Finalmente saiu. A tão debatida e aguardada reforma do ensino
médio brasileiro está sendo anunciada agora, em Brasília. Será sacramentada por
uma medida provisória, assinada pelo presidente Michel Temer. O texto subverte
uma fórmula que leva ao fracasso e, seguido à risca, pode resgatar o Brasil das
últimas posições que já se habituou a ocupar nos rankings que comparam jovens
estudantes do mundo inteiro. Passa a vigorar imediatamente, mas as redes de
ensino e escolas precisarão de tempo para se adaptar. Em 2018, a expectativa é
de que já estará tudo diferente.
Primeiro e decisivo ponto positivo: a
flexibilização. Hoje, 100% dos jovens fazem o mesmíssimo percurso durante os
três anos do ciclo médio. São treze disciplinas obrigatórias ensinadas com
idêntica profundidade – ou superficialidade – a estudantes de interesses e
capacidades distintas. De acordo com a MP, a grade deixa de ser engessada,
permitindo ao aluno escolher a metade das matérias que irá cursar. Isso dentro
de cinco áreas mestras: linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da
natureza e formação técnica profissionalizante.

Cursos técnicos devem ser estimulados daqui em diante (Eduardo Lima / Folha Imagem/VEJA/VEJA)
A outra metade do currículo seguirá igual para todos. O que
entra e sai da grade ainda está por definir, provavelmente até janeiro, dentro
da Base Nacional Curricular. Mas que vão se enxugar conteúdos não há dúvida.
Afinal, hoje o ensino médio consome uma média de 2400 horas. Como 1200 delas
serão escolhidas pelo estudante, restarão apenas outras 1200 horas para acomodar
a parte obrigatória. Matemática e português continuarão com a carga atual,
durante os três anos, e inglês passará a ser uma exigência. A nova fórmula – que
aliás só é nova aqui, já que países de boa educação a conhecem há tempos – é um
caminho para expurgar a atual rigidez do ensino médio. Sendo igual para todo
mundo, pressupõe que todo mundo seja igual. Assim, não atrai a maioria, um
desastre do ponto de vista da trajetória desses jovens e do país. Atualmente,
1,7 milhão de brasileiros entre 15 e 17 anos estão fora da sala de aula. De cada
100 alunos que ingressam no ensino médio, apenas 50 se formam, e mal. “O modelo
atual precisa mudar já. É uma catástrofe”, resume Marcos Magalhães, presidente
do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE).
Segundo e também decisivo ponto da MP: um dos trajetos
possíveis ao longo do ensino médio será o curso técnico. Esses estudantes, é bom
esclarecer, também cumprirão a ala obrigatória de disciplinas. O impulso para o
ensino técnico é mais do que bem-vindo. Modalidade ainda vista no Brasil como de
segunda classe, já produziu resultados espetaculares em países como Coreia do
Sul, Suíça e Alemanha. Braços especialmente talhados para certos ofícios
funcionam como mola para a economia. Atualmente, o adolescente pode fazer no
Brasil o ensino técnico, mas antes disso precisa encerrar todo o roteiro de
disciplinas do ciclo médio. O resultado é desastroso: muita gente debanda antes.
Não à toa, menos de 10% dos brasileiros seguem esta rota, enquanto em países
mais desenvolvidos eles passam da metade. A medida provisória prevê ainda algo
crucial, repassar verbas aos estados para que consigam implantar o ensino
integral. Hoje os jovens brasileiros batem outro desses recordes desfavoráveis:
estão entre os que têm jornada escolar mais curta, de quatro horas e meia. A
média na OCDE (organização que reúne os países mais ricos) é de sete horas. Está
claro que é preciso estudar mais e melhor para que a juventude daqui possa
brigar por um lugar ao sol no disputado tabuleiro global. As mudanças agora
anunciadas têm tudo para ser um primeiro passo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário