Corpo de advogada foi enterrado na zona rural de Parelhas (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Para a irmã da advogada Vanessa Ricarda de Medeiros, de 37 anos, morta a pauladas em fevereiro, o policial militar acusado do crime "de doido não tem nada". Também advogada, Vitória Régia de Medeiros prestou depoimento sobre o caso nesta terça-feira (10) na Vara de Precatórios, no Fórum Miguel Seabra Fagundes, em Natal. Réu no processo, o soldado Gleyson Alex de Araújo Galvão recebeu licença da junta médica da Polícia Militar na semana passada para se submeter a tratamento de saúde mental. O crime aconteceu na noite de 14 de fevereiro deste ano dentro de um motel na cidade de Santo Antônio, a 70 quilômetros da capital.
Vitória Régia e Gleyson se encontraram durante a audiência de instrução. "Perguntei se estava satisfeito com o que tinha feito, e ele ficou calado, com um ar de riso. Está muito bem obrigado. Muito bem vestido, mais gordo e nem algemado estava", afirma a advogada, que acusa a PM de corporativismo no caso. Apesar do tratamento, o policial continua preso no quartel do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), na zona Norte de Natal, segundo informou o coronel Francisco Araújo Silva, comandante geral da PM. "Ele recebe atendimento quando necessário, mas não será solto", acrescentou o comandante. De acordo com Vitória Régia, o acusado vive com regalias dentro do quartel. "O processo administrativo para expulsão dele não sai do lugar. Enquanto isso, o processo da Justiça, conhecida como demorada, está andando. Está na maior regalia do mundo e recebendo o salário", conclui a advogada.
Para o advogado Emanuel de Holanda Grilo, que representa a família da vítima, "é no mínimo intrigante que o comando da PM seja tão eficiente para atender o pedido de licença, ao passo que o processo administrativo referente à expulsão de Gleyson da corporação não anda”. Ele acrescenta: “Evidente que o direito de ampla defesa e contraditório tem que ser respeitado no âmbito do processo administrativo disciplinar, mas isso de modo algum justifica o fato de o procedimento ter ficado parado desde março. Gostaria que os responsáveis tenham agora a mesma eficiência para apreciar o feito. Enquanto isso, ele continua sendo pago pelo erário". A publicação também considera o soldado Gleyson 'incapaz temporariamente para o serviço ativo da Polícia Militar' e o proíbe de usar arma de fogo neste período. “Gleyson Alex de Araújo Galvão, Sd PM: Incapaz temporariamente para o serviço ativo da Polícia Militar. Necessita de 78 (setenta e oito) dias de licença para tratamento de saúde a contar de 20.06.13. Não pode portar arma de fogo neste período", diz o boletim de número 158.
Atestado foi assinado pelo psiquiatra Jurandir Macêdo de Carvalho Júnior no dia 22 de maio deste ano - (Foto: Reprodução)
O atestado foi assinado no dia 22 de maio deste ano pelo psiquiatra Jurandir Macêdo de Carvalho Júnior. Nele, o médico considera que o policial “necessita de afastamento de suas atividades laborais por tempo indeterminado e de acompanhamento psiquiátrico e psicoterápico sistemático e regular”.
Insanidade mental
Diante do pedido de insanidade mental formulado pela defesa do acusado, o juiz Ederson Solano Batista de Morais, titular da Vara Única da comarca de Santo Antônio, decidiu que "tal pleito não merece pronto acatamento, uma vez que não há prova de que o réu, sendo servidor público há algum tempo, tenha se afastado de suas funções para tratamento de sua saúde mental, por exemplo”. O magistrado acrescenta que o pedido de exame pericial só será feito "após a realização do interrogatório do réu, ocasião na qual poderá ser aquilatada a idoneidade da alegação de se tratar de portador de doença mental”.
Audiência marcada
O soldado Gleyson vai à audiência de instrução e julgamento no dia 25 deste mês. Os procedimentos foram marcados pelo próprio juiz Ederson Solano. O réu será ouvido a partir das 9h, na sala de audiência do Fórum Desembargador José Humberto de Azevedo Barbalho, que fica na rua Ana de Pontes, no Centro da cidade. O advogado Emanuel Grilo explicou que, durante as audiências, serão ouvidas as testemunhas de defesa e acusação e, caso não haja pedido de novas diligências por qualquer das partes, o magistrado poderá interrogar o réu e já proferir sentença, decidindo se o PM vai ou não à júri popular. Gleyson, que está preso desde a noite do assassinato, foi indiciado por homicídio triplamente qualificado (motivo fútil, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima).
Enfurecido
Em depoimento à polícia, o acusado disse que a advogada, sua ex-namorada, teria ficado enfurecida com uma ligação que ele havia recebido e tentado agredi-lo. Em razão disso, os dois, “entraram em vias de fato e, durante essa contenda caíram ambos, não lembrando o que ocorreu depois disso”, diz o documento. Ainda segundo o depoimento, Gleyson afirma ter passado boa parte do dia anterior à morte da advogada bebendo com ela e que, a briga, teria sido iniciada porque ele havia se recusado a revelar o nome da pessoa que havia ligado para o celular dele. Também consta no relato do PM que ele “não sabe como aquele pedaço de madeira foi aparecer no interior daquele quarto”, acrescentando “que só depois da prisão começou a entender onde se encontrava, mas que os policiais de serviço não deixaram mais que ele entrasse no quarto”.
A família de Vanessa Ricarda não acredita que ela tenha ido se encontrar com o suspeito para beber. Genilson Dantas, cunhado da advogada, afirma que ela era evangélica e não consumia bebidas alcoólicas. Ele também disse que acredita que Vanessa tenha ido se encontrar com o policial militar sob ameaça. “Ele sempre dizia que iria matá-la e que também mataria pessoas da família”, disse Genilson. Segundo o capitão Fábio Sandrine, comandante do batalhão da PM na cidade de Goianinha, onde o soldado estava lotado, Gleyson tem sete anos de corporação. "Ele trabalhava na praia da Pipa, mas foi transferido para a cidade de Passagem. Só que ele não se apresentou. Então recebemos esta triste notícia que ele havia matado a namorada. Lamentável", comentou o oficial no dia seguinte ao crime. O policial, preso em flagrante, encontra-se detido no quartel do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), na zona Norte de Natal. Já a advogada, foi inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil em 2011, segundo a própria OAB no RN. O corpo dela foi enterrado no dia 15 de fevereiro, no cemitério público da comunidade de Santo Antônio da Cobra, distrito a 18 quilômetros de Parelhas, na região Seridó.
Familiares e amigos acompanharam o enterro da advogada (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Entenda o caso
De acordo com a polícia, funcionários do Motel Cactus, onde a advogada Vanessa Ricarda foi espancada, acionaram a guarnição depois que escutaram uma discussão do casal. “Eles ouviram a mulher gritando e nós fomos chamados”, contou o tenente Everthon Vinício, do 8º Batalhão da PM.
Ainda segundo o oficial, o PM foi encontrado na área comum do prédio onde funciona o motel. O tenente contou também que Gleyson apresentava sinais de embriaguez e manchas de sangue pelo corpo. “Ele vestia somente um short, que estava todo sujo de sangue”, afirmou. Ao entrarem no quarto, os policiais encontraram a advogada desacordada e ensanguentada. “O rosto dela estava bastante desfigurado e os objetos do quarto revirados”, relatou o delegado Everaldo Fonseca.
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