Fábio Vale/Jornal De Fato
A violência que assola o
país também ronda os estabelecimentos educacionais. Unidades de ensino em todo
o território brasileiro são atingidas por problemas ligados à segurança pública
nacional. No Rio Grande do Norte, o cenário é preocupante. Recente pesquisa
nacional sobre o tema mostrou que no estado, 136 professores e diretores de
escolas sofreram atentado à vida em 2015. A reportagem considerou
importante retomar a discussão em torno do assunto diante do fato de se estar
na véspera do Dia do Professor. A data é comemorada nesta segunda-feira (15) e
remonta ao dia 15 de outubro de 1827, quando o imperador dom Pedro I instituiu
um decreto que criou o ensino elementar no Brasil, com a instituição das
escolas de primeiras letras em todos os vilarejos e cidades do país; e a 1963,
quando o então presidente João Goulart assinou um decreto oficializando a data.
De lá para cá, a
violência segue rondando as escolas. O assustador quadro atual foi confirmado
mais recentemente pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2017. O relatório
de 108 páginas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública traz uma seção sobre
violência nas escolas e aponta a situação preocupante verificada em todo o
país. Divulgada em outubro do
ano passado, a 11ª edição da publicação aponta que dos pouco mais de 5.400
entrevistados no Rio Grande do Norte, 136 (2,5%) disseram ter sido alvo de
atentado à vida. O questionário tratou da vitimização de diretores e
professores na escola em que trabalharam no ano de 2015. Mais de 530 profissionais
no RN disseram já ter sido ameaçados por algum aluno. O Anuário Brasileiro de
Segurança Pública 2017 também revelou outra estatística preocupante. Em nível
de Rio Grande do Norte, 537 diretores e professores disseram já ter sido
ameaçados por algum aluno. O número absoluto corresponde a um índice de 9,9%. A pesquisa também avaliou
a percepção de diretores e professores sobre a ocorrência de situações de
violência na escola quanto à agressão verbal ou física de alunos contra
professores ou contra funcionários. Em âmbito nacional, 50,2% confirmaram a
ocorrência desse tipo de situação; e 70% para agressão verbal ou física de
alunos contra outros colegas de sala.
Em nível estadual, 50%
confirmaram registros de agressão verbal ou física de alunos a professores ou
funcionários da escola e 75,4% deram conta de agressão verbal ou física de
alunos a colegas de sala. No estado, apenas 5,4% confirmaram ter presenciado
alunos frequentando a escola sob efeito de bebida alcoólica. Ainda na percepção de
diretores e professores sobre a ocorrência de situações de violência na escola
potiguar, somente 12,5% confirmaram alunos frequentando a escola sob efeito de
drogas ilícitas e 8,3% registraram alunos frequentando a escola portando arma
branca, como facas e canivetes, e 1,6% confirmaram alunos frequentando a escola
portando arma de fogo. Quanto a ser vítima de
furto em escolas potiguares (sem uso de violência), 5,7% (308) dizem ter sido
alvos e 1,7% (92) vítima de roubo (com uso de violência). A reportagem
encaminhou e-mails à Secretaria Estadual de Educação, ao sindicato que
representa os trabalhadores do setor no estado e à Secretaria de Segurança
Pública para obter uma posição sobre o assunto, mas, até o fechamento desta
edição na tarde da última quinta-feira (11), não houve retorno. Profissionais apontam
problemas no controle de acesso nas escolas e no policiamento. O Anuário Brasileiro de
Segurança Pública 2017 detalhou, ainda, outros problemas ligados à segurança
pública nas escolas do país. Na percepção dos avaliadores da Prova Brasil com
relação à segurança da escola e dos alunos em 2015, 77,6% dos
entrevistados em todo o país consideravam como “Bom” o “Controle de entrada de
pessoas estranhas na escola”.
No Rio Grande do Norte,
esse percentual cai para 73,5; enquanto que 20,4% consideravam “Regular”; 3,6%
“Ruim”; e 1,7% dos profissionais ouvidos pelo estudo no estado classificaram
como “Inexistente” o controle de entrada de pessoas estranhas na escola. Em
nível nacional, o estado de São Paulo (89,3%) foi onde esse controle foi mais
elogiado e o Pará teve o menor índice (63,6%). Quando questionados sobre
“Esquema de policiamento para inibição de furtos, roubos e outras formas de
violência”, apenas 35,4% dos entrevistados no país classificaram o quesito como
“Bom”. No RN, a categoria “Inexistente” liderou com 44,9%; seguida de “Bom”
(29,6%); “Regular” (15,5%); e “Ruim” (7,7). Acerca do “Esquema de policiamento
para inibição de tráfico de tóxicos/drogas dentro da escola”, a classificação
Inexistente liderou a média nacional com 42,9%. No estado potiguar, esse
índice subiu para 53,4%; seguido da classificação “Regular” (19,4%). Quanto ao
“Esquema de policiamento para inibição de tráfico de tóxicos/drogas nas
imediações da escola”, “Inexistente” também liderou no país com 50,3%. No RN,
esse percentual saltou para 60,4; seguido da classificação “Regular” (15,4%). Aspectos estruturais
também foram avaliados pela pesquisa como ligados à segurança. Sobre a
“Iluminação do lado de fora da escola”, a tendência de “Inexistente” se manteve
na liderança com 37,7% em todo o país. No estado potiguar, essa avaliação
negativa quase dobrou: 67,6%. E diante da pergunta se a escola adotava alguma
medida de segurança para proteger os alunos nas imediações do estabelecimento,
82% dos entrevistados no país responderam que “Sim” e no RN esse percentual foi
de 90%.
*Matéria publicada na
edição impressa de domingo (14/10/18) do JORNAL DE FATO.