
Apenas 48 horas depois da
sua posse, a primeira crise bate à porta do governador Camilo Santana (PT). E
na sua área mais sensível: a segurança. A série de atentados
registrados desde a madrugada do dia 3 de janeiro contra pelo menos dez ônibus
e um viaduto, além de duas casas, obrigou o governador a pedir ajuda ao Governo
Federal. Não há dúvida de que os
ataques em Fortaleza e cidades do interior são retaliação às declarações
recentes do secretário da Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque
(ex-secretário de Justiça e cidadania no Governo Robinson), empossado no Ceará
três dias atrás. Ainda na cerimônia no
Palácio da Abolição, na terça-feira, o policial civil disse que não reconhecia
as facções, faria uma operação “pente-fino” nas unidades do Ceará para barrar e
apreender celulares e não seguiria modelo de divisão de presos por
penitenciárias dominadas por facção. O contragolpe demorou
apenas um dia. Veio sob a forma escrita – cartas deixadas nos locais dos crimes
informando que os ataques continuariam se o governo insistisse em manter
Albuquerque e sua nova política – e também prática – com os incêndios de
veículos coletivos e explosões da viga de um viaduto.
O “salve”, ao que tudo
indica, foi disparado do sistema penitenciário, sob a responsabilidade de
Albuquerque e que concentra hoje cerca de 28 mil internos distribuídos em
grande parte conforme os laços que dizem ter com as facções criminosas. O Ceará é o primeiro
estado do País a recorrer à gestão de Jair Bolsonaro (PSL) na tentativa de
debelar problema de repercussão nacional: as facções criminosas. É um teste para saber se,
sob o novo presidente, eleito principalmente por suas ideias na segurança, a
cooperação com os estados será efetiva ou apenas retórica de campanha. Camilo participou
recentemente de reunião com o ministro da Justiça Sergio Moro, com quem
conversou sobre a necessidade de transferência de líderes de organizações
criminosas das unidades estaduais para as federais.

Camilo Santana (PT) – Foto: Fábio Lima/ O Povo - Henrique Araújo
Na quinta-feira, 03/01, o
petista voltou a procurar o ex-juiz, agora para solicitar o auxílio de tropas
federais. Ainda não se sabe como será atendido e em que quantidade, mas,
independentemente disso, é certo apostar que Bolsonaro deve se empenhar em
transformar essa ação numa vitrine de seu rigor contra o crime. Além de colocar em
andamento uma ação conjunta entre Governo Federal e Governo Estadual, este
chefiado por um petista que boicotou a posse presidencial, essa força-tarefa
solicitada por Camilo é um laboratório para o próprio governador. Neste momento, a resposta
do Governo tem múltiplas consequências, todas cruciais para o futuro do
petista. Camilo pode reforçar as
diretrizes de Mauro Albuquerque de “tolerância zero” nos presídios, o que
certamente aumentaria a temperatura da crise, com a qual o Abolição teria de
lidar por muito tempo ainda, criando desgaste político num segundo mandato para
o qual reelegeu-se com quase 80% dos votos.
Ou pode ensaiar um recuo
estratégico.
Por enquanto, Camilo não
parece disposto nem a desautorizar seu auxiliar nem a voltar atrás. Pelo contrário. O pedido
de socorro ao Planalto representa uma encruzilhada no enfrentamento às facções.
É, talvez, o maior desafio de governos recém-saídos das urnas, que pode fazer
contracenar dois ex-adversários.
Afinal, general Guilherme
Theophilo, hoje secretário da Segurança Nacional, a cargo de quem se encontra a
coordenação das tropas federais, foi derrotado pelo governador petista na
disputa pelo Abolição em outubro passado. Três meses depois, ambos
precisarão trabalhar juntos contra um inimigo comum, que lançou nas últimas
horas um forte ataque contra as instituições que eles representam.
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