A recomposição orçamentária da
educação e a garantia da execução de estratégias consideradas fundamentais como
o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que distribui a escolas públicas
livros didáticos e literários, estão entre os principais desafios do governo do
presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva que toma posse no dia 1º de
janeiro. A educação é considerada uma das
principais pastas do novo governo e será comandada pelo ex-governador
do Ceará e senador eleito Camilo Santana (PT).
De acordo com o relatório elaborado pela equipe de transição, o setor sofreu diversos cortes no orçamento e congelamento de verbas ao longo dos últimos anos. Além disso, diversas medidas institucionais prejudicaram o andamento de políticas públicas que vão desde a educação infantil até o ensino superior. A intenção é restabelecer espaços de diálogo recriando comitês e comissões e garantir a execução de programas federais considerados fundamentais para a oferta de uma educação de qualidade.
Desafios
Segundo o relatório da equipe de
transição, o MEC e as autarquias sofreram, entre 2019 e 2022, retrocessos
institucionais, orçamentários e normativos, observando-se falta de
planejamento; descontinuidade de políticas relevantes; desarticulação com os
sistemas de ensino estaduais e municipais e da rede federal de ensino;
incapacidade de execução orçamentária; e omissões perante os desafios
educacionais.
A recomposição dos investimentos e dos recursos para custeio das universidades e institutos federais, assim como a garantia das bolsas de estudo para estudantes e pesquisadores, é fundamental para a garantia de uma educação de qualidade, segundo a equipe de transição.“O descaso com a educação atingiu diversos programas, como os de alimentação escolar, construção de creches e escolas, organização curricular, ampliação do tempo integral, iniciação à docência, entre outros. As poucas iniciativas adotadas foram tardias, beneficiaram um limitado número de estudantes e estiveram desconectadas das necessidades reais, como no caso da estratégia de formação de professores por meio de plataformas de educação a distância, sem coordenação nacional, incentivo e valorização dos educadores”, diz o texto.
Merenda será prioridade
Uma das prioridades, seguindo a
bandeira de combater a fome no país, é a garantia de merenda escolar de
qualidade. No Brasil, a educação básica deve ser ofertada em regime de
colaboração com os estados e municípios. A gestão das escolas públicas cabe aos
governos estaduais e municipais, mas o governo federal deve oferecer apoio. Para
a merenda, o governo federal repassa o equivalente a R$ 0,36 por aluno,
chegando a R$ 1,07 para alunos do ensino integral, valores que não são
reajustados desde 2017. Para a equipe de transição, o
reajuste do valor da merenda é uma das questões emergenciais na educação. Além
disso, deve ser priorizada a garantia de que cerca de um terço dos alimentos
seja proveniente da agricultura familiar, como está previsto na Lei
11.947/2009.
Outra prioridade elencada pela equipe de transição é o apoio à educação infantil. Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005/2014, até 2024, 50% das crianças com até 3 anos devem estar matriculadas em creches. Atualmente, conforme dados de 2019, essa porcentagem é de cerca de 38%. A educação integral também deverá ser fortalecida. Segundo o PNE, pelo menos 50% das escolas públicas devem oferecer jornadas de sete horas diárias ou mais até 2024. Atualmente, de acordo com dados de 2020, essa oferta chega a 29,5% das escolas. Além disso, 25% dos alunos devem ser atendidos pela jornada integral. Esse índice é 12,9%.
Mais diálogo
O governo Lula pretende fortalecer os
espaços de diálogo, em especial, com gestores estaduais e municipais, para
garantir o regime de colaboração. O relatório aponta a importância da recriação
de uma série de comitês e comissões que foram extintos desde 2019, como o
Comitê Permanente de Planejamento e Gestão da Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica. Segundo a publicação, também
constituem desafios a retomada de comissões paralisadas, a exemplo do Comitê
Gestor do Programa Universidade Para Todos (CGProuni); o aperfeiçoamento de
conselhos em funcionamento, como o Conselho de Acompanhamento e de Controle
Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb); e
a criação de novos conselhos, como o Conselho Consultivo de Regulação,
Avaliação e Supervisão da Educação Superior, com ampla participação de
organizações que militam na área educacional.
Educação especial e escolas
cívico-militares
O relatório aponta a necessidade de revogação de normas consideradas
atrasadas e divergentes em relação um projeto de educação pública, gratuita,
laica e democrática. “As normas educacionais mais recentes refletem esse
movimento de ideologização, precarização e constrangimento da educação
pública”, diz o texto. Entre as medidas citadas está acabar com a
política pública de educação especial que, de acordo com a equipe de transição,
promove o isolamento social das crianças com deficiência. Para isso, a proposta
é a revogação do Decreto nº 10.502/2020, que exclui as crianças com deficiência
do convívio com as demais crianças nos ambientes escolares. Outra proposta é avaliar o Programa
Nacional das Escolas Cívico-Militares. A sugestão é que o presidente da
República edite despacho orientando o ministro da Educação a avaliar os
resultados da política pública prevista no Decreto 10004/2019, que instituiu o
programa, sob critérios técnicos relativos ao custo-benefício, para definição sobre
a dotação orçamentária e continuidade.
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