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sábado, 9 de janeiro de 2016

PATRIMÔNIO DE CAICÓ NA REDE POR LÍVIA NOBRE

‘A noção de monumento histórico estende-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, ao longo do tempo, uma significação real”, registra um trecho da Carta de Veneza, elaborada em 1964 durante o 2º congresso internacional de arquitetos, restauradores e técnicos que lidam com patrimônio. O documento unificou os princípios da conservação e preservação de monumentos com potencial para transmitir às futuras gerações a riqueza da sua autenticidade; e é a partir dele que a arquiteta e urbanista Lívia Nobre de Oliveira embasa o projeto Arcaicó, iniciativa virtual que registra vestígios do patrimônio arquitetônico caicoense. “O conceito de patrimônio presente no decreto de lei que organiza a preservação do patrimônio histórico e artístico no Brasil é limitado e elitista”, afirma a potiguar. “É comum as pessoas acharem que patrimônio é algo que só existe em grandes cidades turísticas.
Antiga prefeitura de Caicó tem o estilo colonial, mas com modificações, e está bem conservada
Antiga prefeitura de Caicó tem o estilo colonial, mas com modificações, e está bem conservada/Lívia Nobre de Oliveira
E patrimônio que não se conhece não se preserva”, constata. Arcaicó (http://www.patrimonioarcaico.com/) apresenta um mapeamento atualizado dos imóveis, tanto os desfigurados como os que mantiveram suas características originais, situados no centro de Caicó. As construções foram fotografadas, rua a rua, e identificadas de acordo com o estilo colonial, eclético e moderno. De navegação intuitiva e visual atraente, a página eletrônica traz seções como linha do tempo (que remonta uma cronologia a partir de 1683 até os dias atuais), mapas de localização, acervo de imagens, espaço para interação com o público, links de referência, acesso à redes sociais e explicações sobre a iniciativa e a importância da memória para a identidade cultural de um povo. A pesquisa de Lívia foi apresentada agora em dezembro de 2015 como Trabalho de Conclusão (TCC) do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRN, orientado pela professora da UFRN Edja Trigueiro. O estudo tomou como ponto partida um inventário realizado entre 1996 e 2000 pela base de pesquisa Morfologia e Usos da Arquitetura (MusA-UFRN) em cidades do Seridó como Currais Novos, Acari e Caicó.

Imóvel onde funciona a Biblioteca pública de Caicó é um bom exemplo de conservação do patrimônio Foto:Lívia Nobre de Oliveira

“Em 15 anos a paisagem urbana de Caicó mudou bastante, muitas casas e edifícios históricos que constavam no inventário nem existem mais. O que fiz foi atualizar esses dados e disponibilizar na internet de forma acessível, que chamei de ‘uma experiência virtual de reconhecimento do patrimônio arquitetônico caicoense’”.
Lívia contou que o projeto surgiu da vontade de falar sobre a cidade onde nasceu somada ao trabalho em base de pesquisa que catalogava edifícios de interesse histórico em Natal. “Junto a esse interesse veio a constatação do avanço da degradação do que se entende por patrimônio histórico em Caicó”, disse a arquiteta, que buscou inspiração para Arcaicó no site Memória João Pessoa (memoriajoaopessoa.com.br).
Educação
Além de manter o site Arcaicó no ar e movimentar as redes sociais com atualizações e interatividade, de onde também chegam questionamentos e colaborações que acabam sendo agregadas à pesquisa, Lívia Nobre quer levar a iniciativa e multiplicar a educação patrimonial em escolas de ensino fundamental de Caicó a partir de dinâmicas, debates e palestras – atividades que se somam ao suporte digital.
“O objetivo dessas ações é mostrar aos estudantes (na faixa dos 10 anos) a importância de conservar o patrimônio arquitetônico, bons exemplos de como fazer isso e listar sugestões para se pensar essa preservação”.

A pesquisa acadêmica da arquiteta traz diagnósticos e sugestões de como preservar (incluindo dicas de como anexar uma parte nova ao prédio antigo), “mas nem sempre esse trabalho mais teórico chega à população de forma eficiente”, por isso a necessidade de se criar uma dinâmica que apresente o conteúdo de forma didática.
Arquiteta e urbanista Lívia Nobre aposta na educação como forma de garantir a preservação do patrimônio
Arquiteta e urbanista Lívia Nobre aposta na educação como forma de garantir a preservação do patrimônio/Emanuel Alves
“Se as coisas que nos fazem lembrar de Caicó não existissem mais, do que lembraríamos? Como nos identificaríamos como caicoense? Como haver uma definição de caicoense se as memórias do passado não existem?”, questiona a arquiteta, com perguntas que servem para moradores de qualquer cidade do Brasil e do mundo.

Como reconhecer os estilos
*Colonial
Casas sem recuo, coladas umas nas outras com telhados caindo para frente e para trás. Visualmente mais pesadas (poucas aberturas). Janelas e portas quadradas ou com verga em arco abatido (a parte de cima um pouco curvada). Molduras ao redor das aberturas e paredes sem enfeites.

*Eclético

Casas geralmente com recuos frontal e/ou lateral. Muitos elementos decorativos nas paredes. Platibandas (parede na parte de cima da casa que serve para tapar o telhado) recortadas e enfeitadas. Possibilidade de diferentes formatos de janelas. Molduras imitando colunas.

Moderna
Casas com recuos e geralmente sem (ou quase sem) elementos que tapem a visão da sua fachada a partir da rua. Compostas frequentemente por mais de um volume com formas horizontais ou diagonais. Platibandas     (parede na parte de cima da casa que serve para tapar o telhado) retas ou invertidas (em formato de “v”). Grandes e largas aberturas. As paredes podem ser revestidas com pedras, azulejos ou cerâmica. Existência de varandas.

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