Uma dívida de R$ 1 mil no cartão, se não quitada, encerra os 12 meses seguintes em R$ 4.040,30/Aldair Dantas
Ter a dívida multiplicada por quatro em um ano – esta é a realidade de quem entrou no crédito rotativo do cartão. Segundo levantamento divulgado esta semana pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), os juros do cartão de crédito passaram de 295,48% ao ano em abril para 304,03% em maio. A taxa está no maior nível desde março de 1999, quando havia atingido 354,63% ao ano. Assim, quem tem uma dívida de R$ 1 mil no cartão de crédito e não consegue quitar o débito encerra os 12 meses seguintes devendo R$ 4.040,30. Os juros do cheque especial subiram de 205,06% ao ano em abril para 210,44% ao ano em maio, maior nível desde janeiro de 2003 (220,06% ao ano).
Pela conta, quem entra no cheque especial devendo R$ 1 mil chega ao fim dos 12 meses seguintes com uma dívida de R$ 3.104,40. As taxas das demais modalidades de crédito para pessoa física também aumentaram no mês passado na comparação com abril. Os juros médios do comércio subiram de 82,90% para 83,94% ao ano. As taxas médias dos financiamentos de automóveis na modalidade CDC (crédito direto ao consumidor) passaram de 27,27% para 28,02% ao ano. Os juros dos empréstimos pessoais de bancos aumentaram de 60,10% para 61,22% ao ano e as taxas dos empréstimos de financeiras, de 139,24% para 140,85% ao ano.
De acordo com a Anefac, na média, os juros do crédito para pessoa física encerraram maio em 6,87% ao mês (121,96% ao ano), no maior nível desde junho de 2010 (122,71% ao ano). A taxa média do crédito para pessoa jurídica atingiu 4% ao mês em maio (60,1% ao ano), no valor mais alto desde julho de 2011 (61,03% ao ano). Segundo a Anefac, além dos recentes aumentos na Selic (juros básicos da economia), contribuíram para a alta nas taxas finais de crédito o maior risco de inadimplência – provocado pelo aumento do desemprego – e a elevação, de 15% para 20%, da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das instituições financeiras. A tendência é de mais alta.
Usuário desconhece taxas e limites
Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e o portal Meu Bolso Feliz em todo o país mostra que quase todos os usuários (96%) de cartão de crédito afirmam não ter conhecimento sobre a taxa de juros mensal quando opta por pagar o valor mínimo da fatura. Esse número aumenta entre as mulheres e pessoas das classes C, D e E (99%). “Grande parte dos consumidores desconhece esses altos valores e não sabe o quanto perde dinheiro ao utilizar o cartão sem colocar todas as contas no papel", diz a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Entre os usuários, 34% apontam a segurança como principal vantagem do cartão, uma vez que não é necessário andar sempre com dinheiro. Em seguida, poder parcelar as compras (25%). Já a principal desvantagem é o risco de comprar mais do que pode (93%), o descontrole ao usar, realizando compras não planejadas e por impulso. "Quando usado de forma consciente, o cartão é um importante aliado na gestão do orçamento. Porém, os benefícios de parcelamento podem induzir o consumidor a um comportamento arriscado, o que pode resultar no endividamento e inadimplência devido às altas taxas de juros", diz Marcela.
Uso inteligente
Confira dicas de uso do cartão de crédito:
1 - Estabeleça seu limite de crédito. Não caia na tentação de aceitar limites aprovados sem a devida análise. Pode ser uma armadilha para você ter sua dívida triplicada em pouco tempo.
2 - Negocie com a operadora a tarifa, antes de começar a usá-lo.
3 - Pague o valor de sua fatura em dia, para que os juros não comprometam seu sono. Na eventualidade de um descontrole financeiro, procure outras formas de financiamento do valor da fatura (empréstimo pessoal, consignado, por exemplo) para não precisar “rolar” o saldo de seu cartão.
4 - Controle bem os parcelamentos. A soma do valor de cada compra pode estar próxima do seu limite conscientemente estabelecido e pode comprometer sua renda mensal.
5 - Procure ter um único cartão. Se achar necessário cartão(ões) adicional(is) para outra(s) pessoa(s), a comunicação financeira entre vocês deverá ser a melhor possível, para não ter surpresa no momento em que receber a fatura.
6 - Cuidado com sua senha.
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