A atual gestão dos Correios no
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve, de janeiro a
setembro, o maior prejuízo da história da estatal no período. Foram R$ 2
bilhões. Se continuar nesse ritmo, deve
superar o deficit de 2015, de R$ 2,1 bilhões, registrados quando Dilma Rousseff
(PT) era a titular do Palácio do Planalto. O presidente dos Correios é o
advogado Fabiano Silva dos Santos, 47 anos, indicado ao cargo pelo
Prerrogativas, grupo de advogados simpáticos ao presidente Lula que atuou e
segue atuando fortemente contra as acusações de processos da Lava Jato. Fabiano é do Prerrô, como o
coletivo é chamado, e tem relação de amizade com o deputado federal Zeca Dirceu
(PT-PR), filho do ex-ministro José Dirceu. É conhecido como o“churrasqueiro de
Lula”. O grupo de advogados fará sua festa de fim de ano em 6 de dezembro com a
presença de Lula e da primeira-dama, Janja, que será homenageada.
Por causa da deterioração das
contas, os Correios decretaram em outubro um teto de gastos para o ano, de R$
21,96 bilhões. A definição foi informada aos gestores em 11 de outubro. O
documento foi colocado sob sigilo. O Poder360 teve acesso. Os Correios têm
84.700 funcionários. Foram determinadas outras 3
ações para reduzir o rombo nas contas:
-suspender contratações de
pessoal terceirizado por 120 dias – apesar de ter milhares de funcionários, os
Correios costumam contratar mão de obra extra em algumas circunstâncias. Essa
prática está suspensa;
-cortar preço de contratos –
renegociar e reduzir, no mínimo, 10% dos valores dos acordos que estão em
vigor;
-Encerramento de contratos –
prorrogação só poderá ser feita com a economia das renegociações.
Os Correios esperavam receitas
de R$ 22,7 bilhões em 2024. Agora, revisaram para R$ 20,1 bilhões. Mesmo que o
teto de gastos funcione plenamente, ainda haverá um prejuízo de ao menos R$ 1,7
bilhão. Ao justificar as medidas, os
Correios afirmaram ser preciso evitar o risco de “insolvência”. Ou seja, há o
risco de a empresa quebrar e precisar ser resgatada pelo Tesouro. “Tais medidas visam,
fundamentalmente, a recompor o saldo do orçamentário/caixa para retomada do
equilíbrio econômico-financeiro e evitar que a empresa entre em estado de
insolvência”, diz trecho do documento.
As contas dos Correios
pioraram desde a chegada de Fabiano no comando da estatal. Uma série de
decisões tomadas pelo presidente impactou o orçamento da empresa de maneira
significativa. O Poder360 revelou, em
novembro, que os Correios desistiram de recorrer em uma ação trabalhista com
valor de R$ 600 milhões em 2023. Em manobra contábil, jogaram o prejuízo para
2022. O TCU está investigando o caso. Outra ação trabalhista de cerca de R$ 400
milhões, já em fase mais avançada, também foi deixada de lado pela estatal, que
preferiu pagar o valor demandado por funcionários. Em 2024, os Correios também
assumiram uma dívida do plano de aposentadoria de seus funcionários. A empresa
se comprometeu a transferir R$ 7,6 bilhões ao Postalis, o fundo de pensão dos
empregados da estatal. Essa cifra vai cobrir metade do deficit do plano
previdenciário, que já não aceita novos participantes desde 2008.
O Poder360 procurou os
Correios para perguntar as razões que originaram o teto de gastos e as medidas
de contingenciamento. A estatal alegou frustração de receitas. Citou 2 motivos
principais:
- herança contábil da gestão
anterior – a empresa atribui a atual situação financeira a comando anterior, de
2019 a 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL);
- taxa das blusinhas – a
política defendida pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) foi responsabilizada
pela queda nas importações. Com isso, os Correios tiveram menos encomendas para
despachar para endereços no Brasil e a receita, por consequência, caiu.
“A receita projetada para 2024
foi reduzida de R$ 22,7 bilhões para R$ 20,1 bilhões, o que representa um
crescimento de 1,5% em relação a 2023. As medidas administrativas adotadas
reduziram a projeção de despesa de R$ 22,5 bilhões para R$ 21,9 bilhões, representando
uma redução de 1,8% (R$ 600 milhões) em relação a 2023”, disseram os Correios. Apesar de os Correios
atribuírem o prejuízo atual à gestão da estatal durante o governo Bolsonaro, a
empresa teve lucro em 3 dos 4 anos de governo. Mesmo com o rombo em 2024, os
Correios abriram concurso público para contratar 3.511 funcionários, com
salários de R$ 2.429,26 a R$ 6.872,48. A estatal informou que as provas não
serão canceladas. Disseram também que não foram rompidos contratos nem realizadas
demissões até o momento.
FONTE: Poder
360