
Comboio com presos deixa sede da Polícia
Federal, no Centro do Rio (Foto: Cristina Boeckel/G1)
O avião da Polícia Federal que levava presos na
Operação Lava Jato deixou o Rio de Janeiro na madrugada deste sábado (15) e
pousou no aeroporto de Curitiba, no Paraná, às 4h20 da manhã. De acordo com o
órgão, a partida do Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, no Galeão, foi
adiada na noite de sexta-feira (14) por problemas técnicos detectados pelo
piloto. Todos teriam permanecido na aeronave aguardando a decolagem. Ainda
segundo o órgão, o avião transportou, ao todo, 16 detidos. Na manhã de sexta, a
Polícia Federal deflagrou a sétima fase da Operação Lava Jato e cumpriu mandados
de prisão e de busca e apreensão no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em
Minas Gerais, em Pernambuco e no Distrito Federal. A operação foi desencadeada
em março deste ano para desmontar um suposto esquema de lavagem de dinheiro que
teria movimentado R$ 10 bilhões, segundo a PF.
A Polícia Federal informou que, até as 18h20 de
sexta-feira, 18 pessoas haviam sido presas na nova etapa da operação. Segundo
comunicado, 14 pessoas foram presas temporariamente e outras quatro,
preventivamente. A polícia ainda busca foragidos. Conforme balanço divulgado
pela PF, além das 18 prisões, foram cumpridos 49 mandados de busca e apreensão.
Além disso, foram expedidos nove mandados de condução coercitiva – quando as
pessoas são obrigadas a prestar esclarecimentos à polícia – e cumpridos,
seis.
Ex-diretor da Petrobras está entre os
presos
Quatro presos deixaram a Superintendência
da PF, na Praça Mauá, na Zona Portuária do Rio, por volta das 19h15 desta
sexta-feira (14). Entre os presos pela PF, está o ex-diretor de Serviços da
Petrobras Renato Duque e três presidentes de empreiteiras – José Aldemário
Pinheiro Filho (OAS); Ildefonso Collares Filho (Queiroz Galvão); Ricardo Ribeiro
Pessoa (UTC).
Indicado para o cargo pelo PT, Duque foi preso em
casa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e conduzido para a superintendência
local da Polícia Federal, na Zona Portuária da capital fluminense. Em depoimento
à PF e ao Ministério Público no mês passado, o ex-diretor de Refino e
Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que fez acordo de delação
premiada e atualmente cumpre prisão domiciliar, disse ter conhecimento de
irregularidades praticadas na Diretoria de Serviços, na época em que foi
comandada por Duque.
Nota divulgada pela assessoria de Renato Duque
informou que o ex-diretor foi preso temporariamente e, segundo o texto, não há
"notícia de uma ação penal ajuizada contra ele". "Os advogados desconhecem
qualquer acusação. [...] A partir do momento em que tomarem ciência do motivo da
prisão temporária, realizada para investigações, os advogados adotarão as
medidas cabíveis para restabelecer a legalidade", diz a nota. Também foram
expedidos, segundo a Polícia Federal, mandados de prisão de executivos e
funcionários das empresas Camargo Correa, OAS, Mendes Junior, Engevix e Galvão
Engenharia, UTC e IESA, além de mandados de busca e apreensão nas sedes das
empresas Queiroz Galvão, IESA, Galvão Engenharia, Camargo Correa, OAS,
UTC/Constran, Odebretch, Mendes Júnior e Engevix. Todas têm contratos com a
Petrobras (leia mais abaixo as versões das empresas).
Os presos
Além de Renato Duque
e Jayme Oliveira Filho, que seria ligado ao doleiro Alberto Youssef, os demais
16 presos, todos vinculados a empreiteiras, são os seguintes:
OAS - José Aldemário Pinheiro
Filho, presidente; Mateus Coutinho de Sá Oliveira, vice-presidente do conselho;
Alexandre Portela Barbosa; Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor; José
Ricardo Nogueira.
Engevix - Gerson de Mello Almada,
vice-presidente; Carlos Eduardo Strauch Albero, diretor; Newton Prado Júnior,
diretor;
Queiroz Galvão - Ildefonso
Collares Filho, diretor-presidente; Othon Zanoide de Moraes Filho,
diretor
UTC - Ricardo Ribeiro Pessoa,
presidente; Ednaldo Alves da Silva; Walmir Pinheiro Santana; Carlos Alberto
Costa Silva
IESA - Otto Sparenberg,
diretor
Galvão Engenharia - Erton
Medeiros Fonseca
Um avião da Polícia Federal decolou de Brasília
nesta sexta para recolher os suspeitos nos estados e levá-los para a
superintendência da PF em Curitiba, onde está sendo centralizada a
operação.
Bloqueio de bens
Segundo a PF,
os envolvidos responderão, de acordo com suas participações no esquema, pelos
crimes de organização criminosa, formação de cartel, corrupção, fraude à Lei de
Licitações e lavagem de dinheiro. Ainda de acordo com a Polícia Federal, foi
decretado o bloqueio de aproximadamente R$ 720 mihões em bens pertencentes a 36
investigados. Além disso, o juiz federal Sérgio Moro, que está julgando a Lava
Jato na primeira instância, autorizou o bloqueio integral de recursos
financeiros de três empresas que seria de propriedade de um dos operadores do
esquema criminoso.
As buscas e apreensões feitas nesta sexta,
explicou a assessoria de imprensa da Receita Federal, servirão para promover
eventuais ações fiscais em decorrência de supostos pagamentos de serviços que
possam não ter sido prestados, como "assessorias" ou "consultorias". Conforme a
Receita, os valores desses supostos serviços, contabilizados como "custos
operacionais", reduziriam de forma fraudulenta a base de cálculo de
tributos.
Contratos suspeitos
Os
principais contratos da Petrobras sob suspeita são a compra da refinaria de
Pasadena, nos EUA, que teria servido para abastecer caixa de partidos e pagar
propina, e o da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, da qual
teriam sido desviados até R$ 400 milhões. Segundo depoimento de Paulo Roberto Costa, o PT
recolhia para o seu caixa 100% da propina obtida em contratos das diretorias que
a sigla administrava, como, por exemplo, as de Serviços, Gás e Energia e
Exploração e Produção. Na delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento contou
que, se o contrato era de uma diretoria que pertencia ao PP, o PT ficava com
dois terços do valor e o restante era repassado para a legenda aliada. Os
partidos negam as acusações.
Versões das empresas
Veja
abaixo as versões das empresas envolvidas na ação da Polícia Federal nesta
sexta:
Camargo Correa – A
empresa Camargo Correa divulgou nota com o seguinte teor: “A Construtora Camargo
Corrêa repudia as ações coercitivas, pois a empresa e seus executivos desde o
início se colocaram à disposição das autoridades e vêm colaborando com os
esclarecimentos dos fatos.”
Engevix – A Engevix
informou que, por meio de seus advogados e executivos, a empresa prestará todos
os esclarecimentos que forem solicitados.
Galvão Engenharia – A
empresa Galvão Engenharia divulgou a seguinte nota: "A Galvão Engenharia tem
colaborado com todas as investigações referentes à Operação Lava-Jato e está
permanentemente à disposição das autoridades para prestar quaisquer
esclarecimentos necessários."
Iesa – O G1
não conseguiu contatar a empresa Iesa.
Mendes Júnior – O
advogado da empreiteira Mendes Júnior, o criminalista Marcelo Leonardo disse que
a empresa não tem envolvimento com as irregularidades investigadas no âmbito da
Lava Jato. Segundo ele, funcionários da construtora foram ouvidos pela PF por
causa de um contrato firmado com a Petrobras. Em nota, a Mendes Júnior afirmou
que está colaborando com as investigações da Polícia Federal e contribuindo para
o acesso às informações solicitadas. A empresa informou também que, até o final
desta manhã, a empresa não tinha conhecimento sobre mandados de prisão e que
nenhum de seus executivos havia sido preso.
OAS – Leia íntegra de
nota divulgada pela OAS: "A OAS informa que foram prestados todos os
esclarecimentos solicitados e dado acesso às informações e documentos requeridos
pela Polícia Federal, em visita à sua sede em São Paulo. A empresa está à
inteira disposição das autoridades e vai continuar colaborando no que for
necessário para as investigações."
Odebretch – A
construtora Odebrecht divulgou a seguinte nota: "A Polícia Federal esteve hoje
(14/11) no escritório da Odebrecht no Rio de Janeiro para cumprimento de mandado
de busca e apreensão de documentos, expedido no âmbito das investigações sobre
supostos crimes cometidos por ex-diretor da Petrobras. A equipe foi recebida na
empresa e obteve todo o auxílio para acessar qualquer documento ou informação
buscada. A Odebrecht reafirma que está inteiramente à disposição das autoridades
para prestar esclarecimentos sempre que necessário."
Queiroz Galvão – A
assessoria da construtora Queiroz Galvão afirmou que a empresa "reitera que
todas as suas atividades e contratos seguem rigorosamente a legislação em
vigor". De acordo com a nota, a empreiteira "está à disposição das autoridades
para prestar quaisquer esclarecimentos necessários".
UTC Engenharia Mendes Júnior
– O advogado Alberto Zacharias Toron, que representa três integrantes
da UTC Engenharia que tiveram a prisão temporária decretada, disse ao G1 que
ainda não tinha tomado conhecimento das acusações contra os clientes dele.
“Embora nós nos colocássemos à disposição há um mês da PF, nunca fomos
chamados”, queixou-se. Toron afirmou que deve protocolar um pedido de habeas
corpus no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, Corte de
segunda instância que abrange as varas federais dos estados da região sul do
país. Em comunicado, a empresa ressaltou que "colabora desde o início das
investigações e continuará à disposição das autoridades para prestar as
informações necessárias".
Mandados
*Veja a lista de
mandados expedidos pela Justiça Federal do Paraná:
Mandados de
prisão preventiva
Eduardo Hermelino Leite (vice-presidente
da Camargo Correa)
José Ricardo Nogueira Breghirolli (funcionário da OAS, em
São Paulo-SP)
Agenor Franklin Magalhães Medeiros (diretor-presidente da Área
Internacional da OAS)
Sérgio Cunha Mendes (diretor-vice-presidente-executivo
da Mendes Junior)
Gerson de Mello Almada (vice-presidente da
Engevix)
Erton Medeiros Fonseca (diretor presidente de Engenharia Industrial
da Galvão Engenharia)
Mandados de prisão
temporária
João Ricardo Auler (presidente do Conselho de
Administração da Camargo Correa)
Mateus Coutinho de Sá Oliveira (funcionário
da OAS, em São Paulo-SP)
Alexandre Portela Barbosa (advogado da
OAS)
Ednaldo Alves da Silva (funcionário da UTC, em São Paulo-SP)
Carlos
Eduardo Strauch Albero (diretor técnico da Engevix)
Newton Prado Júnior
(diretor técnico da Engevix)
Dalton dos Santos Avancini (presidente da
Camargo Correa)
Otto Garrido Sparenberg (diretor de Operações da
IESA)
Valdir Lima Carreiro (diretor-presidente da IESA)
Jayme Alves de
Oliveira Filho
Adarico Negromonte Filho
José Aldemário Pinheiro Filho
(presidente da OAS)
Ricardo Ribeiro Pessoa (responsável pela UTC
Participações)
Walmir Pinheiro Santana (responsável pela UTC
Participações)
Carlos Alberto da Costa Silva
Othon Zanoide de Moraes Filho
(diretor-geral de Desenvolvimento Comercial da Vital Enenharia, empresa do Grupo
Queiroz Galvão)
Ildefonso Colares Filho (diretor-presidente da Queiroz
Galvão)
Renato de Souza Duque (ex-diretor da Petrobras)
Fernando Antonio
Falcão Soares
Mandados de condução coercitiva
Edmundo
Trujillo (diretor do Consórcio Nacional Camargo Correa)
Pedro Morollo Júnior
(funcionário da OAS, em Jundiaí-SP)
Fernando Augusto Stremel Andrade
(funcionário da OAS, no Rio de Janeiro-RJ)
Ângelo Alves Mendes (funcionário
da Mendes Júnior, em Belo Horizonte-MG)
Rogério Cunha de Oliveira
(funcionário da Mendes Júnior, em Recife-PE)
Flávio Sá Motta Pinheiro
(diretor administrativo e financeiro da Mendes Júnior)
Cristiano Kok
(presidente da Engevix)
Marice Correa de Lima (funcionária da OAS, em São
Paulo-SP)
Luiz Roberto Pereira