Nos últimos meses, acentuando-se a impiedosa estiagem que grassa em todo o sertão nordestino, em especial na região do Seridó, emerge uma outra terrível constatação: o esquecimento de se dar prosseguimento ao movimento de criação e instalação da Universidade do Seridó, a ser sediada na cidade de Caicó, tema de breves debates, inúmeras manifestações de apoio e incontáveis promessas. O emprobrecimento da região do Seridó vem gradativamente ocorrendo nas últimas décadas, mais ainda quando dos períodos de seca, após longas épocas áureas, notadamente nos ciclos da carne, que durou mais de século desde a colonização, e do algodão, este até os anos sessenta. Há, realmente, pouco potencial econômico no semiárido, sob a visão cartesiana dos apressados economistas. Mas sob o ângulo eminente da cidadania e promoção humana, é inegável a grande e evidente riqueza dos recursos humanos locais, sendo este o mais importante insumo na construção de qualidade de vida de uma população. Os exemplos internacionais são prova inconteste. Como de diz nas ruas de Caicó, “só ficou quem não pôde ir embora”, aliados a alguns abnegados e apegados à terra, portadores das fibras do miolo da aroeira. Algumas tentativas de desenvolvimento ocorreram, mais em discurso, como distrito industrial, que continua algo ainda incipiente. Os moradores locais continuam a tirar leite de pedra, diariamente, quer seja em pequenos negócios industriais e em diminutas produções agrícolas e pecuárias. O resto, e talvez maioria, vive de aposentadoria pública ou bolsa-família.
A idéia da unidade autônoma de uma Universidade Federal é bem melhor do que qualquer empreendimento empresarial, com a custosa renúncia tributária em que implicaria, pois, além da circulação do dinheiro do investimento e do custeio na região, certamente evidenciar-se-iam os valores incomensuráveis constantes da cultura regional, com o considerável aprimoramento intelectual e o descortinamento de novos horizontes políticos, sociais e econômicos. Estes aspectos antes evidenciados somente poderiam ser melhor tratados e aplicados à necessidade do povo do Seridó, com uma Universidade de gerência plena local, com autonomia didático-científica, com custeio federal, pois é da União essa atribuição, já que ao Município cabe o ensino fundamental e infantil, e, ao Estado-membro, o fundamental e médio.
A questão depende mais de nós, seridoenses natos ou originários, familiares e simpatizantes, a começar pela ampliação do movimento apartidário de força político-eleitoral a comprometer as forças sociais, em todas as cidades, com o foco centrado na necessidade de se passar da idéia ao projeto, e, deste, à prática. Vejo com otimismo tal realização, mas não como dádiva de autoridades políticas tal empreitada, mas apenas possível como o esforço, comprometimento e a sensibilização de todos os segmentos sociais. A Universidade do Seridó, necessidade imperiosa de minimização da desigualdade regional, represamento e reversão do quadro evidente de empobrecimento da região, não pode se tornar um retrato na parede, muito menos se deixar esmaecer pela falta de coragem de palmilhar o caminho e chegar-se a bom termo. A história da cultura seridoense não contempla quedarem-se todos ao mofo, no baú da omissão.
Fonte: tnonline
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