
O presidente Michel Temer (PMDB), em
pronunciamento no Planalto (NBR/Reprodução)
O presidente Michel Temer (PMDB) atacou duramente neste sábado, em
pronunciamento oficial na TV, as acusações feitas pelo empresário Joesley Batista, da JBS,
desqualificou a conversa gravada pelo empresário em reunião com ele no Palácio
do Jaburu, afirmou que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento
do inquérito contra
ele e reafirmou que vai
continuar no cargo.
Em fala de
pouco mais de 12 minutos, ele citou evidências de que o áudio da reunião dele
com Joesley teve mais de 50 edições. “Essa gravação clandestina foi manipulada
e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos e, incluído no inquérito
sem a devida e adequada averiguação, levou muitas pessoas ao engano induzido e
trouxe grave crise ao Brasil”, afirmou em pronunciamento no Palácio do
Planalto.
Ele disse
que, em razão das dúvidas sobre a autenticidade das gravações, ele vai entrar
com um pedido no STF para arquivamento do inquérito aberto contra ele pelo
ministro Edson
Fachin após
pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que viu evidências de três crimes por
Temer: obstrução da Justiça, corrupção passiva e organização criminosa. “Por
isso, no dia de hoje, estamos entrando com petição no colendo STF para
suspender o inquérito proposto até que seja verificada em definitivo a
autenticidade da gravação clandestina”, disse.
No pronunciamento,
ele também criticou fortemente Joesley. “O autor do grampo está livre e
solto passeando pelas ruas de Nova York”, disse. “Não passou nem um dia na
cadeia, não foi preso, não foi julgado e não foi punido. E, pelo jeito, não
será”, disse. Ele também atacou o empresário por ter comprado grande quantidade
de dólares às vésperas da divulgação de sua delação. “Ele especulou contra a
moeda nacional”, afirmou.
De acordo
com Temer, o que Joesley fala sobre ele em sua delação premiada não está no
áudio entregue ao Ministério Público Federal. “O que ele fala em
seu depoimento não está no áudio. E que está no áudio mostra que ele estava
insatisfeito com o meu governo. Essa é a prova cabal de que meu governo não
estava aberto a ele”, afirma o presidente sobre as reclamações do empresário em
relação a demandas em órgãos do governo. Temer diz,
ainda, que “no caso central de sua delação [o pagamento de propina para
agilizar demanda no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica)], fica
patente o fracasso de sua ação”. “O Cade não decidiu a questão suscitada por
ele. O governo não atendeu aos seus pedidos”, disse. Para o
presidente, “não se sustenta a acusação de corrupção passiva”. Na delação,
Joesley afirma que pagou propina ao deputado federal Rodrigo Loures (PMDB-PR),
indicado por Temer para ser seu interlocutor nas demandas do empresário junto
ao governo. A propina seria para destravar uma questão no Cade envolvendo uma
termelétrica do grupo JBS em Cuiabá. Segundo
Temer, não só o Cade, mas outros órgãos do governo, como o BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico) e a Petrobras, fecharam as portas para
quem obtinha facilidades anteriormente. “Estamos acabando com os velhos tempos
da facilidade aos oportunistas e isso está incomodando muito”, afirmou o
presidente. “Estão querendo me tirar do governo para voltar aos velhos tempos
em que faziam tudo o que queriam.”
Visita noturna
Sobre ter
recebido o empresário à noite (por volta das 22h30), em sua residência oficial,
o Palácio do Jaburu, sem que a reunião constasse de sua agenda, ele disse que
não há irregularidade alguma. “Eu o ouvi à noite, assim como ouvi vários
empresários, intelectuais e outros setores no Palácio do Planalto, no Alvorada,
no Jaburu ou em São Paulo. Trabalho rotineiramente até depois da meia-noite”,
disse.
Em relação
à acusação de que teria assentido e dado aval à compra do silêncio, por meio de
propina, do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ele disse que “não existe
isso na gravação, mesmo tendo sido ela adulterada”. “E não existe, porque nunca
comprei o silêncio de ninguém”, disse. “Nunca fiz nada para a obstrução do
Judiciário. Ou seja, houve falso testemunho à Justiça.”
Sobre o
fato de o empresário ter dito que havia conseguido ajuda de um procurador e de
dois juízes federais para suas causas e ele ter respondido “ótimo, ótimo”,
Temer afirma que achou que era bravata de Joesley. “Não acreditei na narrativa
do empresário de que ele tinha comprado juiz etc. Ele é um conhecido falastrão,
exagerado. Depois, disse [na delação] que tinha inventado essa história. Ou
seja, era fanfarronice”, afirmou.
Economia
Para ele, o
escândalo atrapalhou a retomada da economia que o seu governo vinha promovendo.
“O Brasil, que tinha saído da mais grave crise econômica de sua história,
vive agora dias de incerteza”, disse, citando a recuperação do PIB, o fim da
recessão e a queda da taxa de juros, além das reformas trabalhista e da
Previdência que vem tentando aprovar no Congresso. “Eles [empresários da JBS]
tentam macular, não só a reputação moral do presidente da República, mas tentam
invalidar esse país”, afirmou. No final, voltou a dizer que o havia dito no
primeiro pronunciamento após o escândalo, na quinta-feira: não vai renunciar ao
cargo. “O Brasil não sairá dos trilhos, vou continuar à frente do país’, disse.
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