
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala durante uma coletiva de imprensa com a mídia internacional em São Paulo - 28/03/2016(Paulo Whitaker/Reuters)
O procurador-geral da República Rodrigo Janot encaminhou nesta
quinta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) parecer em que defende que seja
anulado o ato de nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como
ministro da Casa Civil. O chefe do Ministério Público se valeu, entre outros
argumentos, dos grampos telefônicos em que Lula mostra preocupação com a
tramitação do processo penal contra ele na 13ª Vara Federal de Curitiba, sob
responsabilidade do juiz Sergio Moro, e em que avalia estar "assustado" com a
"República de Curitiba", em referência aos procuradores da Operação Lava Jato. O
grampo mais revelador, porém, é aquele em que o petista e a presidente Dilma
Rousseff discutem a assinatura do termo de posse "em caso de necessidade".
Depois da manifestação do de Janot, o ministro Gilmar Mendes, que é relator do caso, já liberou o processo para ser pautado no plenário do STF. Ao analisar o caso, Janot afirma que, a despeito do discurso de governistas de que a nomeação de Lula poderia fortalecer a articulação política do governo e alçá-lo à condição de negociador político, "os predicados do nomeado, todavia, não justificam as circunstâncias anormais da antecipação da posse e da entrega de um termo para que fosse assinado, caso não pudesse comparecer à cerimônia". "Se havia óbice à posse, por qualquer motivo, naturalmente existiria também à entrada dele em exercício, o que afastaria a urgência da remessa do termo à pessoa do nomeado, já que ele estaria impossibilitado de colaborar na qualidade de ministro", afirma Janot.
Depois da manifestação do de Janot, o ministro Gilmar Mendes, que é relator do caso, já liberou o processo para ser pautado no plenário do STF. Ao analisar o caso, Janot afirma que, a despeito do discurso de governistas de que a nomeação de Lula poderia fortalecer a articulação política do governo e alçá-lo à condição de negociador político, "os predicados do nomeado, todavia, não justificam as circunstâncias anormais da antecipação da posse e da entrega de um termo para que fosse assinado, caso não pudesse comparecer à cerimônia". "Se havia óbice à posse, por qualquer motivo, naturalmente existiria também à entrada dele em exercício, o que afastaria a urgência da remessa do termo à pessoa do nomeado, já que ele estaria impossibilitado de colaborar na qualidade de ministro", afirma Janot.
Para o procurador-geral, existem indícios claros, com base na
análise dos acontecimentos que envolvem o petista, de que sua nomeação seria uma
fraude à Justiça por garantir foro privilegiado ao ex-presidente unicamente para
que ele não fosse julgado por Sergio Moro. Rodrigo Janot cita, em sua
argumentação, a dança de cadeiras promovida no Palácio do Planalto para abrir
uma vaga a Lula na Casa Civil. "A sofreguidão para inserir o ex-Presidente no
cargo de Ministro de Estado Chefe da Casa Civil levou o Governo Federal a
designar seu anterior ocupante, o Senhor Jaques Wagner, para o cargo de Chefe do
Gabinete Pessoal da Presidente da República, que até então possuía natureza
especial e foi apressadamente transformado em cargo de ministro pela Medida
Provisória 717", relata o MP. "O momento da nomeação, a inesperada antecipação
da posse e a circunstância muito incomum de remessa de um termo de posse não
havida à sua residência reforçam a percepção de desvio de finalidade", completa.
Segundo Janot, aceleraram as articulações do governo para
nomear Lula como ministro situações como a delação premiada do ex-líder do
governo no Senado Delcídio do Amaral, e a denúncia e o pedido de prisão feitos
pelo Ministério Público de São Paulo. "Nesse cenário, a nomeação e a posse do
ex-Presidente foram mais uma dessas iniciativas, praticadas com a intenção, sem
prejuízo de outras potencialmente legítimas, de afetar a competência do juízo de
primeiro grau e tumultuar o andamento das investigações criminais no caso Lava
Jato", critica Rodrigo Janot. "A transgressão ao componente ético e jurídico dos
princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade
administrativa por ato do poder público impõe declaração de nulidade, ainda que
concorram para sua motivação finalidades legítimas", conclui o procurador-geral.
Em uma primeira manifestação, o chefe do MP havia alegado que Lula poderia ser
ministro, mas defendido que o processo que tramita contra ele permanecesse nas
mãos do juiz Sergio Moro.
Desvio de finalidade - No último dia 18, o
ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar em
ação impetrada pelos partidos PPS e PSDB para impedir a nomeação do
ex-presidente Lula como ministro. Como justificativa para a decisão, o
magistrado traçou um paralelo com a decisão do STF sobre o ex-deputado Natan
Donadon, que renunciou ao seu assento na Câmara para impedir o julgamento
iminente de uma ação contra ele no STF, fazendo com que o caso reiniciasse na
primeira instância. Segundo o ministro, a situação de Lula é inversa - sua
nomeação como ministro levaria seu caso para a corte superior - mas a finalidade
de driblar a Justiça seria idêntica.
A decisão cita estudo do jurista Vladimir Passos de Freitas, cuja conclusão é a de que nomear pessoa para lhe atribuir foro privilegiado é ato nulo. Segundo Mendes, a nomeação de Lula teria sido feita com "desvio de finalidade": apesar de estar em aparente conformidade com as prerrogativas que a presidente tem para escolher ministros, ela conduziria a "resultados absolutamente incompatíveis" com a finalidade constitucional dessa prerrogativa e por isso seria um ato ilícito.
A decisão cita estudo do jurista Vladimir Passos de Freitas, cuja conclusão é a de que nomear pessoa para lhe atribuir foro privilegiado é ato nulo. Segundo Mendes, a nomeação de Lula teria sido feita com "desvio de finalidade": apesar de estar em aparente conformidade com as prerrogativas que a presidente tem para escolher ministros, ela conduziria a "resultados absolutamente incompatíveis" com a finalidade constitucional dessa prerrogativa e por isso seria um ato ilícito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário