
No dia em que Deus distribuiu a habilidade política, Dilma
Rousseff não entrou na fila. Estava muito ocupada estudando o ciclo de
reprodução da mosquita e a civilização derivada da cultura da mandioca. Quem foi
a primeira pessoa no governo que falou a palavra “impeachment” em público?
Dilma! Quem concedeu uma entrevista coletiva nesta sexta para assegurar que não
renuncia? Ora, Dilma!
Vale dizer: a presidente está pensando em renunciar.
Ela afirmou uma coisa óbvia e outra errada — como sempre, tenta
a síntese de paradigmas que não se cruzam. A coisa óbvia: “A renúncia é um ato
voluntário”. Concordo. Ninguém pode fazê-lo em lugar de outro. Só uma antiga
Constituição da Bolívia proibia o governante de cair fora voluntariamente…
Agora a coisa errada: “Aqueles que querem a renúncia estão
reconhecendo que não há uma base real para pedir o impeachment”. Trata-se de uma
bobagem brutal. É como dizer que Nixon renunciou em 1973 porque não corria o
risco de cair… Eu fui o primeiro na imprensa a sugerir a renúncia apenas porque
isso abreviaria o sofrimento do povo brasileiro. Como de hábito, o raciocínio da
presidente não faz o menor sentido.
Mais uma vez, ela evocou a memória da militante de um grupo
terrorista para justificar o presente. Indagada sobre uma suposta resignação
diante do inevitável, afirmou: “Vocês acham que eu tenho cara de estar
resignada? Que eu tenho gênio de estar resignada? Fui presa e torturada por
minhas convicções. Não estou resignada diante de nada, não tenho essa atitude
diante da vida e acredito que é por isso que represento o povo brasileiro”.
Vamos pôr os pingos nos is. Foi feita presidente pela segunda
vez pela maioria relativa dos eleitores, mas já não representa o povo
brasileiro, que a quer fora do poder.
Mais: deveria ter dito que foi torturada — o que é uma
barbaridade em si — por suas convicções à época. Ou acaba sugerindo que as
mantém ainda hoje, o que seria lamentável, não é mesmo De resto, naqueles
tempos, havia uma ditadura no Brasil da qual Dilma discordava. Ela queria outra
ditadura. Se renunciasse hoje, ela o faria numa democracia. E só seria levada a
tanto porque seu partido tentou conspurcar o regime democrático com convicções
cleptoditatoriais.
Num dado momento, confrontada de novo com a questão da
renúncia, disse achar a pergunta “ofensiva”. Dilma chegou a esses fabulosos
resultados no governo ofendendo-se fácil com perguntas… Afinal, ela é a mulher
das respostas, certo? Finalmente, foi ambígua sobre Lula ser ou não ministro.
Tergiversou. Ou por outra: se ele quiser, ele será. E assumirá o ministério que
lhe der na telha.
Síntese: Lula já deu o golpe. Ele está no comando, e ela é um
títere de um sujeito acossado por seu passado, do qual ela própria é mera
derivação. A gente só sugere renúncia porque o governo já acabou. Mas que não
renuncie, então. Que seja impichada se lhe parece mais digno.
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