar o processo. E também para elevar a tensão em um já deflagrado
plenário.
Justamente para evitar cenas lamentáveis como as que se deram
ao longo da semana, senadores pró-impeachment defendem que a sabanita a que
Dilma será submetida seja estritamente técnica. Mas não descartam arroubos de
congressistas como Ronaldo Caiado (DEM-GO), que nesta quinta-feira bateu boca
com os petistas Lindbergh Farias (PT-RJ) e Gleisi Hoffmann (PT-PR). O acordo é
que o tom dos questionamentos não seja tão ríspido para evitar o risco de Dilma
se colocar como vítima no processo de impeachment. Entre os senadores
pró-impeachment, a expectativa é para a pergunta que o senador Aécio Neves
(PSDB-MG) deverá fazer à presidente afastada. Derrotado em 2014 nas eleições que
garantiram a reeleição de Dilma, Aécio questionou a lisura do sistema de urnas
eletrônicas e ingressou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com pedido de
cassação da chapa formada por Dilma Rousseff e Michel
Já Dilma foi aconselhada a dar um depoimento forte, sem meias
palavras, dizendo que o processo de impeachment só foi aberto porque ela não
cedeu à pressão para barrar a Operação Lava Jato – a exemplo do que vem
apregoando em seus discursos desde que foi formalmente afastada da Presdiência.
Ela também recebeu sugestões para citar o áudio no qual o senador Romero Jucá
(PMDB-RR) afirma ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que é preciso
mudar o governo para “estancar a sangria” da Lava Jato e impedir o avanço das
investigações. O tom do pronunciamento foi discutido com Lula, que acompanhará
in loco o depoimento da afilhada política. A petista, aliás, terá consigo uma
comitiva com 35 pessoas, a maioria ex-ministros do governo da petista, como
Jaques Wagner, Aloizio Mercadante, Ricardo Berzoini, Miguel Rossetto, Patrus
Ananias, Aldo Rebelo, Izabela Teixeira e Eleonora Menicucci. A dúvida entre
aliados de Dilma é se Lula, indicado na sexta-feira pela Lava Jato, deve
acompanhar o depoimento das galerias ou de uma sala reservada.
A equipe da petista solicitou à presidência do Senado uma sala
reservada, para ela poder se reunir com seus aliados e se preparar para a
audiência. Auxiliares do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL),
afirmaram que uma sala ao lado do gabinete do peemedebista está sendo preparada
para receber a presidente afastada. Dilma deve permanecer no local antes do
início da sessão. O Senado vai providenciar ainda um café da manhã, com pães,
sucos e água de coco. Também será servido um almoço, caso o depoimento dela se
estenda até mais tarde. Além de repetir o já desgastado e ineficiente discurso
petista que compara o impeachment erroneamente a um golpe de estado, Dilma
deverá evocar o passado de militante de esquerda e o seu julgamento pela
ditadura militar para destacar que, mais uma vez, está sendo acusada de crimes
que não cometeu. O depoimento de Dilma encerra a fase da instrução do processo
de impeachment. A partir daí, o julgamento entra na etapa final com os debates
entre a acusação e a defesa, as manifestações dos senadores e o voto — que será
nominal e aberto. O resultado só deve ser conhecido na madrugada de
quarta-feira.
Diante do clima beligerante que se instaurou no Senado, a fala
de Dilma promete acirrar ainda mais os ânimos. Mas o advogado da presidente
afastada, José Eduardo Cardozo, afirmou não temer que o depoimento se transforme
em mais uma batalha no Senado. “A presidente vai fazer um discurso de estadista.
Não terá provocação”, afirmou. Falta, contudo, combinar com os senadores. “Se
alguém levantar o tom com ela, nós vamos responder. Qualquer ação vai gerar uma
reação, está tudo à flor da pele”, afirmou a senadora Vanessa Grazziotin
(PCdoB-AM). “Acho que vamos ter um debate muito forte, mas não dá para prever se
vai sair do controle. Pela tensão que está no plenário, não é impossível”,
prosseguiu. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), defende que se
evitem perguntas entre os pró-impeachment. “Eu defendo com muita clareza que a
presidente vem aqui fazer sua defesa para marcar posição. Se depender da minha
opinião, não devemos fazer perguntas. Não vai mudar a posição de ninguém. Se
puder evitar um clima mais tenso, melhor. O processo é difícil para os dois
lados”, afirmou. Essa, porém, não é a posição do líder do DEM, Ronaldo Caiado
(GO), que defende o direito da base governista questionar Dilma. Caiado afirma
que o tom subirá a depender do que será dito pela presidente e pelos seus
defensores. E ironiza: “Se subir muito o tom, vamos trazer aquele muro lá de
fora aqui para dentro”, em referência ao muro montado do lado de fora do
Congresso para separar manifestantes favoráveis e contrários ao impeachment. A
julgar pelo clima prévio do depoimento, não devem faltar imagens de impacto para
o documentário.
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