O
presidente Michel
Temer apelou ao
governador do Estado de São Paulo, Geraldo
Alckmin, e ao prefeito, João
Doria, para que eles trabalhem no sentido de esvaziar o caráter
deliberativo da reunião da Executiva ampliada do PSDB marcada para hoje e que
pode definir a saída dos tucanos da base aliada ao Palácio do Planalto. Após a vitória de
Temer no julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na
sexta-feira (9), o presidente, por meio de aliados e ministros do PSDB, pediu a
Doria e a Alckmin que deem mais tempo a ele para reorganizar sua base e mostrar
que o governo ainda tem força para aprovar as reformas defendidas pelo prefeito
e pelo governador, principalmente a da Previdência.
Dentro do próprio PSDB é dado como certo que Temer não conseguirá fazer as
reformas sem o apoio dos tucanos.
O
medo de Temer é de que a saída do PSDB do governo crie um “efeito manada”, na
expressão de um senador do PMDB próximo a Temer, às vésperas de a Câmara dos
Deputados analisar uma eventual denúncia do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, contra o presidente. Ou seja, a saída dos tucanos pode motivar
outros partidos a seguir o mesmo caminho. Na avaliação do Planalto, se os dois
tucanos paulistas trabalharem para esvaziar a reunião de hoje ou para cabalar
votos pela permanência do PSDB na base, a vitória de Temer estará garantida na
Executiva, que tem 17 membros, caso haja uma votação deliberativa.
Rumo a 2018
Para
auxiliares de Temer, as pretensões eleitorais de Alckmin e Doria favorecem um
entendimento deles com o Planalto neste momento. A dupla também receia que a
saída do PSDB da base governista leve o partido automaticamente para a
oposição, o que favoreceria o PT e deixaria o governador numa posição de
isolamento político para 2018. A ambos ainda interessaria manter Temer no
cargo, ainda que com baixa popularidade, até 2018, quando um dos dois poderá
ser o candidato a presidente.
No
PSDB, a compreensão é de que a substituição de Temer, via eleição indireta no
Congresso, poderia abrir caminho para Rodrigo Maia (DEM-RJ) ser candidato e
permanecer no cargo de presidente, o que elevaria o cacife eleitoral do partido
dele para 2018 e dificultaria um entendimento com os tucanos. Até
ontem à noite, Doria e Alckmin trabalhavam fortemente pelas pretensões de Temer
dentro do PSDB. Porém, ambos não querem tomar o carimbo de “fiador” de um
presidente prestes a ser denunciado no Supremo Tribunal Federal. Por isso, a
dupla aceita dar mais um crédito a Temer, mas com prazo de validade definido e
sujeito a uma mudança de rumos, na dependência de eventuais “fatos novos” e
decisões da Justiça.
Ontem,
Alckmin manteve seu discurso: “O importante é que o PSDB vai apoiar as
reformas. Se vai preservar os ministérios, não importa”. O Planalto já tem
apoios do grupo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na Executiva, além dos quatro
ministros tucanos – Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), Bruno Araújo
(Cidades), Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Luislinda Valois
(Direitos Humanos). Os
governistas esperam aprovar neste mês a reforma trabalhista no Senado, enquanto
reorganizam as forças na Câmara. O Planalto receia que uma decisão desfavorável
a Temer no PSDB, somada à repercussão da reportagem da revista Veja de que a
Agência Brasileira de Inteligência (Abin) espionou o ministro Edson Fachin,
relator da Lava Jato no Supremo, desmobilize o Congresso.
Crise de identidade
A
reunião de hoje ocorre num momento difícil na história do PSDB, fundado em
1988. Um tucano experiente lembrou uma frase do Manifesto ao Povo Brasileiro,
feito pela sigla no ano da fundação: “Longe das benesses oficiais, mas perto do
pulsar das ruas, nasce o novo partido”.
Para ele, este é o momento de o partido
decidir de qual desses lados quer chegar até o ano que vem. Hoje,
o partido deve adiar mais uma vez a decisão. “A ideia é não tomar uma decisão.
É muito curto o tempo entre a decisão do TSE e a reunião”, disse o
secretário-geral do PSDB, deputado federal Silvio Torres (SP).
(Com Estadão Conteúdo)
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