
O deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) (ao centro) comemora após vencer o segundo turno da eleição para a presidência da Câmara (André Dusek/Estadão Conteúdo)
Já era madrugada desta quinta-feira quando o painel eletrônico
da Câmara dos Deputados finalmente anunciou o nome daquele que comandará a Casa
pelos próximos sete meses: o democrata Rodrigo Maia (RJ) foi eleito em segundo
turno com 285 votos. O deputado do DEM venceu a disputa contra Rogério Rosso
(PSD-DF), que teve 170 votos. O outro favorito, Marcelo Castro (PMDB-PI),
ex-ministro de Dilma Rousseff e apoiado pelo PT, ficou de fora, tendo recebido
apenas 70 votos no primeiro turno. A poderosa cadeira coloca Maia no posto de
substituto do presidente interino Michel Temer quando este se ausentar do país.
No discurso antes do segundo turno, Maia defendeu a independência da Câmara e
falou em “acabar com o império dos líderes”. “Os lideres são fundamentais, mas
não são os únicos que têm direito à palavra. Cada um de nós tem direito a usar
esse microfone. Vamos devolver ao plenário a sua soberania”, afirmou. Depois de
confirmada a vitória, o deputado tomou posse imediatamente como presidente da
Câmara, agradeceu à família e chorou. Maia obteve apoio do PSDB, PPS, DEM, PSB e
contava também com a simpatia do Palácio do Planalto. Publicamente, o presidente
interino Michel Temer manteve o discurso protocolar de que não pode interferir
na definição do sucessor de Cunha, embora tenha operado diretamente para evitar
a todo custo a vitória de Marcelo Castro.

A cautela é justificada pela necessidade de Temer implementar e
ver aprovadas com urgência no Congresso medidas de seu governo interino. E de
resto sepultar o risco de prosperar um pedido de impeachment contra ele – o tema
adormeceu nas mãos do presidente Waldir Maranhão (PP-MA), a despeito da ordem do
Supremo Tribunal Federal (STF) para que o processo seguisse adiante. Maia
trabalhou arduamente pelo afastamento de Dilma Rousseff, ao contrário de Marcelo
Castro, que votou contra o impeachment da petista. Maia não responde a processos
no STF, mas teve seu nome envolvido na Operação Lava Jato após aparecer em troca
de mensagem de Léo Pinheiro, da OAS, pedindo doações. O deputado é alvo de um
pedido de inquérito da Procuradoria-Geral da República (PGR). Já o diagnóstico
de enfraquecimento do favoritismo do segundo colocado Rosso se deve
essencialmente à pulverização de candidatos do maior bloco partidário na Câmara,
que buscam no mandato-tampão nacos de influência para projetos pessoais de
poder, ainda que todos sejam da base de sustentação do governo provisório de
Michel Temer.
Para além do amplo racha entre partidos alinhados a Temer, os
indícios de desidratação da candidatura de Rosso são creditados também às
revelações feitas por VEJA de que duas testemunhas assistiram ao vídeo em que o
deputado aparece recebendo propina do ex-secretário do governo do Distrito
Federal Durval Barbosa, delator da Operação Caixa de Pandora e responsável pelo
escândalo do mensalão do DEM no DF. Na festa de aniversário do ministro da
Educação Mendonça Filho (DEM) nesta terça-feira, um dos temores de apoiadores de
Rosso era o de que o vídeo viesse à tona a qualquer momento e eles sofressem
desgaste por ter apoiado um parlamentar que poderia ser confrontado com imagens
em que embolsaria propina. A vitória de Maia recoloca o DEM no comando da Câmara
dos Deputados pela primeira vez em treze anos: o último nome do partido a
comandar o posto foi Efraim de Moraes, entre 2002 e 2003. E representa uma
vitória da articulação do Planalto – um cenário muito diferente do que se viu em
fevereiro do ano passado, quando Eduardo Cunha derrotou o petista Arlindo
Chinaglia (SP) com acachapantes 267 votos. O resto é história.
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