
O retorno do sarampo a regiões do Brasil,
contagiando principalmente adultos, fez com que a vacina tríplice viral
voltasse a entrar em evidência. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
alerta, entretanto, que a surpresa de parte da população adulta em relação à
necessidade de se vacinar comprova o desconhecimento em relação ao Calendário
Nacional de Vacinação. Vice-presidente da SBIm, Isabela Balalai informa que a
entidade criou um grupo multidisciplinar focado em como reverter essa situação. "Parece que está todo mundo descobrindo e
entendendo como uma coisa nova que o adulto tem que se vacinar. A vacina
tríplice viral está no calendário do adulto há anos, e parece novidade",
adverte ela. "Há uma questão cultural de que vacina é coisa de criança. A
gente aprendeu que precisa levar as crianças ao posto e não sabe que esse é só
o primeiro desafio. A população desconhece que existe um calendário de
vacinação rotineiro para o adulto". O contágio de sarampo traz uma preocupação
adicional para a SBIm, porque ele indica que existe a possibilidade de um
retorno da rubéola, doença que está erradicada no país. Como a imunização
contra ambas e também contra a caxumba é garantida com a mesma vacina, a
tríplice viral, Isabela Balalai afirma que o avanço do sarampo indica que a
imunização contra as três doenças está abaixo do ideal. "Se o vírus da
rubéola entrar no país, como é a mesma vacina, o cenário pode ser o
mesmo".
Com 37 anos, a securitária Ludmilla Tosoni conta
que não costuma atualizar sua caderneta de vacinação de adulto, que só recebeu
quando tomou a vacina de febre amarela, há dois anos. "A vacina da gripe
foi a última que tomei. É uma vacinação que acontece aqui no trabalho, em uma
campanha que eles fazem. Tomo pela facilidade", diz ela, que sabe que
precisa tomar a vacina da hepatite B e que pode encontrá-la gratuitamente no
posto de saúde. "A vacinação de adultos é mais displicente que a vacinação
de crianças. Quando se trata de crianças, as pessoas costumam ser mais
cuidadosas, mais atentas", reconhece. O Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da
Saúde pode ser consultado na internet. Adultos devem manter em dia as
imunizações de hepatite B, febre amarela, tríplice viral e dupla adulto (DT),
além da pneumocócica 23 valente para grupos específicos. A SBIm tem um
calendário mais amplo, que também pode ser conferido online, mas nem todas as vacinas que constam nele
podem ser obtidas gratuitamente no Sistema Único de Saúde.
Isabela Balalai reconhece que a responsabilidade de
comunicar o calendário de vacinação é do Ministério da Saúde e da Sociedade
Brasileira de Imunizações, mas acrescenta que é também dos médicos, que, na
avaliação da SBIm, não vêm cumprindo esse papel como poderiam. "Os médicos também precisam estar informados.
É outro desafio. O médico que atende adultos ainda não tem na rotina dele a
recomendação de vacina", diz ela, acrescentando que uma das conclusões do
grupo de trabalho foi a recomendação de investir mais na educação médica,
reforçando conteúdos sobre vacinação. A vacinação de adultos será um dos assuntos
discutidos na Jornada Nacional de Imunizações, que acontecerá nesta semana em
Fortaleza. O encontro de pesquisadores e especialistas, que começa quarta-feira
(4) e vai até sábado (7), tratará de outros desafios, como o combate às fake
news e boatos contra as vacinas.
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