
Ao que tudo indica, a recessão ficou mesmo para trás, de acordo
com economistas consultados pelo G1. Além da boa surpresa da
supersafra de grãos, a inflação em queda e os cortes de juros melhoraram as
perspectivas de que a economia brasileira finalmente conseguirá ganhar fôlego e
entrar numa nova fase. O vai e vem de indicadores ora positivos, ora negativos
em alguns setores, entretanto, retratam uma recuperação ainda oscilante e não
disseminada, segundo os analistas, o que torna a retomada lenta e modesta, num
cenário ainda marcado por fraca demanda e desemprego alto.
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(Foto: Arte G1)
As projeções apontam para um crescimento forte da economia no 1º trimestre,
puxado quase que exclusivamente pelo agronegócio, o que deve garantir que o país
registre o primeiro PIB (Produto Interno Bruto) positivo após 8 trimestres
seguidos de contração. No ano passado, a economia brasileira aprofundou a crise
ao encolher 3,6%, marcando a mais longa recessão da história. O ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, estima que a economia deve ter crescido entre 0,7%
e 0,8% entre janeiro e março, na comparação com o quarto trimestre do ano
passado. Já as projeções do mercado variam de 0,4% a até mais de 1%. Para o ano,
a maioria dos analistas continuam esperando um crescimento abaixo de 0,5%. Os
números oficiais do PIB do 1º trimestre serão divulgados pelo IBGE no dia 1º de
junho.
1º trimestre anabolizado
1º trimestre anabolizado
O grande empurrão neste começo de ano veio do setor agropecuário, que começou
a tirar do chão aquela que deverá ser a maior colheita da história do Brasil.
Segundo a última estimativa do IBGE, a safra deve crescer 25,1% neste ano, para
230,3 milhões de toneladas. Na primeira estimativa para a safra de 2017,
divulgada em novembro de 2016, a previsão era de aumento de 13,9%. A CNA
(Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) estima em 8,5% a alta o PIB
do setor em 2017, após um recuo de 6,6% no ano passado. A economista Sílvia
Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, calcula que a agropecuária
pode ter registrado uma expansão até superior a 10% no primeiro trimestre,
representando um impacto positivo de ao menos 0,7 ponto percentual na variação
do PIB de janeiro a março. “O primeiro trimestre parece ter sido um pouco
anabolizado. Se não fosse a contribuição da agropecuária, teríamos uma contração
no 1º trimestre ou quase uma estagnação”, afirma Matos, para quem o PIB do país
cresceu 0,6% no primeiro trimestre e deverá avançar 0,4% no ano.
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Apesar da contribuição da agricultura para a melhora no
desempenho de outros setores, como balança comercial e produção de máquinas e
veículos pesados, os analistas recomendam cautela para quem decretar o fim da
recessão com base somente nos números dos 3 primeiros meses do ano. Segundo
eles, ainda não está clara a retomada de outros setores em razão dos efeitos da
herança estatística do forte resultado do 1º trimestre para os 3 meses
seguintes.
As mudanças metodológicas efetuadas pelo IBGE na PMC (Pesquisa
Mensal do Comércio) e na PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), mudando
significativamente os resultados de janeiro e fevereiro, também colocaram mais
pressão e dúvidas sobre o resultado do PIB do 2º trimestre. “Existe uma enorme
chance de ter sido antecipada uma alta que será devolvida no 2º trimestre”,
alerta José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, que projeta um
avanço de 1,2% no 1º trimestre. O analista avalia, no entanto, que a economia
brasileira ainda passa por um processo de estabilização, não podendo ser
afastada a possibilidade de um PIB até mesmo negativo no 2° trimestre. “Estamos
num processo de altos e baixos. O PIB ainda deve oscilar nestes 3 trimestres. A
minha dúvida é se isso não será uma estagnação”, afirma.

Nunca a agricultura brasileira produziu tanto; setor dá adeus à crise
Setores sem tendência definida
A indústria, por exemplo, deve registrar PIB positivo no 1º trimestre, mas a
queda de 1,8% na produção industrial em março veio pior do que o esperado, o que
coloca pressão para o PIB do 2º trimestre. A despeito da recuperação de setores
como o de produção de veículos, os indicadores continuam oscilando e a
ociosidade permanece elevada, com taxa de utilização da capacidade instalada
estacionada ao redor de 77%. Pesa ainda o encolhimento da construção civil, em
meio ao abalo provocado pelo operação Lava Jato na construtoras e ao excesso de
oferta de imóveis.
No setor de serviços, a queda de 2,2% em janeiro se transformou
numa alta de 0,2% após o IBGE revisar a sua base de comparação. Mas os
indicadores oscilantes de segmentos como comércio em meio ao alto endividamento
das famílias e aumento do desemprego. “Por conta da mudança metodológica, o PIB
de serviços deve vir mais fraco no 2º trimestre e mais próximo de zero”, estima
Matos, que projeta que o setor ainda deverá fechar o ano no negativo. Para
Alessandra Ribeiro, diretora de macroeconomia e política da Tendências
Consultoria, já há sinais de recuperação da economia por todos os setores e o
único risco para um PIB negativo no 2° trimestre seria um avanço acima de 1% nos
3 primeiros meses do ano. "Não será nenhum crescimento expressivo, mas já vai
sair do negativo. Acredito que já dá para afirmar sim que o Brasil saiu da
recessão. A dinâmica é bem razoável e podemos chegar ao 4º trimestre crescendo
2,4% em relação igual período de 2016", afirma Ribeiro, que projeta alta de 0,5%
do PIB no 1º trimestre e de 0,3% para o ano.
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Os economistas concordam,
entretanto, que somente os números do 2º trimestre poderão confirmar o fim, de
fato, da recessão.
"Apenas o resultado do 1º trimestre não significaria uma saída definitiva da
recessão. Mais importante é a sinalização para o restante do ano dada pela
recuperação da confiança de consumidores e empresários, em conjunto com a queda
da inflação e do juros", afirma Roberto Padovani, economista do Banco
Votorantim.
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Do lado do consumo, apesar da inadimplência alta e da perda do poder de
compra das famílias, a boa notícia vem da queda acentuada da inflação. "Estamos
vendo ajustes salariais na casa dos 5%. Isso está dando um incremento real na
renda", destaca a economista. Dados do salariômetro, da Fipe, apontam que em
abril os reajustes salariais médios ficaram acima da inflação pelo terceiro mês
seguido. O cenário de juros em queda tende também a melhorar as condições de
crédito e beneficiar a recuperação do consumo. “Apesar de 14 milhões de
desempregados, cerca de 90 milhões ainda estão trabalhando. Com a volta da
confiança e condição de crédito melhor a tendência é que voltem a consumir bens
duráveis”, diz Castelli.

Projeções indicam reação forte da economia, diz Meirelles
O entendimento geral dos economistas, entretanto, é que em meio
ao colapso das contas públicas e baixo poder de compra do brasileiro, o impulso
para a retomada dependerá mesmo do aumentos dos investimentos privados e
estrangeiros. Em 2016, os investimentos caíram 10,2%, na terceira queda anual
consecutiva, segundo o IBGE. "A retomada só virá mesmo quando a taxa de
investimentos começar a ficar positiva", destaca Gonçalves. A aposta geral é
que, confirmada a expectativa de aprovação das reformas da Previdência e
trabalhista, os investimentos ganharão impulso a partir 2018, beneficiados
também por desembolsos dos projetos dos últimos leilões de energia e os da área
do pré-sal previstos para o 2º semestre.
Apesar dos sinais promissores de melhora, há quase que um consenso de que a recuperação será mais lenta do que se gostaria e não desprovida de alguma turbulência em meio ao cenário político ainda conturbado. “Foi uma crise muito aguda e vai ser uma retomada lenta. As projeções indicam que a gente voltará a ter o mesmo PIB de 2014 só lá por 2020", destaca Castelli. "Está melhorando, mas é aquela coisa: devagar, devagarinho. A demanda interna ainda está muito fraca. Esse é ponto", resume Matos.
Apesar dos sinais promissores de melhora, há quase que um consenso de que a recuperação será mais lenta do que se gostaria e não desprovida de alguma turbulência em meio ao cenário político ainda conturbado. “Foi uma crise muito aguda e vai ser uma retomada lenta. As projeções indicam que a gente voltará a ter o mesmo PIB de 2014 só lá por 2020", destaca Castelli. "Está melhorando, mas é aquela coisa: devagar, devagarinho. A demanda interna ainda está muito fraca. Esse é ponto", resume Matos.
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