A aprovação da continuidade do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) mobiliza os parlamentares no Congresso. Na Câmara, a promessa do presidente Rodrigo Maia é votar a matéria na próxima semana. A principal fonte de financiamento da educação básica no Brasil tem prazo para acabar. Pela legislação em vigor, o Fundeb se extingue no dia 31 de dezembro deste ano. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 15/2015, relatada pela deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), torna o fundo permanente. O texto apresentado pela relatora deve sofrer alteração em relação à participação do governo federal nesse financiamento, que atualmente é de 10%.
A sugestão da deputada é começar em 15% e ir aumentando um ponto percentual por ano, até atingir o índice de 20% em um prazo de seis anos. No entendimento de Rodrigo Maia, no entanto, esse incremento da União no fundo deverá se dar mais lentamente em razão da crise provocada pelo coronavírus. Pelas redes sociais, senadores como Humberto Costa (PT-PE) participam da campanha #VotaFundeb para aprovar a matéria na Câmara. “Ajude a pressionar deputados e deputadas a votarem o Fundeb (PEC 15/2015) com urgência. Se o Fundeb não for renovado, 94% dos alunos da educação básica pública serão prejudicados!”, alertou o senador.
Recursos
Só em 2019, dos R$ 248 bilhões aplicados nas
escolas públicas do país, 65% do total saíram do Fundeb. O fundo recolhe verbas
públicas e reparte o montante entre todas as 26 redes estaduais (mais a do
Distrito Federal) e 5.570 redes municipais de ensino. Ele é composto por 20% de
diversas receitas, entre elas o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Pelo menos 60% dos recursos do Fundeb têm de ser
usados na remuneração de professores, diretores e orientadores educacionais. O
restante vai para despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino, como o
pagamento de outros profissionais ligados à educação, a compra de equipamentos
e a construção de escolas.
— Graças a esse modelo de distribuição chegamos a
um valor de R$ 150 bilhões investidos em 2019, frente aos R$ 35 bilhões do
Fundef, programa que vigorou até 2006. O Fundeb não pode ficar na dependência
da conjuntura política para sua renovação temporária. É necessário que seja
constitucional e permanente para seguirmos com um planejamento de longo prazo
na educação. A pandemia tornou a aprovação do Fundeb ainda mais urgente. A
proposta vem sendo debatida no Congresso desde 2015 e há um consenso entre os
parlamentares sobre a sua aprovação — destacou o presidente da Comissão de
Educação, senador Dário Berger (MDB-SC).
PECs no Senado
Além da PEC na Câmara, duas outras propostas de
emenda à Constituição (PEC 33/2019 e PEC 65/2019) que asseguram a continuidade do Fundeb aguardam
votação no Senado. A PEC 33/2019, do senador Jorge Kajuru
(Cidadania-GO), aprimora e torna o Fundeb permanente. A proposta ainda prevê
que a complementação da União ao fundo passe, em três anos, a corresponder a
30% do aporte feito pelos governos estaduais e municipai
— Se não for mantido esse financiamento que vigora
desde 2006, com renovação periódica, não tenho dúvida nenhuma: o caos pode se
instalar na educação brasileira — advertiu Kajuru em discurso no Plenário.
De autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a PEC 65/2019, além de criar o novo Fundeb na forma de política de Estado no texto da Constituição, aperfeiçoa a ideia em sintonia com as metas do Plano Nacional de Educação (PNE). Randolfe defende, na proposta, que a complementação da União passe de 10% para 40%, no mínimo, do total de recursos do fundo. Além disso, define uma fonte de custeio — a taxação de lucros e dividendos repassados pelas empresas a seus sócios e acionistas — para alimentar essa maior participação de verbas federais. “A não renovação do Fundeb prejudicará a maioria dos alunos da educação básica! Será mais um agravo na educação do país, que depois de ter sofrido nas mãos de Weintraub, hoje nem sequer tem ministro! Precisamos proteger a educação das garras desse governo de incompetentes”, declarou Randolfe na internet. O senador Flávio Arns (Rede-PR) é o relator da proposta e deu voto favorável à matéria.
— Isso vai permitir que nós tenhamos uma educação
básica muito melhor no Brasil. Quando se discute tanto o Pisa [Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes], nós temos que pensar o que fazer
aqui no Brasil. E a resposta é o novo Fundeb. Garantir os recursos municipais,
estaduais, federais, dentro de uma perspectiva adequada — avaliou Arns em
entrevista à Rádio Senado.
Constitucionalização
Confúcio Moura (MDB-RO) chegou a fazer um apelo no
início deste ano em favor da votação da proposta e pela constitucionalização do
fundo.
— O Fundeb deve estar na Constituição, e sem
prazos. Não é 10, 14 ou 20 anos. O Fundeb tem que ser perenizado como um
financiamento garantido. Que se aumente a participação complementar da União —
defendeu.
A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) também é a favor
da criação de uma política de Estado em relação ao Fundeb.
— Desde 2019 que eu, juntamente com toda a Comissão
de Educação do Senado Federal, estamos discutindo a urgência da renovação da
lei do Fundeb. A gente sabe que o Estado brasileiro pode até distribuir renda
com essa reforma tributária que estamos começando a debater, mas se o Estado
brasileiro quer distribuir riqueza tem que oferecer e financiar uma educação
pública de qualidade para todos — ressaltou.
Fonte: Agência Senado
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