
Há três anos, a cidade de Helsinque, capital
da Finlândia, decidiu dar um passo rumo à “escola do futuro”: adotar um
sistema em que alunos estudem, para além das disciplinas tradicionais, a
resolução de problemas abordando conhecimentos multidisciplinares. Para a
secretária de educação da cidade, Marjo Kyllönen, a experiência
reaproximou as crianças da escola. “Um estudante nosso, de 11 anos, entrevistou seus
colegas e perguntou o que eles achavam do nosso novo sistema. E, acredite, um
colega deu uma resposta que surpreendeu: ‘O nosso sistema é mais legal, porque
nós é que estamos no comando do processo, não são mais os professores que nos
perguntam, somos nós que fazemos as perguntas'”, afirmou a especialista durante
participação no fórum Amarelas ao
Vivo, versão de palco das tradicionais Páginas Amarelas de VEJA.
Entrevistada pela redatora-chefe Thaís Oyama, Marjo
explicou o que é a tal “educação baseada em fenômenos”, que impressionou
especialistas ao redor do mundo. “Em vez de ter apenas aulas separadas de
diferentes matérias, adotamos uma abordagem holística, em que os alunos usam as
diversas abordagens, de diversas matérias, para resolver um problema do dia a
dia. Ainda temos matérias tradicionais, mas, apesar delas, adotamos as relações
da vida real, baseadas nas experiências dos alunos”, explicou. Em Helsinque,
além de história e geografia, mudanças climáticas e os desafios da União
Europeia são tópicos estudados a partir do prisma de diversas áreas do
conhecimento. A educadora conta que encontrou resistência para as
mudanças, já que, nas últimas décadas, a Finlândia ficou três vezes em primeiro
lugar no exame do PISA, prova que estabelece o padrão mundial em educação. “É mais fácil você fazer aquilo que já está
confortável, mas Helsinque é uma cidade em que 20% dos alunos, aproximadamente,
são imigrantes. Nossos professores têm reportado que, hoje, ser professor
demanda mais, porque você precisa abarcar uma diversidade maior. Entenderam
que, se precisamos preparar nossos alunos para o futuro, não conseguiremos
fazer isso dentro do sistema tradicional”, relembra.
A educadora diz que não é possível “copiar e colar”
um sistema, já que cada país tem a sua realidade, mas que dá para aprender com
boas práticas e adaptá-las às condições locais. No entanto, defende um maior
investimento na capacitação dos docentes e na valorização da carreira como
necessidade básica para um bom sistema de educação. “Educação para mim nunca é um custo, é um
investimento no futuro. Se quisermos ser uma sociedade bem-sucedida no futuro,
precisamos investir forte na educação infantil e na educação básica”, defendeu
a professora. Para ela, a formação docente necessita, para além da abordagem
acadêmica, de uma forte educação prática: “Quando os professores estão em fase
de treinamento, eles precisam de uma experiência, precisam passar um tempo na
escola.” Para a especialista, é preciso um profissional mais experiente para
prepará-los.
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