
Ex-presidente Lula, na sede do Partido dos Trabalhadores(Stringer/AFP)
O Ministério Público de São Paulo denunciou nesta quarta-feira
o ex-presidente Lula pelos crimes de lavagem de dinheiro, na modalidade de
ocultação de patrimônio, e falsidade ideológica. A denúncia foi apresentada
nesta tarde pelo promotor Cássio Conserino, que comanda as investigações contra
o petista. Outras quinze pessoas, incluindo a ex-primeira-dama Marisa Letícia e
Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, um dos filhos do casal, também foram
acusadas. Segundo o MP, Lula é o verdadeiro dono do tríplex no Guarujá (SP),
reformado pela construtora OAS. Em entrevista a VEJA em janeiro deste
ano, Conserino já havia informado que havia indícios suficientes para apresentar
denúncia contra o ex-presidente.
Lula recusou-se por duas vezes a depor na investigação. Nas
últimas semanas, a defesa de Lula encaminhou informações por escrito ao promotor
de São Paulo e conseguiu um habeas corpus no Tribunal de
Justiça do Estado, depois de recorrer também ao Conselho Nacional do Ministério
Público e ao Supremo Tribunal Federal contra o promotor. A denúncia contra o
ex-presidente decorre da investigação de fraudes em negócios realizados pela
Bancoop, cooperativa habitacional de bancários que deu calote em seus associados
enquanto desviava recursos para os cofres do PT. A Bancoop quebrou em 2006 e
deixou quase 3 000 famílias sem seus imóveis, enquanto viam, inermes, petistas
estrelados receber seus apartamentos. Em abril do ano passado, VEJA revelou que,
depois de um pedido feito por Lula ao então presidente da OAS, Léo Pinheiro, seu
amigo do peito condenado a dezesseis anos de prisão no petrolão, a empreiteira
assumiu a construção de vários prédios da cooperativa. O favor garantiu a
conclusão das obras nos apartamentos de João Vaccari Neto, aquele mesmo que, até
ser preso pela Operação Lava-Jato, comandou a própria Bancoop e a tesouraria do
PT. A OAS assumiu também a reforma do tríplex de 297 metros quadrados no
Edifício Solaris, de frente para o mar do Guarujá, pertencente ao ex-presidente
Lula e a sua esposa, Marisa Letícia.
A OAS desempenhou ainda o papel de "laranja" de Lula,
passando-se por dona do tríplex. A manobra foi cuidadosamente apurada pelos
promotores do Ministério Público de São Paulo, que trabalham a apenas quinze
minutos de carro da sede do Instituto Lula. Durante seis meses, eles se
dedicaram a esquadrinhar a relação entre a OAS e o patrimônio imobiliário dos
chefes petistas. Concluíram que o tríplex no Guarujá é a evidência material mais
visível da rentável parceria de Lula com os empresários corruptores que hoje
respondem por seus crimes diante do juiz Sergio Moro, que preside a Operação
Lava-Jato. Os promotores ouviram testemunhas e obtiveram recibos e contratos que
colocam o ex-presidente na posição de ter de explicar na Justiça as razões pelas
quais tentou de todas as maneiras negar ser o dono do tríplex. Para os
promotores, as negaças de Lula configuram o crime de lavagem de dinheiro. Em
fevereiro, VEJA revelou novos diálogos que mostram Lula e
Marisa Letícia tratados como "o chefe e a madame" pela cúpula da empreiteira
OAS, que assumiu a obra da cooperativa Bancoop, ligada ao PT, e reformou a
cobertura para o ex-presidente na praia das Astúrias.
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