A palestra que o cientista, PhD em Meteorologia e professor da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Carlos Molion, fará nesta terça-feira (5), às 19 horas, no auditório da Associação-Norte-rio-grandense dos Criadores (Anorc) tem tudo para se transformar no grande evento sobre o clima do momento, numa época em que a quadra chuvosa promete ser muito ruim para agricultores e criadores. Autor de vários livros sobre a questão climática do Nordeste brasileiro e na região Amazônica, e representante dos países da América do Sul junto a Word Meteorological Organization (WMO), vinculada à ONU, Molion irá explicar porque, segundo seus estudos, deve-se esperar por tempos menos chuvosos para os próximos anos, a despeito de perturbações climáticas poderem impor mudanças repentinas a essa regra. Com base na observação de longos períodos lunares e do comportamento dos mares, sobre os quais o professor dispõe de vasta documentação pessoal (entre eles o de resfriamento do Oceano Pacífico entre 1946-1976, e da repetição desse fenômeno a partir dos anos 1999/2000), Molion provavelmente dirá o que ninguém gostaria de ouvir neste momento: não esperem muito da natureza no futuro.
Para o cientista, que não acredita em previsões perfeitas com mais de 24 horas de antecedência, não se trata do fim do mundo conviver com a realidade do semiárido. “É estar preparado para viver nessas condições, tirando o máximo de vantagem disso”, exemplifica. Crítico feroz dos defensores do aquecimento global, Luiz Carlos Molion deve começar falando de clima, mas certamente terminará na economia por onde os temas ligados à meteorologia guardam uma estreita relação. “Não estamos inventando a roda, os problemas são os mesmos há muitos séculos, a única diferença é que no Nordeste as coisas não mudam, creio eu, por força de interesses – até estrangeiros – de nos manter no mais absoluto atraso”, dispara. Com informações valiosas que desmistificam medidas simples e ao alcance de todos para conviver com a seca, Molion dirá na casa dos criadores, por exemplo, que não é um bom negócio criar gado nessas condições, exceto para desenvolver uma genética de alto valor agregado. Molion talvez diga também que não faz sentido algum produzir arroz, feijão e milho além da subsistência, quando existem hoje produtos com mercados globais muito mais promissores, desde que associado a eles estejam indústrias de transformação agregando valor. “Desde que haja obras estruturantes tornando possível esse planejamento, é possível usar a seca a favor da produção e não voltado para consagrar a miséria”, comentou hoje pela manhã o professor, durante visita que fez ao jornalista Marcos Aurélio de Sá, diretor de “O JORNAL DE HOJE”.
Ao lado do presidente da Anorc, Júnior Teixeira, Luiz Carlos Molion explicou que os ciclos lunares duram 60 anos e, durante períodos que variam de 25 a 30 anos, os oceanos passam por processos de aquecimento e resfriamento e tudo isso interfere diretamente no regime de chuvas. E que uma bolha mais quente em alguma parte desse oceano, que tenha 20 km de extensão, pode produzir tempestades inesperadas, difíceis de prever. Molion não tem dúvida que os avanços tecnológicos auxiliam a tarefa de prever o tempo a custos estratosféricos, contudo, jamais suplantarão a observação dos ciclos históricos. “Hoje, por exemplo, olho mais para África quando tento prever o que ocorrerá por aqui no dia seguinte”, afirma. Ele diz que quando, nos EUA, resolveram desviar o Rio Colorado, em 1908, e construir a partir de então 14 mil km de canais de irrigação, a Califórnia abandonou a condição de deserto para se transformar na área mais rica do país. “Nós poderíamos fazer o mesmo aqui, sem as limitações climáticas de lá, que se alternam entre calor escaldante e frio glacial”, lembrou.
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