DIÁRIO DE PERNAMBUCO, TERÇA-FEIRA, 28
DE ABRIL DE 1970.
POLÍCIA FEDERAL SE CONCENTRA NO RIO
GRANDE DO NORTE PARA DESBARATAR “SINDICATO DO CRIME”

O pistoleiro Edmar Nunes Leitão,
autor de oito crimes na região nordestina, inclusive dos assassinatos dos
deputados Carlindo de Souza Dantas e Francisco Miguel, ocorridos em Caicó e
Sergipe, chegará às 7 horas de hoje ao Aeroporto Augusto Severo, em Natal,
fortemente escoltado por quatro agentes do Departamento de Policia Federal. O
delegado regional da Polícia Federal, Sr. Júlio Freire de Revoredo, viajará na
manhã de hoje para a capital potiguar, a fim de presidir as investigações que
serão procedidas e, inclusive, pessoalmente, fazer acareações e ouvir
depoimentos no curso dos trabalhos que serão realizados. Objetiva, segundo as
próprias declarações do Sr. Júlio Revoredo pôr a limpo a série interminável de
crimes em Caicó e, consequentemente, a detenção de todos que, direta ou
indiretamente, concorreram para o estabelecimento do “Sindicato do Crime”.
ORDEM É PRENDER
Frisou o agente federal que fará
executar no Rio Grande do Norte, as determinações dadas anteriormente.
Baseia-se nas prisões de todos aqueles que estejam envolvidos nos crimes
ocorridos em Caicó, quer sejam os autores materiais ou intelectuais das
chacinas. Razão porque, acrescentou o Sr. Júlio Revoredo, as pessoas apontadas
pelo bandoleiro Edmar Leitão, no curso de seus depoimentos, serão imediatamente
detidas, principalmente aqueles que têm ou tiveram ligação com o “Sindicato do
Crime”. Um detalhe que vem intrigando a
Polícia Federal diz respeito à “cobertura” que um influente cidadão residente
em Natal vem dando ao médico Osvaldo Lobo, acusado de mandante no crime que foi
vítima o deputado Carlindo Dantas. Informou o agente Otávio Ruas que o Sr.
Osvaldo Lobo é natural da Paraíba, onde foi preso numa fazenda, juntamente com
o capataz conhecido por Eronildes. Na fazenda, que é de propriedade do médico,
foi encontrado um verdadeiro arsenal composto de seis revólveres, três rifles e
uma arma calibre 45.
PONTO OBSCURO
Posto em liberdade, após prestar
depoimento na Paraíba, o médico Osvaldo Lobo dirigiu-se a Natal, a fim de
homiziar-se na residência de um cidadão influente naquela capital, fugindo à
responsabilidade e, inclusive, furtando-se a prestar novos depoimentos á
Polícia. Repórteres, fotógrafos e
correspondentes de jornais do Sul radicados em Natal, estão sendo impedidos de
entrevistar-se com o médico. Os federais, por sua vez, estão tentando descobrir
o local onde se encontra o acusado. Edmar Nunes Leitão, ou “Antônio Letreiro”,
como vulgarmente é conhecido, denunciou, como mandantes da morte de Carlindo
Dantas, os médicos Osvaldo Lobo e Pedro Militão (assassinado no ano passado),
além de um coronel da Polícia Militar do Rio Grande do Norte.
VIÚVA PRESENTE
Edmar vai para Natal, segundo deixou
claro, com “a finalidade de resolver esta questão”. Além de vários
interrogatórios a que será submetido, “Antônio Letreiro” será acareado com o
médico Osvaldo Lobo, com o sargento Antônio Libório e com a viúva do médico
Pedro Militão, que também já se encontra era Natal para prestar informações aos
federais, acerca da chacina de que foi vítima o seu marido, que por sua vez foi
acusado de mandar matar Carlindo Dantas. Edmar Leitão, por outro lado, voltará
a avistar-se com pistoleiros e empreiteiros do “Sindicato do Crime” da Paraíba.
Todos os pistoleiros e “coiteiros” dos bandidos, presos recentemente em
fazendas paraibanas, serão acareados com Edmar, a fim de que seja estabelecido
o elo entre os crimes praticados naquele Estado e também no Rio Grande do
Norte. As acareações terão início hoje, em Natal, com a presença do delegado
regional da Polícia Federal, Sr. Júlio Freire de Revoredo, além dos agentes
Otávio Ruas, Mair de Oliveira, Júlio Teixeira e outros.

Antiga cadeia de Pombal, ainda dos
tempos do Império. Quem desse local fugiu foi o cangaceiro Jesuíno Brilhante.
POMBAL ERA “QUARTEL GENERAL ” DO CRIME
JOÃO PESSOA (De Raimundo Carrero e
Maurício Coutinho, enviados especiais) — No depoimento que prestou à Polícia
Federal da Paraíba o pistoleiro Levi Olímpio, apontado como um dos principais
membros do “Sindicato do Crime” tende agido, inclusive, como empresário para os
crimes de Edmar Leitão, preso no Ceará, negou que tivesse até o momento
praticado qualquer crime. Mas confirmou a existência do “Sindicato”. Disse ainda que a reunião para o
assassinato do médico rio-grandense, Carlindo de Sousa Dantas, realizou-se na
casa de um dos coiteiros do grupo, na cidade de Pombal, não tendo precisado o
nome. Negou que alguém recebesse dinheiro para os crimes. Acrescentando: “As
mortes eram feitas por amizade aos mandantes ou por prazer, nunca por
dinheiro”.

MORTE DO DEPUTADO
“Posso acrescentar ainda — disse —
que Antônio Letreiro” foi “peitado” pelo deputado e coronel José Alves Lira,
para matar o também deputado coronel Luiz de Barros”.
Na Paraíba, Edmar Leitão, por
questões de segurança, fazia se passar por “Antônio”, assim como seu irmão José
Maria, por “Ednaldo”; Acusou este último de ter assassinado em São Bento do
Bofete, na Bahia, o cidadão conhecido por “Neném Leiteiro”.
POMBAL
Pombal, a cidade do terror, foi
apontada por Levi Olímpio, como o quartel general do “Sindicato da Crime”. Na
extensão dessa cidade, todo fazendeiro, pobre ou rico, colaborava com os
membros do “Sindicato”, uns por cumplicidade (coiteiros), outros por medo. Embora
Levi tenha negado que recebesse dinheiro com os crimes, a polícia acredita que
ele detém em seu poder uma verdadeira máquina montada para morte contra
pagamento.
CIGANO BITÓ
Entre os coiteiros apontados por Levi
Olímpio, dois nomes são completamente desconhecidos da polícia, e parecem
criação do pistoleiro, na esperança de esconder o nome de algum amigo seu. São
eles: “Cigano Bitó” e “Dedé Boiadeiro”. “Cigano Bitó”, segundo afirmou Levi, é
fazendeiro em Campina Grande, embora até bem pouco tempo fosse um “pobre diabo,
não ostentasse nenhuma riqueza”. Quanto a “Dedé Boiadeiro”, não soube
acrescentar nada, afirmando apenas “uma pessoa boa, mas muito perigosa”.
FEDERAIS ADMITEM QUE BANDIDOS FORMAVAM
ORGANIZAÇÃO PODEROSA
JOÃO PESSOA (De Raimundo Carrero,
Maurício Coutinho e Teobaldo Landim, enviados especiais) — A descoberta de como
funcionava o “Sindicato do Crime”, começa a estarrecer o povo desta cidade. A
própria polícia mostra-se impressionada, pois não imaginava ser o “Sindicato”
uma organização de tamanha amplitude. Os membros do “Sindicato do Crime”, não
somente matavam, como ainda fabricavam dinheiro e por cima, realizavam
casamentos. Dentro da organização existia até posições hierárquicas, pelo
menos, por questão de segurança. O chefe maior era o mandante; depois vinha o empresário; a seguir
o contato; e finalmente o assassino. O primeiro
mandava eliminar o inimigo e pagava pela execução; o segundo ficava com a
missão de conseguir um bom pistoleiro(o assassino), que tivesse boa pontaria: o
contato, encarregava-se de saber como andavam as coisas; o último executava o
crime conforme o preço que pedisse, Exigia-se muita segurança, honestidade e
pouco conhecimento com a Polícia.
CASAMENTO
Até casamento o “Sindicato” fazia. O
mais importante deles, foi o de Edmar Leitão (preso cm Fortaleza), também
conhecido por “Zé Letreiro” e “Antônio”. Edmar vivia aperreando Levi para
casar. Já tinha uma noiva; Rosa Pereira. Como gostava muito dela queria casar e
abandonar sua vida de crimes. Todos os dias fazia o mesmo pedido e insistia
muito. Levi Olímpio não sabia o que fazer; Edmar era muito procurado pela
polícia do Estado e seria perigoso levar um padre para a fazenda. Um juiz, pior
ainda. Não era nem para se pensar. O que fazer então? Mas Edmar vivia insistindo.
E agora até ameaçava matá-lo se não conseguisse, imediatamente, um padre. Um
dia indo na cidade de Pombal, mandou o motorista do carro em que viajava vestir
uma batina, arranjou uns papéis para servir de documento, e mais dois padrinhos
e fez o casamento. Levi assegura que nem o próprio Edmar sabe disso.
EDMAR E LEVI VÃO SE AVISTAR CARA O CARA
JOÃO PESSOA (De Raimundo Carrero e
Maurício Coutinho, enviados especiais) — O pistoleiro Levi Olímpio Ferreira,
pessoa importante dentro do “Sindicato do Crime”, estará seguindo, hoje, para
Natal, para um encontro com Edmar Leitão o “Antônio Letreiro”, que virá de
Fortaleza, Ceará. Levi Olímpio seguirá fortemente
escoltado por policiais da Polícia Federal, em horário não divulgado, pois
teme-se um atentado. A vida de Levi é importante para que se possa desvendar
muita coisa que ainda está escondida, na existência do “Sindicato”.
DINHEIRO FALSO
A polícia paraibana continua
investigando a denúncia de que os participantes do “Sindicato do Crime” teriam
diversas máquinas de fabricar dinheiro. Dessas máquinas eram extraída as
cédulas para pagamento aos pistoleiros. Já foram realizadas diversas batidas
nas fazendas dos coiteiros apontados por Levi Olímpio Ferreira, nada sendo
encontrado. Enquanto será feito o encontro dos assassinos Levi e Edmar, em
Caicó. A Polícia Federal continuará suas investigações, acreditando-se que
qualquer novidade possa surgir de um instante para outro.

NECO DA IMACULADA
Noticia-se, ainda nesta cidade, que o
pistoleiro Neco da Imaculada, um dos mais perigosos do Nordeste, foi preso numa
cidade do interior paraibano, ninguém, no entanto, sabe precisar o local. Neco da Imaculada é acusado de mais
de 20 crimes bárbaros a serviço de poderosos donos de terras e políticos
influentes. Os agentes federais admitem, por outro lado, que Neco da Imaculada
esteja envolvido em cinco crimes ocorridos era Caicó.
Sabe-se, até agora, que
das chacinas ali ocorridas, somente as que foram vítimas Carlindo Dantas e o
industrial Aníbal Macedo estão praticamente esclarecidas. Edmar Leitão seria o
autor das mortes dos dois cidadãos, muito embora os crimes de que foram vítimas
os médicos Onaldo Queiroz e Pedro Militão, além do jovem Aníbal, filho do
industrial Aníbal Macedo, estão sem solução, admitindo-se que Neco da Imaculada
seja autor de um deles. Isto será minuciosamente investigado
pelos federais, a partir do momento em que as diligencias forem prosseguindo em
Caicó, principalmente agora com a presença, ali, do bandoleiro Edmar Leitão.
JORNAL DO COMÉRCIO, RECIFE, 28 DE ABRIL
DE 1970
FEDERAIS CAPTURAM BANDOLEIRO QUE
PRATICOU 20 ASSASSÍNIOS
JOÃO PESSOA (Sucursal) — Durante
diligências realizadas ontem, na cidade de Teixeira (PB), 12 agentes do
Departamento de Policia Federal efetuaram a prisão do bandoleiro Manoel Batista
de Araújo, o “Neco de Imaculada”, autor de 20 assassínios no Nordeste e
Juntamente com o pistoleiro Edmar Leitão, é responsável pelos últimos crimes
ocorridos em Caicó.
O profissional do gatilho que é
considerado um dos mais lendários e sanguinários, há alguns anos vive
exclusivamente a custa de coiteiros e ricos fazendeiros a quem prestou serviços
na execução de perversos crimes a exemplo do seu comparsa “Tonho do Letreiro”
que se acha recolhido em Fortaleza, depois de sua captura na cidade de Icó
(CE).
SADISMO
“Neco de Imaculada”, conforme afirmam
os marginais que o cercam nunca esconde o enorme sadismo e para provar que é um
homem mau, conta que Já eliminou 20 pessoas e cortou muito busto de mulheres,
alguns somente para ver a fisionomia de quem sente dores horríveis.
De acordo com as Informações em poder
das autoridades policiais a área de ação do bandoleiro sempre foi no interior
do Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Ceará, onde cumpriu contratos
mediante elevadas importâncias para eliminar inimigos dos mandantes, dependendo
da posição social das vitimas e poder econômico dos contratantes dos crimes.
ESQUARTEJA, TAMBÉM
Os dois últimos homicídios por ele
praticados, verificaram-se há cerca de 45 dias, no Interior cearense, onde
matou e esquartejou um casal de Jovens namorados, repetindo o que anteriormente
havia feito com uma amante que prometeu abandoná-lo para viver com outro homem.
De conformidade ainda com as informações transmitidas pelas autoridades
policiais o bandoleiro ora detido na cidade de Teixeira, formava com Edmar
Nunes Leitão a dupla de bandidos mais procurada para execução de assassínios,
não só pela excelente pontaria que possui, mas, sobretudo em decorrência de não
deixar pista.
A ÚLTIMA PRISÃO
A última vez que “Neco de
Imaculada” esteve sendo interrogado pelas autoridades, foi no dia 30 de março
do corrente ano quando sequestrou a Jovem Maria José dos Santos, no sitio Saquinho,
no interior paraibano, a quem infelicitou nos arredores de Pombal. Durante a resistência oferecida, como
castigo, o bandoleiro a deixou despida diversos dias sob o sol ardente da
caatinga e, além de sucessivas surras, foi arrastada sobre cardeiros e proibida
de beber água, até ceder aos Intentos do sequestrador.
QUASE LOUCA
No final de suas declarações
fornecidas a polícia, a jovem acrescentou que, de certa feita, ele amarrou as
suas mãos com o cinturão, lhe cortou a barriga a faca e, não satisfeito, a
arrastou pelo chão sobre pedras, paus e espinhos até cansar. Foi nessa oportunidade que, pensando
que a Jovem se achava morta e não desacordada, ele a abandonou e fugiu. No dia
seguinte, após recobrar os sentidos, a moça, quase louca, saiu rastejando até que
encontrou um casal de agricultores, o qual penalizado de sua situação a levou a
um hospital, onde ela pastou diversos dias internada.

FAZENDEIRO QUERIA MATAR PISTOLEIRO
Em depoimento prestado a Polícia
Federal, o fazendeiro Levi Olímpio, preso na semana passada juntamente com
outros mandantes de crimes, confessou que pertencia ao Sindicato da Morte, contratou pistoleiros para eliminar
Inimigos e diversas vezes tentou matar o bandoleiro Tonho do leiteiro
envenenado, porque ele sabia demais. O rico agricultor, a quem é atribuída a
responsabilidade por uma série de crimes, esclareceu também que há multo tempo
pertence à organização que espalha o terror em diversas regiões do país,
especialmente no Nordeste, onde nos últimos anos profissionais do gatilho
derrubaram indefesos cidadãos.
APONTADO POR LETREIRO
O fazendeiro Levi Olímpio, em virtude
de denúncias transmitidas as autoridades pelo pistoleiro profissional Edmar
Nunes Leitão, o Tonho do Letreiro, como é conhecido entre os integrantes do
Sindicato da Morte, foi detido na semana passada no município de Pombal,
juntamente com os criadores Antônio Pereira, Zeca Mãezinha e Francisco de
Assis. No transcorrer da gigantesca operação que visava desmantelar a força da
organização criminosa atuante nos Estados do Ceará, Alagoas, Rio Grande do
Norte e Paraíba, os agente do Departamento de Polícia Federal conseguiram
também apreender numerosas arma s e farta munição principalmente na propriedade
pertencente a Levi Olímpio.
SABIA DEMAIS
Por mais de uma vez, segundo revelou
o fazendeiro, verificando que Tonho do Leiteiro sabia demais a respeito de sua
vida e futuramente poderia complicá-lo, fato que constantemente se observa
entre mandantes de crimes e profissionais do gatilho, tentou matá-lo
envenenado. Entretanto, muito hábil e desconfiado o bandoleiro sempre recusou
fazer refeições e tomar bebidas em sua fazenda, fato que fez ruir todos os seus
planos. Agora, em decorrência da delação do bandido, teve o seu nome ligado aos
recentes acontecimentos, inclusive com provas difíceis de serem pelo menos
atenuadas.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, TERÇA-FEIRA, 29
DE ABRIL DE 1970. PISTOLEIRO CHEGA A NATAL ESCOLTADO POR
FEDERAIS
NATAL (Gledson Oliveira e Maurício
Coutinho enviadosespeciais) — O bandoleiro Edmar Nunes Leitão, que
chegou ontem fortemente escoltado a esta capital, deverá ser acareado hoje com
o coiteiro Levi Olímpio e o tenente Antônio Libório. O oficial está preso no
Quartel da Polícia, em Natal, como autor intelectual da morte do medico Pedro
Militão, uma das vítimas dos crimes ocorridos em Caicó.
Edmar chegou a Natal exatamente às 7
horas, escoltado por agentes federais que não permitiram o acesso de repórteres
no aeroporto Augusto Severo. Nosso fotógrafo, inclusive, foi solicitado a
deixar o “hall” do aeroporto, momentos antes do pouso do Boeing da VASP. Embora
discreto, o aparato policial foi dos mais rigorosos temendo se pela vida do
famigerado pistoleiro.
COM MEDO
Edmar ao ser conduzido a Rural Willys
da Polícia Federal, placa 2-66 85, que desde às 6 horas se encontrava na pista
do Augusto Severo, mostrava-se nervoso e assustado, temendo ser assassinado
pelos seus inimigos do “Sindicato do Crime” que ainda estão soltos no Rio
Grande do Norte, embora já denunciados nos depoimentos do marginal. O aparelho da VASP pousou distante a
fim de possibilitar aos federais o cerco do pistoleiro. Três agentes entraram
na aeronave e o algemaram, enquanto mais dois cercavam no quando desciam a
escada do avião em direção a Rural Willys, estacionada frente ao aparelho,
aguardando a descida de Edmar, que, propositadamente foi o ultimo passageiro a
deixar o Boeing.
Em seguida ele foi levado para a sede
da Polícia Federal, Rua Vigário Bartolomeu, 581, sendo de Ia transferido para o
Quartel da Polícia Militar onde ficou incomunicável. Hoje, Edmar deverá avistar
se com o Sr. Júlio Freire Revoredo, que se deslocou do Recife a fim de
acompanhar, em Natal, as investigações que estão se processando. O delegado
regional da Polícia Federal chegou a esta capital por volta das 15 horas
evitando manter contato com a imprensa. Não quis revelar, inclusive, onde Edmar
será interrogado no dia de hoje, mas admite-se que os trabalhos serão
realizados na Polícia Militar, Iocal mais seguro para evitar um possível
atentado contra a vida do bandoleiro.

VIU SÔ
O médico e deputado Carlindo de Souza
Dantas, abatido pelo pistoleiro Edmar Nunes Leitão, na noite de 28 de outubro
de 1967, defronte ao Caicó Esporte Clube, vem sendo apontado como o homem que
matou, sozinho, o diretor do SESP daquela cidade, médico Onaldo Pereira de
Queiroz, crime ocorrido na madrugada de 28 para 29 de junho de 1968. O doutor
Onaldo, na noite do crime, após tomar alguns drinques com amigos num
restaurante daquela cidade, dirigiu-se ao seus aposentos no posto de saúde,
onde ficou a descansar numa rede. A noite era fria. Checou a tirar uma soneca,
mas despeitou ao ouvir um tiro.
O CRIME
Notou então que a iluminação da rua
fora apagada com a quebra da luminária de um poste que ficava a uns 6 metros de
onde estava. Olhou em seu redor e nada viu ou ouviu. Voltou a deitar-se. Um
minuto depois ouviu outro disparo, desta vez contra a lâmpada que estava no
alpendre do terraço. Não teve tempo de levantar-se. Um
terceiro tiro trespassou-lhe o crâneo, matando-o instantaneamente.
Ninguém viu
o criminoso, o médico estava só. No chão ficou uma poça de sangue que ia
escorrendo pela calçada, enquanto a cabeça da vítima pendia da rede. Onaldo, um jovem médico de 28 anos,
gozava de grande prestígio na classe e junto à população. A sua fama corria o
Estado, a ponto do ganhar o cargo de diretor do SESP. A nomeação veio estarrecer
e causar inveja a muita gente, inclusive ao Dr. Carlindo Dantas, que sempre
pleiteava o lugar. No dia da nomeação houve certo tumulto na cidade, provocado
pelo deputado que tinha um temperamento explosivo, razão porque gostava de
bebericar na cidade, onde, também, era, enormemente conceituado como bom médico
e líder político.
PUNIDO
Carlindo tempos atrás, fora diretor
do SESP. Algumas irregularidades afastaram-no das funções. Muito pior:
trabalhando no posto subordinado ao médico Onaldo Queiroz, Carlindo voltou a
cometer outros desatinos, a ponto de ser novamente por este punido. Isto
inflamou os ânimos e provocou, mais ainda, a inveja. As autoridades que investigam o crime
estão propensas a admitir esta hipótese: um acerto de contas em função do orgulho
profissional de Carlindo. Vão mais além, fixando-se na suposição de o deputado
ter se ressentido porque tinha sido substituído por Onaldo Queiroz. E, assim,
sem auxílio de pistoleiro, foi sozinho dar vasão aos recalques que lhe tomaram
conta: matar o médico Onaldo friamente, utilizando-se de um revólver calibre 38
duplo.
O LÍDER
Desde tão Carlindo passou a ser visto
como criminoso. Todos o apontavam como assassino do colega do SESP, por
questões de ciúme e Inveja. Mesmo assim Carlindo continuou sua campanha
política, enquanto prosseguiam as investigações que culminaram com a decretação
sua custódia preventiva. 33 anos, moço, líder em Caicó pela maneira de tratar
seus clientes, a quem, inclusive, receitava de graça. Era querido e estimado
por todos. No Estado o seu nome passou a ser uma bandeira em defesa dos
humildes. No período da decretação da prisão
preventiva, ele, acusado de assassino, já era visto como um virtual candidato a
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Foi preso. Conseguiu a liberdade
pelo Tribunal de Justiça, saindo vitorioso nas urnas. Então abriu frente de
combate contra seus acusadores e inimigos, entre os quais o médico Pedro
Militão e Osvaldo Lobo.

A MORTE
Eleito deputado, Carlindo voltou a
ofensiva, combatendo os que lhe acusavam e prometendo apontar os verdadeiros
assassinos de Onaldo Queiroz. Isto muitas vezes, da tribuna da Assembleia, ele,
prometia fazer. E fez. No dia 28 de outubro de 1967, um ano
após a morte do diretor de SESP, Carlindo de Souza Dantas, naquela noite,
dirigiu-se a um bar e publicamente disse que “eles não tem para onde fugir, vou
apontá-los, muito breve”. Passaram-se cinco dias. Carlindo no volante de um
Aero-Willys, ia participar de uma festa no Caicó Esporte Clube. Ao entrar foi
interceptado pelo pistoleiro José Maria, irmão de Edmar Leitão:
A história de Edmar Nunes Leitão foi
transformada em cordel pelo poeta João Domingos da Silva. O pistoleiro seria
morto em uma emboscada, anos depois, após fugir da penitenciária de Natal. “Doutor, o Senhor deixou a luz do
carro acessa. Carlindo voltou e ficou de frente para Edmar que, de um DKW
passou a disparar incesantemente com dois 38, enquanto “Zé Maria” fazia a
cobertura, disparando a esmo, indo três balas atingir o industrial Aníbal
Macedo, que, naquela noite — eram 23 horas — acompanhava o deputado. Ambos
caíram na calçada, morrendo tempos depois.
MAIS DUAS MORTES
O jovem Nilson Macedo, filho do
industrial Aníbal Macedo, em dezembro do ano passado foi assassinado. Para
vingar a morte do pai e do irmão, o jovem Antônio Macedo, “Toinho”,
descarregava toda a carga do seu revólver contra o médico Pedro Militão, quando
este entrava na Escola Normal de Caicó, onde era professor.
Estes crimes estão impunes. A Polícia
Federal investiga a possível participação de Edmar e alguns de seus comparsas
nas chacinas. Até agora os federais obtiveram valiosas informações que estão
sendo mantidas em sigilo, evitando-se a divulgação pela imprensa. Sabe-se que
três inquéritos estão concluídos nos quais estão relacionados os matadores de
Nilson Macedo e Pedro Militão.