Após
cerca de um ano e meio de tramitação na Câmara e um mês e meio no Senado, o
Plano Nacional de Educação (PNE) chega ao fim de mais um ano legislativo sem
aprovação. No Senado, já foram apresentadas 80 emendas ao plano, mas, por
enquanto, está mantido o ponto que mais gerou polêmicas na Câmara, aampliação do percentual de investimento do Produto Interno Bruto (PIB) em
educação para 10% anuais. O PNE estabelece 20 metas educacionais que o
país deverá atingir no prazo de dez anos. A discussão no Senado já causa
preocupação entre os movimentos sociais ligados à educação devido a uma emenda,
apresentada pelo relator do projeto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE),
José Pimentel (PT-CE), à meta 20. O relatório de Pimentel diz que a finalidade
da emenda é que a parcela de 10% do PIB compreenda o conceito de “investimento
público total em educação”, sem a referência ou condição adicional de que seja
aplicado apenas no ensino público – definido como “investimento público
direto”.
Entidades como a Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), que divulgou nota pública
com críticas à mudança na proposta, e a Campanha Nacional pelo Direito à
Educação reclamam que, se acatada, a mudança abre caminho para a aplicação de
dinheiro público no setor privado de ensino.“A ideia do governo é retirar essa menção à educação pública deixando
só educação e podendo dividir a distribuição desse recurso também com o setor
privado. Esse é o recuo mais forte que identificamos. Não vamos permitir que
isso aconteça e vamos tentar fazer com que alguns senadores se convençam do
equívoco”, diz o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
Daniel Cara. O senador José Pimentel diz que apresentou a
emenda porque a redação, tal como veio da Câmara, impedia a continuidade do
Programa Universidades para Todos (Prouni) que concede bolsas de estudos a
alunos carentes em instituições privadas de educação superior. “Com a redação que veio da Câmara teríamos
que cancelar o Prouni, um programa que tem mais de 1 milhão de alunos de
famílias pobres em universidades particulares. Como sou defensor do Prouni,
construí uma redação para que ele continue”, disse Pimentel. Em nota, a Contee critica também a emenda que
propõe a retirada do patamar intermediário de 7% do investimento do PIB em
educação a ser alcançado no prazo de cinco anos. “A emenda exclui o patamar de
7% do investimento do PIB nacional em educação em um prazo de cinco anos,
deixando o percentual de 10% do PIB, ao final do decênio, como único
referencial de ampliação de investimento, o que elimina a possibilidade de
ampliação do investimento de forma mais imediata”, diz o texto. Na Câmara, o PNE tramitou por mais de um ano
e meio e recebeu cerca de 2,9 mil emendas. A preocupação do governo agora é
acelerar a passagem do texto no Senado.
O ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, tem feito reiteradas declarações
pedindo aos senadores agilidade na aprovação do
PNE, que deveria ter sido implementado em 2011. A expectativa de Daniel Cara, da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação, é que a discussão no Senado seja um pouco
mais ágil. “Os senadores acompanharam a tramitação do PNE, os desafios do
plano, as polêmicas. A tendência é que decidam deliberar de forma mais rápida.
Acho que teremos o plano aprovado em um prazo de seis a nove meses”, disse. O exame do plano pela CAE será retomado
apenas em 2013 e o texto irá passar por mais duas comissões do Senado e pelo
plenário. Depois, deve retornar à Câmara para exame de alterações que
provavelmente serão feitas no texto pelos senadores. O último passo é a sanção
presidencial. A ampliação do percentual de investimento do
PIB na educação, que ocorreu na Câmara, é uma das maiores conquistas alcançadas
até agora no PNE, na avaliação de organizações da sociedade civil. O projeto
inicial do governo previa passar dos atuais 5,3% do PIB para 7% no prazo de dez
anos. Após intensas negociações, o governo admitiu elevar o percentual para 8%.
Com a mobilização dos movimentos sociais, foi aprovado o investimento de 10% do
PIB, mesmo contrariando a intenção do governo. O governo diz que o Congresso deve indicar a
fonte de recurso para cumprir esse percentual e indica comoprincipal alternativa para financiar a área os royalties do petróleo. Essa destinação, no entanto, depende de aprovação
do Congresso Nacional. O PNE estabelece 20 metas educacionais que o
país deverá atingir no prazo de dez anos. O plano prevê, por exemplo, aumento
no investimento em educação pública, ampliação das vagas em creches,
erradicação do analfabetismo e a oferta do ensino em tempo integral em pelo
menos 50% das escolas públicas.
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