
Sessão da comissão especial do impeachment para discussão do parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO), nesta sexta-feira (08), em Brasília (DF). A discussão deve se estender até segunda-feira (11). Cada deputado integrante da comissão tem 15 minutos de fala. Para deputados não integrantes, 10 minutos - 08/04/2016(Luis Macedo/Câmara dos Deputados)
A comissão especial do impeachment realizou uma sessão
histórica nesta sexta-feira e adentrou a madrugada de sábado - algo pouco usual
- com discursos majoritariamente favoráveis ao afastamento da presidente Dilma
Rousseff, num Congresso Nacional praticamente deserto. Dos 116 inscritos para
debater o voto desfavorável a Dilma do relator Jovair Arantes (PTB-GO), vinte
parlamentares se posicionaram contra o impedimento e quarenta a favor, o dobro.
Um ficou indeciso. A votação final ocorrerá na noite de segunda-feira, e a
tendência é que o colegiado dê aval ao afastamento da presidente, que ainda
precisará ser confirmado no plenário da Câmara e no Senado Federal. Ao todo, 61
deputados fizeram uso da palavra entre a tarde de sexta-feira e a madrugada de
sábado. A reunião durou mais de 13 horas. Na segunda-feira, os 27 líderes
partidários ainda poderão discursar, além do relator e do advogado-geral da
União, José Eduardo Cardozo, defensor da presidente.
Em meio aos debates, os parlamentares da base governista
começaram a abandonar o plenário. Coube a um dos vice-líderes do governo
reconhecer a expectativa de derrota do Planalto na comissão.
"Aqui na comissão nós já perdemos. Pode ganhar aqui, não estou nem ligando. Será
uma ilusão. Vocês não vão colocar 342 votos no painel no plenário no domingo",
disse Silvio Costa (PTdoB-PE). O parlamentar calcula que a base governista terá
entre 29 e 31 votos dos 65 na comissão e não conseguirá enterrar o avanço do
relatório favorável ao afastamento de Dilma. A principal arma do Planalto é
capturar, por meio do fisiologismo, votos de parlamentares do baixo clero no
plenário. E Silvio Costa tem sido um dos principais articuladores de votos
pró-Dilma. O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), manteve o posicionamento
anunciado antes e defendeu a presidente Dilma. Picciani ponderou que os juristas
que ajuizaram a denúncia fizeram discursos políticos na comissão e que não
encontrou na denúncia fundamentos jurídicos de que Dilma praticou crime de
responsabilidade ao editar decretos de crédito suplementar e atrasar repasses a
bancos públicos, as pedaladas fiscais. "Tenho convicção de que ela não cometeu.
Seria aceitável por qualquer outra razão que a estabilidade republicana do
presidencialismo pátrio fosse rompida? Se há dúvida que ela cometeu crime de
responsabilidade, devemos ir adiante? A meu juízo isso é um erro", questionou
Picciani.
O peemedebista fez o último discurso governista, por volta às
2h42 da madrugada. Daí em diante, a comissão virou um monólogo pró-impeachment,
com críticas ao saldão de cargos, emendas parlamentares e ministérios promovido
pelo Planalto, como informa a edição de VEJA deste fim de
semana. "Dilma usa o governo para dar guarida aos que podem ser presos", disse
Bruno Covas (PSDB-SP), logo após ler no plenário a transcrição grampo telefônico
em que a presidente adianta o termo de posse do ex-presidente Lula na Casa
Civil, para blindá-lo de um pedido de prisão preventiva. "O golpe real foi ter
mentido para a população nas eleições de 2014, tentar calar a imprensa, o
Ministério Público e o Judiciário. Esse golpe não passará, impeachment já." "O
Brasil não tem jeito enquanto a presidente Dilma continuar no poder", disse
Mendonça Filho (DEM-PE). Ele afirmou que "quem comanda o país é o ex-presidente
Lula, de um hotel em Brasília". "Alguns se veem intimidados pela pressão do
governo, alguns são cantados para que desviem da rota do interesse público com
mecanismos aéticos, troca de cargos, oferta até do Ministério da Saúde para
conquistar a toco custo a permanência no poder." "A melhor alternativa para o
Brasil é que o vice-presidente Michel Temer possa fazer essa transição", disse
Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Indecisos - A reunião também evidenciou que
ainda há votos em jogo. Inicialmente inscrito para falar tanto contra quanto a
favor, o deputado Bebeto (PSB-BA) usou a palavra em defesa da presidente, mas
afirmou que só definirá sua posição na segunda-feira. Ele criticou industriais
favoráveis ao impeachment e se mostrou reticente em relação ao governo que
poderá emergir do impeachment, liderado pelo PMDB. O pessebista disse que o
processo de afastamento é muito influenciado por questões políticas, como
Operação Lava Jato e a crise econômica.
Em conversa com o site de VEJA, Bebeto admitiu que não se
convenceu de que as condutas de Dilma caracterizam crime de responsabilidade e
deu sinais de que deve votar contra o impeachment, se o partido liberar o voto.
"Em dúvida, a favor do réu", afirmou. Ele deu sinais de que discorda da posição
da bancada do PSB, que indicou apoio ao impeachment. Bebeto argumentou, porém,
que a orientação não deve ser necessariamente seguida e que a Executiva Nacional
deverá se manifestar sobre uma posição fechada na segunda-feira. Se o comando do
partido adotar posição unitária, ele afirma que seguirá.
Defesa - Houve três votos em separado,
alternativos ao do relator. Todos pretendem barrar a denúncia por crime de
responsabilidade contra Dilma. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que
vota em separado porque o impeachment "não tem justa causa". O petista criticou
a debandada do PMDB da base do governo, liderada pelo vice-presidente Michel
Temer: "Temer se apressou e com seu staff, Eliseu Padilha e Moreira Franco,
apresentou um programa que não ganharia a eleição, coligado a forças
derrotadas".
O Líder do PDT, Weverton Rocha (MA), reproduz o argumento
palaciano do "golpe de Estado" e diz que as acusações são "desprovidas de
gravidade extrema, incapazes de atingir os alicerces centrais da ordem jurídica
democrática" e "poderiam resultar em abalos à estabilidade institucional". O
terceiro relatório alternativo é do PSOL. O partido acusa o processo contra
Dilma tem "defeitos congênitos" e repete um discurso oficial da defesa dilmista,
que alega "vingança" do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é réu
na Operação Lava Jato e responde a processo no Conselho de Ética e Decoro
Parlamentar.
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