
Gastos públicos: cálculo levou em conta reforma da Previdência e proibição de aumento do salário mínimo
Brasília – Mesmo aprovada a proposta de limitar o crescimento
das despesas públicas nos próximos 20 anos, o governo ainda terá de fazer uma
economia monumental para alcançar seu objetivo. Segundo Manoel Pires,
ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
durante o governo Dilma Rousseff, sem reformas adicionais, seria necessário
fazer uma redução gigantesca, de R$ 87 bilhões, nas despesas do governo que não
são obrigatórias, o que seria inviável. Até num cenário de aprovação de medidas extremamente
impopulares, o corte das despesas necessário até 2021 seria de R$ 14 bilhões
para o cumprimento do teto, de acordo com simulações feitas por Pires em estudo
sobre a PEC do Teto.
Ele levou em conta a reforma da Previdência, o fim do abono
salarial a partir de 2018, a proibição de aumento do salário mínimo acima da
inflação e a elevação para 70 anos da idade mínima para acesso aos benefícios de
assistência social (Loas). “Ainda dá tempo de mudar a PEC”, diz Pires. Para ele, o pior
cenário para o País seria o governo ter de dar um sinal invertido pouco tempo
depois de aprovada a PEC do teto do gasto, alterando a proposta. Essa
possibilidade chegou a ser aventada pelo próprio presidente Michel Temer, que
admitiu alterações das regras do teto depois de quatro, cinco anos de vigência.
Pelo texto da PEC, as despesas não poderão crescer acima da inflação por 20
anos.
Economista do Ipea, Pires defende a aprovação de um limite de
gasto como importante instrumento “pedagógico”, mas defende que haja
possibilidade de aumento real dos gastos pelo menos a partir do segundo ano de
vigência do teto. Pelos seus cálculos, o governo já deve começar a ter problemas
para administrar as despesas no segundo ano de vigência. O pesquisador avalia
que a melhor solução é o teto vinculado à taxa de crescimento do PIB. Braço direito do ex-ministro Fazenda do governo Dilma Rousseff,
Nelson Barbosa, Pires diz que a quantidade de reformas necessárias para adequar
o crescimento corrente da despesa ao teto é enorme e improvável que ocorra.
Segundo a conclusão do estudo, o limitador do crescimento das
despesas proposto pelo governo pode “implodir” o Orçamento do governo federal. Simulações feitas pelo economista indicam que a PEC produz um
impacto muito grande sobre o Orçamento corrente, se nenhuma reforma ocorrer. Isso porque as despesas do governo são bastante rígidas de
forma que vários itens do Orçamento crescem por regras específicas.
Cortes
As simulações feitas até 2021 mostram que os principais itens
de despesas obrigatórias continuam crescendo muito acima do limite do gasto.
Nesse caso, os demais itens de despesa deverão passar por uma redução
significativa. Pelos cálculos do estudo, ao final de 2021, os demais itens de
despesa deverão sofrer uma redução correspondente a 2,3 ponto porcentual do PIB.
Com as reformas rigorosas, os resultados indicam que ainda
haverá uma queda de 1,5 ponto porcentual em relação ao PIB, apontando para a
necessidade de um contingenciamento significativo de investimentos e em outras
políticas sociais como Educação. No estudo, Pires avalia que a PEC não pode ser aprovada sem que
haja concordância sobre as reformas futuras que serão necessárias. “Se isso
ocorrer, o Orçamento poderá implodir, com as despesas contingenciáveis ou os
investimentos públicos caírem até chegar a zero”, diz o estudo.
O estudo reforça a avaliação de muitos economistas de que não
basta a PEC para definir qual será a taxa de crescimento real do gasto nos
próximos anos. Para o pesquisador do Ipea, a pior situação será aprovar a PEC
com “a ilusão de que o gasto foi reduzido e o ajuste foi concluído”. “Se o Congresso não concordar com a integralidade dos ajustes,
uma vez aprovada a PEC, o Orçamento ficaria inviável, diz Pires.”Quem
contrataria um engenheiro que começa a construir a casa pelo seu teto?”,
ressalta ele no estudo. Pires trabalhou na proposta desenhado por Barbosa de impor no
Plano Plurianual (PPA) limites para o aumento da despesa pública em proporção ao
PIB.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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