
Se é de
água que o nordestino gosta, imagina então no Rio Grande do Norte,
onde 148 dos 167 municípios do estado (88%) estão em situação de
emergência por causa dos efeitos da seca. O estado vem de 7 anos seguidos de
escassez de chuvas – considerada a mais severa estiagem da história. Até quando
vai o sofrimento do sertanejo potiguar? Segundo o Ministério do Desenvolvimento
Regional (MDR), a solução está perto. E vem com a transposição do Rio São
Francisco. “As grandes estruturas
que conduzem as águas do Velho Chico no Eixo Norte estão com 96% de execução
física e deverão entrar em operação no segundo semestre de 2019.
Este é o eixo
que abastecerá municípios do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte”,
afirmou o MDR. Em meio às celebrações do
Dia Mundial da Água, comemorado nesta sexta-feira (22), o G1 procurou
gestores envolvidos com a situação para tratar sobre a solução para a falta do
precioso líquido. O Rio Grande do Norte está preparado para a transposição?
Quanto vai custar esta água? Quem vai pagar a conta?
Custos
De acordo com o Instituto
de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte (Igarn), o governo estadual tem
mantido constante contato com o MDR. “O ministro Gustavo Canuto veio ao nosso
estado e aqui tivemos uma audiência com a governadora Fátima Bezerra e com o
secretário estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) João
Maria Cavalcanti. Na ocasião, falamos da transposição e a governadora afirmou
que levaria essa agenda à Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene)
em abril para o tema ser tratado, em especial, o caso dos quatro estados que
irão receber as águas”, destacou Caramuru Paiva, diretor do Igar.
Até lá, de acordo com o
secretário João Maria Cavalcanti, ainda não há uma estimativa de valores. “É
preciso, primeiro, que a água chegue. Depois, pensamos em valores”, ressaltou.
“Pelo que entendemos, os valores da manutenção do Projeto de Integração do Rio
São Francisco (PISF) devem ser pagos pelos quatro estados que serão
beneficiados com a transposição, mas só quando todos estiverem de fato sendo
beneficiados. Defendemos um consórcio, incluindo uma participação do próprio
governo federal. Mas, tudo isso ainda está em debate”, emendou Caramuru.
Já o Ministério do
Desenvolvimento Regional, que também aguarda que estas questões sejam
esclarecidas, explica que a quantidade de água a ser utiliza e o valor dela
deverão ser estabelecidos por meio do Plano de Gestão Anual e validados pelo
Conselho Gestor do Sistema, mas já antecipou que as medidas necessárias à
operação comercial do PISF estão sendo discutidas com os governadores dos
estados contemplados. Por fim, o MDR lembra que
o Eixo Leste, que já está em funcionamento há dois anos – abastecendo 38
municípios pernambucanos e paraibanos – ainda não gerou custos aos governos
estaduais.
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Barragem de Oiticica, em Jucurutu, vai represar as águas do São Francisco que chegaram ao RN pelo Rio Piranhas/Açu — Foto: Anderson Barbosa e Fred Carvalho/G1
Preparação
Enquanto a transposição
não chega ao RN, Semarh e Igarn dizem que o governo estadual segue executando
obras estruturantes que permitirão ao estado uma melhor convivência com os
longos períodos de seca. O exemplo é a Barragem de Oiticica, em Jucurutu, que será
a primeira represa a receber as águas do São Francisco em solo potiguar. As
obras de construção do reservatório, que terá capacidade para até 600 milhões
de metros cúbicos de água, estão 72% prontas. “A previsão é de entregarmos a
barragem pronta até o final do ano”, afirmou Cavalcanti.
“Oiticica é a redenção do
Rio Grande do Norte”, disse o titular da Semarh. “Com ela, poderemos
abastecer todos os municípios da região Seridó do estado, uma das que mais
sofre com a falta das chuvas. Inclusive, faremos a distribuição da água
armazenada na barragem de Oiticica por meio de 300 quilômetros de adutoras, e
isso será feito através do Projeto Seridó, que nos foi confirmado pelo governo
federal como prioridade do Plano Nacional de Segurança Hídrica”, acrescentou o
secretário. “Também temos a adutora
Umari-Campo Grande, que atenderá as cidades do médio Oeste, e o projeto da
adutora Apodi-Mossoró e Apodi-Pau dos Ferros, objetos de conversa que tivemos
com a Agência Nacional de Águas (ANA). Além disso, para as cidades em colapso,
está mantida a operação com carros-pipa”, destacou Caramuru Paiva.
Projeto Seridó
O Projeto Seridó é fruto
de um convênio entre o governo estadual e a Agência Nacional de Águas (ANA) e
está em fase conclusão. Integrante do Plano Nacional de Segurança Hídrica, ele
visa garantir o abastecimento da região pelos próximos 50 anos com as águas do
Projeto de Integração do Rio São Francisco. O custo estimado para a execução da
obra é de R$ 150 milhões. A ideia é interligar as
adutoras já existentes com as que estão sendo projetadas, criando um grande
cinturão de águas e estruturando as cidades para que elas passem pelos períodos
de seca sem grandes transtornos.
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Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, maior reservatório do RN — Foto: Bruno Andrade
Infraestrutura
Hoje, cerca de 2,5
milhões de pessoas em 153 municípios do estado são abastecidas pela Companhia
de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern). Porém, apesar da expectativa
da chegada da transposição do São Francisco, a estatal ainda não definiu uma
meta de expansão. “Não existe uma meta
definida, porque essa expansão é feita de acordo com o crescimento
populacional. Para o Rio Grande do Norte, a transposição do São Francisco tem a
finalidade de trazer maior segurança hídrica, nos períodos de seca”, respondeu
a assessoria de comunicação da empresa.
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Barragem de Santa Cruz, em Apodi — Foto: Anderson Barbosa/G1
E tem mais: ainda de
acordo com a Caern, não é a transposição sozinha a solução para a escassez de
água no estado. “Não. A Caern e a Semarh estão trabalhando para viabilizar
obras que garantam a infraestrutura básica no estado. O Rio Grande do Norte
conta com um considerável sistema de adutoras, que cruza todo seu território,
mas ainda não atende o total da população. Essa infraestrutura básica vai
tornar possível uma melhoria no quadro”, pontuou.
A transposição
Segundo o Ministério do
Desenvolvimento Regional (MDR), o Projeto de Integração do Rio São Francisco
(PIRS) deve beneficiar 12 milhões de pessoas em 390 municípios nos estados de
Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Em território potiguar, 106
municípios devem ser agraciados quando o projeto estiver em plena operação.
Os dois eixos, Norte e
Leste, somam 477 quilômetros de canais e estruturas. O Eixo Leste foi entregue
em março de 2017, e desde então vem abastecendo cerca de 1 milhão de pessoas em
38 municípios da Paraíba e de Pernambuco. Já o Eixo Norte, no qual o RN está
inserido, está atualmente com 96% das obras concluídas e deverá começar a
receber as águas da transposição no segundo semestre de 2019. A previsão é do
próprio MDR. Para o atendimento da
população potiguar, o projeto prevê duas entradas de água no estado:
- Na primeira, a água
do São Francisco que passa por Cabrobó (PE) deve seguir até o reservatório
Engenheiro Ávidos, em Cajazeira (PB), e depois será levada naturalmente
pelo Rio Piranhas-Açu até entrar no Rio Grande do Norte pelo município de
Jardim de Piranhas, no Seridó. Na sequência, a água deverá ser armazenada
na Barragem de Oiticica, em Jucurutu, para depois seguir o curso do rio
até ser novamente represada na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves (maior
reservatório do RN), beneficiando dezenas de municípios e milhares de
pessoas nas regiões Seridó, Oeste e Central potiguar.
- Já a segunda
entrada, deve acontecer por meio da construção do chamado Ramal do Apodi,
por meio de canais que irão levar a água do reservatório Caiçara, na
Paraíba, até a barragem de Pau dos Ferros, no alto Oeste potiguar. Depois,
essa água deve seguir até a Barragem de Santa Cruz, no município de Apodi,
também beneficiando milhares de pessoas nas regiões do alto e médio Oeste.
É nesta região, inclusive, onde ficam as maiores fazendas de produção de
melão do estado. O RN é o maior exportador deste tipo de fruta do país.
FONTE: G1 RN
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