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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

LUTO NA POESIA DO RIO GRANDE DO NORTE: FALECEU HOJE JOSÉ LUCAS DE BARROS

Faleceu hoje, aos 81 anos, o poeta e trovador José Lucas de Barros, paraibano de Condado, mas registrado e batizado em Serra Negra do Norte.
Ele convalescia de um câncer de pulmão há cerca de um ano, e estava internado há uma semana no Hospital São Lucas, em Natal. Advogado, poeta, trovador, escritor e pesquisador  de literatura popular, publicou 30 títulos entre cordeis e livros e deixou uma vasta produção ainda inédita. Zé Lucas era membro da União Brasileira de Trovadores, do Clube dos Trovadores do Seridó, Academia de Trovas do Rio Grande do Norte, Associação Estadual de Poetas Populares, Academia Parnamirinense de Letras, Instituto Cultural do Oeste Potiguar, Academia Curraisnovense de Letras e Academia Paranaense de Letras, esta última como sócio-correspondente.

Era funcionário aposentado do Banco do Brasil, instituição pela qual trabalhou durante muitos anos em Caicó, cidade que amava e cultivava enorme círculo de amizades. O último livro publicado, Pelas Trilhas do Meu Chão, foi em comemoração aos seus 80 anos de vida e reuniu parte de sua produção poética ao longo dos anos, que o levaram a ganhar concursos de trovas regionais e nacionais. Zé Lucas era casado com Rosileide Izídrio Lopes de Barros, em segundas núpcias contraídas em 2007 depois de ficar viúvo de Celestina Batista de Faria Barros, e deixou cinco filhos e 11 netos.

O velório será realizado a partir das 22h de hoje, no Centro de Velórios da Rua São José, em Natal, próximo ao Corpo de Bombeiros.
Amanhã haverá missa de corpo presente às 10h no Centro de Velórios, depois sai cortejo fúnebre para o sepultamento no Cemitério Morada da Paz, em Emaús, Parnamirim, às 12h. No dia 19 de julho de 2014, na Casa da Cultura em Caicó durante a Festa de Sant'Ana, ele autografou um exemplar do livro Pelas Trilhas do Meu Chão para Roberto Fontes, um dos editores do Bar de Ferreirinha, que ele conhecia desde menino, da vizinhança na Praça da Liberdade. Na obra, o texto inaugural em prosa 'Como vejo a  poesia', pode ser considerado um poema, por sua delicadeza e sensibilidade.

JOSÉ LUCAS DE BARROS, filho de Joaquim Lucas de Araújo e D. Carmina Maria do Carmo, nasceu em Condado/PB, aos 12 de março de 1934 mas foi registrado e batizado em Serra Negra do Norte/RN. Autodidata do primário, fez o curso secundário em Caicó e o superior em Caruaru/PE, com colação de grau em 1980, em Direito. Segundo sua própria definição, "confabula com as musas desde menino". Em 1974 publicou "Cantigas do Meu Destino" (trovas) e, em 1985, "Repentes e Desafios". A partir daí não parou mais de editar obras. É aposentado pelo Banco do Brasil. Um dos dirigentes mais atuantes da ATRN: Academia de Trovas do Rio Grande do Norte. Extremamente habilidoso em todos os gêneros poéticos, em 2014 conquistou o honroso título de "Magnífico Trovador" em Nova Friburgo, na categoria "trovas líricas/filosóficas".

Quando a jangada flutua
sobre as águas, ao luar,
é uma lágrima da lua
nos olhos verdes do mar.

Sei que deste mundo lindo
vou sair, só não sei quando,
mas quero morrer dormindo
para entrar no céu sonhando.

O cego, com dedos certos,
tange a sanfona dorida,
e eu, com dois olhos abertos,
erro nas teclas da vida.

Para abraçar-te, menina,
meu anseio é tão profundo,
que a distância de uma esquina        (Bandeirantes 1999)
parece uma volta ao mundo.

Sem ter da mulher o afeto,
não tenho felicidade.
Homem nenhum é completo
quando lhe falta a metade.

O amor e o sonho, querida,
são graças que Deus nos deu...
Quem não ama não tem vida,
quem não sonha já morreu.

-Oh! Que demora sem fim
para tua decisão!
Chegou tão tarde o teu sim,
que já parecia um não!

Quando o tempo se levanta
no sertão, e a seca vem,
não morre somente a planta,
morre a esperança também!

Como é belo ver a planta
que abre flores nos caminhos,
nas horas em que Deus canta
pela voz dos passarinhos!

Vou brincar com pirilampos
e beijar as flores nuas
pra ver se encontro nos campos
a paz que fugiu das ruas!

Em muitas ocasiões,
só somos bons elementos
porque certas intenções
não passam de pensamentos.

-O perdão é que é o sinal
de perfeita lucidez...
Quem se vinga faz o mal
do jeito que alguém lhe fez.

Quem, na mocidade, trunca
os sonhos de amor e paz,
talvez não conserte nunca
o estrago que o tempo faz.

A menina seminua,
presa, disse ao detetive:
– eu não me queixo da rua,
mas do lar que nunca tive!

Mais vale da vida o espelho
que muitos sermões no templo...
Em vez de nos dar conselho,
seu padre, nos dê o exemplo!

Minha mulher reza tanto
aos pés de Nosso Senhor,
que eu vou precisar ser santo
pra merecer seu amor.

Quando estou em meu terraço,         (trova inserida em livro de literatura infantil)
olhando os astros risonhos,
a Lua atravessa o espaço,
puxando o carro dos sonhos!

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