A população pobre no Brasil caiu 23,7% de 2019 a agosto deste ano,
segundo estudo da FGV Social. O percentual representa 15 milhões de pessoas. O
resultado, no entanto, está diretamente ligado ao auxílio emergencial, que foi
concedido pelo governo federal para mitigar os efeitos da crise econômica
causada pela pandemia de covid-19. As informações são do Estado de S. Paulo, que teve acesso ao estudo. Com o fim do pagamento do benefício, em 31 de dezembro, esse contingente
deve voltar à pobreza. “O retorno à pobreza dessas 15 milhões de pessoas é 1
cenário até conservador. O Brasil foi o país da América Latina que mais
concedeu auxílio proporcionalmente ao seu PIB [Produto Interno Bruto], mas não
era o que estava em melhores condições“, disse economista Marcelo Neri,
coordenador do levantamento.
A explicação para a redução na pobreza está relacionada com o valor do
auxílio. A faixa mais pobre da população recebe até 1/2 salário mínimo por
pessoa. Essa quantia é inferior aos R$ 600 concedidos pelo governo em cada uma
das 5 de 9 parcelas do benefício. As outras 4 parcelas são no valor de R$ 300. “O país teve generosidade, mas não sei se teve sabedoria. Vamos saber
daqui a 1 ano“, disse Neri. “Há a retomada no mercado de trabalho, mas com
muitas incertezas para o próximo ano. Não se sabe quando sai a vacina ou qual
seria o impacto de uma 2ª onda de covid-19.“ O Rio Grande do Sul foi o único Estado que registrou aumento no número
da população pobre. Teve alta de 0,45%. Segundo Neri, o fato não é preocupante. “Lá a pobreza aumentou pouco. É 1 lugar que fez alguns ajustes, como na
previdência, e está fazendo outros. É o 2º estado em número de idosos, perdendo
apenas para o Rio de Janeiro. O auxílio emergencial está pouco presente no Rio
Grande do Sul, assim como na região Sudeste“, afirmou.
Segundo o levantamento, as maiores reduções foram no Nordeste (-30,4%) e
no Norte (-27,5%). A população dessas regiões está entre as que mais dependem
de auxílios federais para sobreviver. Em agosto, por exemplo, o número de
beneficiários do Bolsa Família superou o de empregos com carteira assinada (o
que exclui setor público) em 10 Estados das regiões Norte e Nordeste. Só 3 Estados na região Norte (Tocantins, Rondônia e Roraima) e 3 no
Nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco) registram mais empregos
formais com carteira que benefícios no programa. “Nove meses de auxílio correspondem a 9 anos de Bolsa Família. Agora
virá o Renda Cidadã, mas não sabemos ainda em que patamares”, disse Neri, se
referindo ao programa que o governo de Jair Bolsonaro estuda para substituir o
Bolsa Família e o auxílio emergencial. O valor do programa, no entanto, não foi
definido.