
Natural de Caicó, município no sertão do Rio Grande do Norte, Rubinho, como é conhecido, veio para Brasília terminar os estudos básicos e “se aventurar” com o irmão mais velho há 44 anos e acabou se tornando dono de uma das casas de comida nordestina mais tradicionais do Distrito Federal. O Xique Xique leva o mesmo nome que um cactus da caatinga e está presente na 708 Norte e na 107 Sul, onde a especialidade é a carne de sol, com porção farta e regada à manteiga do sertão. A empreitada de Rubem Pereira de Lucena, 63 anos, teve início com outro negócio. “Eu comecei com um mercadinho na Asa Sul, a Mercearia Natal. Estava com oito unidades quando fechamos. A entrada de supermercados grandes tornou a situação difícil para os pequenos”, lembra. A falência, porém, trouxe aprendizado para empreender novamente.
Trabalhar na parte administrativa da Sadia durante um ano e meio foi outra experiência válida. “Aprendi muito sobre qualidade”, lembra. Em 1979, surgiu a vontade de abrir um restaurante. “Como sou nordestino, tive a ideia de montar essa carne de sol e, graças a Deus, está dando certo até hoje. A receita da carne não é só da minha família, é da minha cidade mesmo.” A primeira unidade foi a da Asa Norte — que, em 2009, mudou de bloco, mas continuou na mesma quadra. A casa na Asa Sul foi aberta um ano depois. “No local, ficava o Augusto Restaurante, que estava em dificuldades. Conversei com os proprietários e eles propuseram a venda. Aproveitei pratos do cardápio deles, como frango e filé”, conta.
“No começo foi muito difícil por falta de capital, por dificuldade de comprar mercadorias e de contratar pessoal. Trouxemos funcionários de Caicó para trabalhar aqui. As duas casas não começaram dando nem lucro nem prejuízo: os custos, pelo menos, empatavam com os ganhos.” O crescimento não demorou a vir. “Não tínhamos concorrência, mas quando o Xique Xique começou a ter um movimento bom, surgiram 21 casas de carne de sol concorrentes. Fomos superando todas, e hoje sobraram umas duas ou três”, diz.
Os funcionários
Rubem conta que mantém um contato muito próximo com os 44 funcionários da casa na Asa Sul e dos 38 na Asa Norte. Apesar disso, reconhece que há dificuldade para encontrar mão de obra qualificada. “É por isso que 90% deles começam de baixo, lavando pratos, e vão sendo preparados por nós até se tornarem cozinheiros. Eles participam de cursos, têm reuniões com uma nutricionista…” Apesar de dizer que ser nordestino não é pré-requisito para a contratação, Rubem calcula que 90% dos colaboradores vêm do Nordeste. “Hoje não faz mais diferença porque somos conhecidos pela comida típica. Muitos têm mais de 20 anos de casa.”
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O verdadeiro carro-chefe do restaurante, a carne de sol completa, com paçoca, feijão de corda, manteiga de garrafa e cheiro verde, é responsável por 80% das vendas. A especialidade vem de grandes fornecedores, mas é “maturada” no próprio restaurante. As quentinhas — que são a carne de sol em prato executivo — também são muito populares. Entre os petiscos mais pedidos, estão queijo coalho e mandioca frita. As casas atendem cerca de 50 clientes por dia, além de receberem 40 pedidos para entrega diariamente. “Tem gente que vem de todo canto, Valparaíso, Sobradinho, todas as partes do DF e até do exterior. Durante a semana, o maior movimento é de funcionários públicos e bancários.”
Para satisfazer a freguesia, segundo Rubem, o segredo está na qualidade e na presença constante. “O olho do dono faz diferença em tudo: na hora de comprar os melhores produtos, de acompanhar o serviço. Um gerente de fora não olha tanto quanto alguém de casa”, diz. Para ele, o sucesso “depende também de ter sorte e de trabalhar muito.”
Ajuda de família
Rubem sempre contou com o apoio da esposa, Maria do Céo, 57 anos. “Ela sempre ajudou em tudo, além de cuidar dos filhos.” O potiguar conta também com dois irmãos que são gerentes das duas casas. Os filhos também se juntaram ao pai. Robson, 28, fica à frente do restaurante da Asa Norte, enquanto Rúbia, 34, cuida da parte financeira das duas casas. Apenas a filha do meio, Thais, 30, não atua nos negócios do pai. “Trabalhar com gente da família é mais fácil porque tem confiança envolvida. Quando eu viajo, eles cuidam de tudo e vice-versa”, explica Rubem. “Meu filho Robson fica me perturbando para abrir mais uma unidade, mas, por enquanto, não penso em abrir outra casa”, diz. Aposentadoria também não está nos planos. “Não quero ficar com essa batalha pesada de hoje, mas também não quero parar totalmente.”
“O olho do dono faz diferença em tudo: na hora de comprar os melhores produtos, de acompanhar o serviço”
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