Glaucos da Costamarques em depoimento ao juiz Sergio Moro sobre apartamento que alugou para o ex-presidente Lula - Reprodução/ohlobo
Dono do apartamento alugado para o
ex-presidente Lula em São Bernardo do Campo, o
empresário Glaucos da Costamarques diz ter assinado, de uma vez só, todos
os recibos de aluguel referentes ao ano de 2015. Os documentos
foram assinados pelo empresário quando ele estava internado no Hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo, em novembro daquele ano. A defesa de Lula
apresentou, na segunda-feira, 26 comprovantes de aluguel entre agosto de 2011 e
novembro de 2015. Todos com a letra de Costamarques. Segundo a defesa do
empresário, os recibos foram levados ao hospital pelo contador financeiro João
Muniz Leite, a pedido de Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula.
A defesa de Costamarques avalia ajuizar
hoje uma petição na 13ª Vara da justiça Federal de Curitiba, onde despacha o
juiz Sergio Moro, apresentando justamente a informação de que os recibos foram
entregues pelo contador e ainda que parte dos comprovantes foi assinado um
seguido do outro. Os advogados pretendem, com isso, provar que os documentos
foram confeccionados pela defesa de Lula. Os recibos foram entregues por
Costamarques ao contador logo após as assinaturas, ainda no Sírio-Libanês. O
empresário ficou hospitalizado entre 22 e 28 de novembro para colocação de
um stent.
Na petição, os advogados devem
solicitar imagens do circuito interno do hospital. O objetivo é comprovar as
visitas feitas a Costamarques pelo compadre de Lula e o contador. Investigadores da Lava-Jato avaliam o
episódio como uma possível tentativa de obstrução à Justiça por parte de Lula,
uma vez que a defesa procurou um dos réus ainda com as investigações em curso.
No início da Operação Lava-Jato, durante a sétima fase, Moro considerou
obstrução à Justiça o fato de empreiteiras apresentaram recibos de pagamento a
empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef. Na ocasião, a Justiça considerou
esse fato para pedir prisões de alguns empreiteiros.
Costamarques sustenta que, apesar de
ter firmado o contrato com a ex-primeira-dama Marisa Letícia em 2011, só passou
a receber os valores referentes ao aluguel em novembro de 2015, após a prisão do
seu primo e pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. Ainda assim, o
empresário disse que alguns pagamentos foram feitos em espécie, por meio de
depósitos não identificados, entre novembro de 2015 e fevereiro deste ano,
quando a ex-primeira-dama Marisa Letícia morreu em decorrência de um aneurisma.
DEFESA DE LULA FALA EM 'ESPECULAÇÕES'
Desde então, Costamarques passou a
receber os pagamentos por meio de transferência eletrônica disponível (TED). A defesa do ex-presidente Lula informou
que “não comenta especulações”. Já o advogado de Teixeira, Antônio Cláudio
Mariz de Oliveira — que foi responsável pela defesa do presidente Michel Temer
até a semana passada —, disse que deve conversar com seu cliente hoje.

Assinatura de Glaucos
Costamarques - Reprodução
Em
depoimento ao juiz Sergio Moro, no último dia 13, Glaucos da Costamarques
admitiu ter declarado os valores dos pagamentos à Receita Federal, apesar de,
segundo ele, “não ter visto a cor do dinheiro até novembro de 2015”. O
aluguel em questão refere-se à cobertura vizinha ao apartamento onde mora Lula,
em São Bernardo do Campo (SP). Nos dois mandatos do petista, a Presidência da
República alugou o imóvel para garantir a segurança do então presidente. Quando
ele deixou o cargo, em 2011, continuou a ocupar o imóvel. A Lava-Jato revelou
que, no fim de 2010, o apartamento foi comprado por Costamarques. Para a
Lava-Jato, o empresário é intermediário de uma negociação suspeita.
O
apartamento teria sido comprado pela Odebrecht e entregue ao ex-presidente Lula
como forma de pagar propina pelos benefícios obtidos pela empreiteira no
governo federal. Em
interrogatório ao juiz Sergio Moro no processo que apura o uso do apartamento,
no último dia 13, Lula disse desconhecer a inadimplência nos pagamentos após
ser questionado pelo juiz e prometeu procurar os recibos. Na ocasião, o
ex-presidente disse que procuraria pelos recibos para entregá-los à Justiça.
—
Tem recibo, deve ter, posso procurar com os contadores para saber se tem —
disse o ex-presidente a Sergio Moro. No
mesmo dia, também em depoimento a Moro, Costamarques disse que “levou calote”
durante quase cinco anos da família Lula, mas que teria passado a receber os
valores devidos apenas depois da prisão de Bumlai, justamente em novembro de
2015.
Também
ao juiz, o empresário afirmou que o imóvel passou a ser alugado pela
Presidência quando Lula chegou ao Planalto. Costamarques disse na audiência que
Bumlai o orientou a comprar o apartamento, em 2010. Em suas palavras, seu primo
teria ficado preocupado com quem seria o vizinho de Lula, uma vez que o imóvel
ficou vago naquele ano após a morte do então proprietário:
—
O Zé Carlos (Bumlai) me falou na ocasião: “Você pode comprar esse apartamento
para mim? Eu estou sem dinheiro agora e nós não queremos que alguém estranho
compre o apartamento e se mude para lá. Esse apartamento tem que continuar
alugado (agora pelo presidente)”.

NOTA
PARA EMPRESA DE LULA
Durante
busca e apreensão na casa do ex-presidente Lula, a PF apreendeu uma certidão da
Junta Comercial de São Paulo da empresa L.I.L.S Palestras, Eventos e
Publicações, que tem Lula e Paulo Okamotto como sócios. A
certidão foi emitida em abril de 2012 por João Muniz Leite, segundo
identificação de solicitante registrada ao lado do código de autenticidade do
documento.
O registro do nome de Leite no papel é um indicativo de que ele
prestava serviços para o ex-presidente. João Leite também é o contador da
empresa Mito Participações Ltda, do advogado e compadre de Lula Roberto
Teixeira. Além disso, ele já foi responsável pela abertura de uma empresa do
empresário Fernando Bittar, um dos donos do sítio de Atibaia (SP) atribuído ao
ex-presidente Lula e alvo de denúncia na Operação Lava-Jato.
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