
O presidente paraguaio (à esq.) está ameaçado de morte e o traficante Jarvis Pavão (à dir.), de extradição (Henry Romero/Reuters; Andrés Cristaldo/EFE)/Por Leonardo Coutinho
Narcos agem como narcos. Em 1989, Pablo Escobar, o chefão do
Cartel de Medellín, tentou matar o então ministro da Justiça e candidato à
Presidência da Colômbia, César Gaviria. Com a ajuda de um terrorista do ETA (o
grupo separatista basco, da Espanha), seus capangas plantaram uma bomba em um
voo de carreira no qual Gaviria embarcaria. A explosão deixou um saldo de 110
mortos. Gaviria não estava a bordo. Vinte e sete anos depois, a audácia se
repete. Na semana passada, autoridades do Paraguai revelaram que bandidos
brasileiros que operam no país puseram a cabeça do presidente Horacio Cartes a
prêmio: 5 milhões de dólares para quem o matar. A oferta, segundo o
ministro-chefe da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, Hugo Vera, partiu
do Primeiro Comando da Capital (PCC), a organização criminosa que surgiu em São
Paulo em 1993 e hoje busca a hegemonia do tráfico de drogas no país vizinho.
A revelação de que o PCC planeja atentar contra a vida do
presidente do Paraguai foi confirmada a VEJA pelo ministro Francisco de Vargas,
do Interior. Ele disse que informações de inteligência “bastante sólidas”
levaram a um reforço na segurança de Cartes e seus familiares. Segundo as
autoridades paraguaias, a ordem para o atentado foi emitida pelo traficante
brasileiro Jarvis Chimenes Pavão, reconhecido como o maior nome do PCC no
Paraguai e um admirador de Pablo Escobar. Pavão ganhou as páginas do noticiário
paraguaio há dois meses, quando o Ministério Público revelou que ele — a exemplo
de seu ídolo colombiano — mandara construir instalações repletas de conforto
para o cumprimento de sua pena dentro de um presídio de segurança máxima. O
pavilhão vip de Pavão era equipado com três suítes, camas de casal e
televisores, além de contar com uma biblioteca, uma cozinha e um escritório onde
ele despachava com seus comandados.
A descoberta da existência da cela de luxo, que tinha o aval
dos diretores do maior presídio do Paraguai, resultou na queda da ministra da
Justiça, Carla Bacigalupo, e serviu para aprofundar as tensões entre o PCC e o
governo de Assunção. A reação do Estado, que levou ao fim dos privilégios de
Pavão, teve início em junho, quando o traficante brasileiro Jorge Rafaat foi
executado na cidade de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil. O PCC
usou uma metralhadora antiaérea para vencer os 22 homens que faziam a segurança
de Rafaat — todos armados com fuzil.
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