A missa da Ceia do Senhor e Lava Pés, celebrada na noite de ontem, teve a participação de centenas de fieis que lotaram a Catedral Metropolitana de Natal. A celebração da Quinta-feira Santa é feita nos moldes da realizada há dois mil anos, e rememora a instituição do sacramento da Eucaristia, durante a última ceia, e o gesto de humildade de Jesus ao lavar os pés dos doze apóstolos. A celebração foi conduzida pelo arcebispo Metropolitano Dom Jaime Vieira Rocha. Nesta Sexta-feira da Paixão, as celebrações ocorrem às 15h, em todas as paróquias de Natal.
Durante a homilia, o arcebispo ressaltou a importância da data. Que celebra o ponto alto do catolicismo, com as cerimônias de instituição do sacramento da Eucarístia, "quando o corpo e o sango de Cristo se tornam pão e vinho"; instituição do sacerdócio e do maior mandamento: "Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei". "Esse amor é visível e palpável por meio do serviço, para uma realidade melhor para todos", frisou o bispo.
Em alusão à Campanha da Fraternidade 2012, que trabalhou o tema "Fraternidade e Saúde Pública", doze profissionais da área da saúde, entre médicos, paramédicos, dentistas e psicólogos foram convidados a participar do rito, representando os doze apóstolos. Com toalhas e uma bacia, Dom Jaime limpou, secou e beijou os pés dos participantes, num ato de servidão. "É o memorial do gesto de Jesus que se despoja da condição de Senhor e faz atividades dos escravos, da época", afirmou.
O lava pés, ratifica o pároco da Catedral, padre Aerton Sales, é o testamento que Jesus deixou para a humanidade, antes de morrer. E resume a citação "assim como eu faço, façais vós também". "Ele, o Senhor, lavou os pés dos 12 apóstolos mostrando que a missão de nós, cristãos, é servir", explica. Em todo o mundo, a Igreja não celebra missa no dia de hoje.
Padres renovam votos em Missa dos Santos Óleos
O "Tríduo Pascal" em que a Igreja Católica celebra a "Paixão e Morte de Jesus Cristo" prossegue, hoje, nas 34 paróquias da Arquidiocese de Natal e nas Dioceses de Mossoró, na região Oeste, e Caicó, na região do Seridó, que congregam a Província Eclesiástica do Rio Grande do Norte. Na manhã de ontem, ocorreu a missa com a bênção dos "Santos Óleos" pelo arcebispo metropolitano, dom Jaime Vieira Rocha, os quais serão usados durante todo o ano de 2012 nas celebrações dos sacramentos do "Batismo", "Crisma" e "Unção dos Enfermos".
Durante a missa do "Santo Crisma" também ocorreu a renovação das promessas sacerdotais diante do arcebispo de Natal. Dela participaram 135 padres, 40 diáconos e 36 seminaristas, sendo que apenas cinco padres da Arquidiocese não participaram da celebração por questão de saúde.
Dom Jaime V. Rocha dirigiu, perante os fiéis católicos que lotaram a Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, padroeira do município, a "Carta Pastoral ao Clero". Nela, ele chamou a atenção dos que foram "chamados por Deus para o exercício do sacerdócio ministerial e hierárquico da Igreja, Corpo místico de Cristo, sacramento universal de salvação e povo eleito de Deus".
Ele falou que a Quinta-feira Santa foi a primeira que se dirigiu como Arcebispo para os padres da Arquidiocese de Natal: "Como é bom e salutar para nós que somos os 'administradores da multiforme graça de Deus', reconhecermos que a nossa missão de presbíteros não é uma invenção nossa nem somos dons dela".
O arcebispo declarou, ainda, que "foi o Senhor que nos escolheu", por isso, continuou, "nunca poderemos retribuir tanta gratuidade da parte de Nosso Senhor". Segundo ele, "é a partir da gratuidade que entendemos nossa identidade e espiritualidade".
Por ocasião da palavra direcionada ao clero natalense, dom Jaime V. Rocha também lembrou, que, este ano, a Igreja Católica celebra os 50 anos de abertura do Concílio Vaticano II: "Quero que todos vos empenheis na vivência do "Ano da Fé".
Além disso, seguindo as orientações do Papa Bento XVI, o arcebispo apontou para os sacerdotes "dois instrumentos valiosos na nossa caminhada de fé", em primeiro lugar para que "não exista entre vós ninguém que ponha em dúvida o caráter vinculante da visão da Igreja que o Concílio trouxe para nós", que é estudar e fazer estudas nas paróquias, pastorais, movimentos e serviços a doutrina do Concílio, confirmada por quatro grandes pilares, entre os quais a Constituição sobre a Liturgia.
Em segundo lugar, falou da importância do "Catecismo" da Igreja Católica "como guia seguro para nós e alicerce para a evangelização e catequese na fé da Igreja".
A celebração da "Semana Santa" continua hoje, Sexta-Feira Santa e amanhã, Sábado de Aleluia, com as comemorações da "Paixão de Cristo" e da "Vigília Pascal".
Na tarde de ontem também foi celebrada a cerimônia do "lava-pés", que simboliza um gesto de humildade e no qual são escolhidos doze homens para repetição do gesto que Jesus Cristo fez aos apóstolos, lavando e beijando os seus pés. Concomitantemente ocorre, ainda, o simbolismo da Santa Ceia.
A liturgia da Sexta-feira Santa
Padre João Medeiros Filho - Da Academia Norte-Riograndense de Letras
A tarde de Sexta-feira Santa apresenta o drama da morte de Cristo no Calvário. A cruz erguida sobre o mundo segue de pé como sinal de salvação e esperança. Com a Paixão de Jesus, segundo o Evangelho de João, contemplamos o mistério do Crucificado, com o coração do Discípulo Amado, da Mãe, do soldado que lhe traspassou o lado.
São João, teólogo e cronista da Paixão, leva-nos a contemplar o mistério da cruz de Cristo. Tudo é profundo, solene e simbólico em sua narração: cada palavra, cada gesto. A densidade de seu Evangelho agora se faz mais eloquente. E os títulos dados a Jesus compõem a mais teológica das cristologias. Jesus é Rei. O patíbulo da cruz é o trono, de onde Ele reina. É ao mesmo tempo, sacerdote e templo, com a túnica sem costura para a qual os soldados tiraram a sorte. É o novo Adão junto à Mãe, a nova Eva. É o sedento de Deus, executor do testamento da Escritura; é o Doador do Espírito, o Cordeiro imaculado e imolado, cujos ossos não lhe foram quebrados. É o Exaltado na cruz que tudo atrai a si, quando os homens voltam para Ele o olhar.
A Mãe estava ali, junto à cruz. Não chegou de repente ao Gólgota. Ela seguia o Filho, como o Discípulo Amado recordou, ao narrar o episódio das bodas em Caná. Maria acompanhou seu Filho Jesus, passo a passo, com seu coração de Mãe. E estava ali como mãe e discípula, que seguiu em tudo a sorte de seu Filho, totalmente ao seu lado. Mas, solene e majestosa como uma Mãe, a mãe de todos, a nova Eva, a mãe dos filhos dispersos que Ela reúne junto à cruz de seu Filho. Maternidade do coração, que infla com a espada de dor que o traspassa.
A palavra de seu Filho prolonga sua maternidade até os confins infinitos de todos os homens. Mãe dos discípulos, dos irmãos de seu Filho. A maternidade de Maria tem o mesmo alcance da redenção de Jesus. Ela contempla e vive o mistério com a nobreza de uma Mãe de muitos, ainda que com a imensa dor de quem perde um filho. São João a glorifica com a lembrança dessa maternidade: última dádiva de Jesus, neste mundo. Certeza de uma presença materna em nossa vida, pois Maria é fiel à palavra de Cristo: "Eis aí o teu filho" (Jo 19, 26)!
O soldado que traspassou o lado de Cristo não se deu conta que cumpria uma profecia e assim realizava o último gesto litúrgico. Do coração de Cristo brota sangue e água. O sangue da redenção, a água da salvação. O sangue é sinal daquele amor maior, a vida entregue por nós; a água é sinal do Espírito, a própria vida de Jesus que agora, como em uma nova criação derrama sobre nós.
Hoje não se celebra a missa em todo o mundo. O altar é despojado de toalhas, sem cruz, velas ou adornos. Recordamos a morte de Jesus. Os ministros se prostram no chão diante do altar no começo da cerimônia. São a imagem da humanidade rebaixada e oprimida e, ao mesmo tempo, penitente, que implora perdão por seus pecados. Vão vestidos de vermelho, a cor do martírio. Cristo foi o primeiro mártir do cristianismo, a primeira testemunha do amor do Pai e de todos aqueles que, como Ele, deram e continuam dando sua vida para proclamar a libertação que Deus nos oferece.
Há um ato simbólico muito expressivo e próprio deste dia: a veneração da Santa Cruz, quando ela é aclamada e apresentada solenemente à comunidade. "Eis o lenho da Cruz, da qual pendeu a salvação do mundo. Vinde adoremos". A cruz é o homem na novidade do seu ser e na totalidade de seu amor. Esse homem também é um Deus: Cristo! E isto é digno de adoração e exaltação.
Fonte.: Tribuna do Norte