
Resistente à ideia de privatizar empresas estatais
integralmente, a governadora Fátima Bezerra estuda alternativas para atrair
investimento privado para a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte
(Caern). De acordo com o presidente da companhia, Roberto Sérgio Linhares, a governadora
já admite a possibilidade de “abrir o capital” da Caern, como forma de obter
recursos para serem aplicados em projetos de infraestrutura hídrica e
esgotamento sanitário. Na proposta avaliada pelo governo, o Estado
continuaria com o controle da companhia, mas teria a gestão compartilhada com
investidores privados, a partir da venda de ações no mercado financeiro. De
acordo com Roberto Linhares, não há prazo para que isso aconteça. Ele afirma
que, antes, seria necessária uma espécie de preparação da companhia, até para
torná-la mais atrativa aos investidores. “Eu entendo que a Caern tem como continuar pública
(em partes), dando seus resultados, trazendo eficiência e respeito ao erário.
Mas, para isso, precisa trazer o privado para junto. Uma das formas de fazer
isso é com parcerias público-privadas; e abrir o capital. A governadora já
conversa sobre isso e sabe da necessidade”, revelou Linhares, na
segunda-feira, 15, em entrevista à Rádio Cidade (94,3 FM).

Presidente da Companhia de Águas e Esgotos do RN, Roberto Sérgio Linhares/JOSÉ ALDENIR - AGORA RN
O presidente da Caern ressalta, entretanto, que é
preciso otimizar processos internos da empresa antes de o governo se lançar no
mercado em busca de parcerias. “Precisamos organizar a Caern internamente.
Abrir o capital significa ser (antes) mais eficiente, mais ágil, atender
melhor”, enfatizou. Segundo o dirigente, o processo que antecede a
abertura de capital da Caern pode durar até um ano e meio. Nesse período, a
companhia precisaria adotar algumas estratégias para se valorizar no mercado.
“Precisamos fazer o que a gente chama de ‘valuation’, que é dar valor à Caern
para o investidor. Se o investidor não perceber que a Caern tem valor, não tem
como abrir o capital”, reafirma. Entre as estratégias de valorização da empresa,
está a melhoria da governança. Roberto Linhares assinala que órgãos internos já
foram criados recentemente para melhorar esse setor. “Já temos comitê de
auditoria e comissão de controles internos e as licitações já são feitas
separadas”.
Além disso, a Companhia de Águas e Esgotos do Rio
Grande do Norte estuda fazer o que se chama de “monetização”, a partir da
criação de um fundo com bens não operacionais da Caern, para atrair até R$ 150
milhões para a empresa. É avaliada, ainda, a emissão de debêntures, ou seja, a
negociação na Bolsa de Valores de parcelas de dívidas da companhia. Com essas estratégias, a Caern espera ter verba
para aplicar em projetos próprios. O presidente da empresa estima que, em pouco
mais de um ano, seria possível incrementar a receita da estatal em
aproximadamente 25%. Atualmente, a Caern tem uma receita mensal de cerca de R$
52 milhões. “Quando o mercado perceber esse movimento, na busca
da eficiência, (com a Caern) trabalhando como se privado fosse, a gente vai
gerar valor. Os R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões de valor da companhia se refletem,
e a gente consegue captar um valor significativo”, destaca Roberto Linhares.
O dinheiro proveniente da abertura de capital seria
empregado, segundo o presidente da Caern, na universalização do serviço
prestado pela companhia atualmente, tanto no esgotamento sanitário quanto no
abastecimento de água. “Precisamos fazer o que efetivamente somos
contratados para fazer. Não chega a 30% o que temos de esgotamento sanitário no
RN, um número com o qual uma companhia de 50 anos não pode conviver. Vamos
trazer o privado para junto e, com os recursos, começarmos a ter em algumas
cidades 100% de universalização do esgotamento. E também no abastecimento.
Vamos trabalhar firmemente para que nenhum cidadão deixe de ter água”,
salienta. Dentro do processo que antecede a abertura do capital,
Roberto Linhares defendeu também uma “modernização” geral da companhia. Hoje
com 2,3 mil funcionários, a empresa não vislumbra realizar novos concursos
públicos, o que vai exigir mais emprego da tecnologia, por exemplo. “Tem algumas práticas por aí afora que somente a
Caern não pratica. Precisamos enfrentar esses temas com seriedade e
transparência, chamando a responsabilidade para que a Caern se modernize e
preste serviço da forma como a sociedade espera”, finaliza Roberto.
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