Ao alto, caixão coberto com as bandeiras de Caicó e do Fluminense.
'Aqui sempre esteve o sertão brabo, a caatiga com suas terras áridas, amadas por um homem que tinha o sertão no seu coração. Neste momento, temos parte desta terra revolvida, que logo irá envolvê-lo, como um manto de acolhimento, quando ele volta, definitivamente, às suas raízes.'Fátima Arruda, companheira’
Caicó recebeu hoje de volta - e para sempre - um dos seus mais ilustres filhos.O escritor, poeta, jornalista, ateu e devoto de Sant'Ana Moacy Cirne, falecido ontem em Natal, foi sepultado hoje por volta das 11h40 no túmulo da família, no Cemitério São Vicente de Paulo.
O corpo estava vestido com uma camisa assinada por Carlos Castilho, um dos maiores goleiros de todos os tempos do Fluminense, e o caixão coberto pelas bandeiras de Caicó e do Fluminense, duas das grandes paixões dele.
Acima, Fátima Arruda se despede de Moacy, seu companheiro há 19 anos
Em cerimônia simples, com a presença de familiares e amigos, a companheira dele há 19 anos Fátima Arruda se despediu de Moacy, destacando o fato de ele jamais ter renegado as suas raízes.
"Ele foi um homem que saiu do Seridó, mas não deixou o Seridó. Foi um homem que rompeu suas amarras, mas não cortou suas raízes, porque aqui começaram todos os encantamentos e alumbramentos que ele levou consigo por onde passou. E assim ele viveu e amou o Rio de Janeiro, sem nunca esquecer de reverenciar Caicó, Caiacó, Seridó, Seridós. Não foi à taa que todo carioca que conheceu Moacy Cirne passou a conhecer Caicó e o Seridó. Esse ponto geográfico tão distante das belezas e efervescências literárias do Rio de Janeiro, que tanto o encantaram", disse ela, sob aplausos.
Os editores do Bar de Ferreirinha, Roberto Fontes e Clóvis Pereira Jr, o Pituleira, foram se despedir do amigo, colaborador e incentivador do blogue desde os seus primórdios. Pituleira não conseguiu ficar no Cemitério, abalado por forte emoção.Manifestações de pesar foram postadas nas redes sociais e ontem, em Natal, durante o velório, amigos intelectuais, escritores, jornalistas, desembargadores e familiares foram se despedir de Moacy, uma espécie de embaixador autoproclamado de Caicó. O escritor caicoense Ciduca Barros manifestou seu pesar através das redes sociais: 'Estamos surpresos. Estamos tristes. Estamos culturalmente mais pobres. Moacyr Cirne, meu contemporâneo dos bancos escolares, foi mais um fruto daquele formador de intelectuais que foi o Ginásio Diocesano Seridoense.
Na sua última obra literária "Seridó Seridós" ele, gentilmente, citou um livro meu (Seridó - Uma Nação Divertida) e, infelizmente, não tive tempo de agradecer-lhe. Que Deus o receba em sua glória.'
Saudações e saudades tricolores, Moacy!
Abaixo, a homenagem que a poeta Ana de Sant'Ana postou nas redes sociais, resgatando um poema escrito pra ele e publicado no livro Em Nome da Pele, de 2008:
Silente Para Moacy Cirne
Se fosse para falar de cores
Te escolheria o branco
Das nuvens, das flores
Das mudas de roupas
Em dias de procissão
Se fosse para falar de cidades
Se fosse para falar de casa
Se fosse para falar de porto
Te diria da mais-valia do pouco
Se fosse para falar de poesia
Te concederia a palavra
Nua e tua palavra
Se fosse para falar de ti
Se fosse para falar de aura
Elogio: lá onde não está, há
Se fosse para falar do muito
Eu recorreria ao mar
Ao sertão fundo do mar
Só para dizer do teu canto terra mundo.