

O professor de física da UFMT Milton Sonoda foi morto
em São Carlos (Foto: Reprodução/Facebook)
A mulher e a enteada do professor de física encontrado
carbonizado dentro de um veículo em São Carlos (SP) foram detidas pela Polícia
Civil nesta terça-feira (31) por suspeita de terem planejado o crime e matado a
vítima por motivo financeiro. Em depoimento, a viúva, uma advogada de 36 anos,
negou o crime e disse que ajudou apenas a ocultar o cadáver. A filha dela, de
17, assumiu que matou o padrasto com três facadas em casa, enquanto o irmão de 5
anos assistia à TV no quarto. Ambas não demonstraram arrependimento em nenhum
momento, segundo do delegado Gilberto de Aquino, da Delegacia de Investigações
Gerais (DIG).
O delegado informou que não fará a reconstituição do crime
porque as provas deixam claro o envolvimento de ambas. A mãe, que está presa
temporariamente por 30 dias, será indiciada pelo crime de homicídio duplamente
qualificado combinado com corrupção de menores e ocultação de cadáver. Se
condenada, pode pegar de 12 a 30 anos de reclusão. Já a filha, detida por 45
dias, responderá por ato infracional pelos mesmos crimes e, se condenada, ficará
na Fundação Casa no máximo até os 21 anos. As duas foram levadas para a Cadeia
Feminina de Ribeirão Bonito.
O crime
Milton Taidi Sonoda, de 39 anos,
foi assassinado no dia 18 do mês passado, por volta das 10h30. Ele era graduado
e mestre pela Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos e lecionava na
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Uberaba (MG). O delegado
Gilberto de Aquino relatou que o professor foi dopado pela enteada antes de ser
morto, pois estava meio desacordado quando foi golpeado três vezes na altura da
barriga. Ele caiu no chão da sala e agonizou por dez minutos até morrer.
Após o homicídio, o delegado afirma que as mulheres doparam o
filho do casal para que ele dormisse enquanto elas escondiam o corpo. Mãe e
filha saíram para comprar uma pá e sacos plásticos. Ao voltarem, embalaram o
corpo de Sonoda e prenderam com fita crepe. Manobraram o carro de ré na garagem
e colocaram o professor no veículo. Depois, seguiram até o km 148 da Rodovia
Luís Augusto de Oliveira (SP-215), local onde o automóvel com o corpo de Sonoda
dentro foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros à noite, em chamas.
De acordo com o delegado, a adolescente relatou que a pá
comprada serviu para ela abrir uma cova no local em que o veículo estava. Quando
foram retirar o corpo do carro, entretanto, saiu muito sangue e o veículo ficou
manchado. "Elas viram que ficariam vestígios, pois havia impressões digitais de
ambas e, como a viúva é advogada e tem conhecimento jurídico, decidiram atear
fogo no veiculo", disse o delegado.

Investigação foi comandada pelo delegado Gilberto de
Aquino (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
Reforma da casa e descontentamento
A
investigação da DIG concluiu que mãe e filha planejavam a morte do professor há
três meses. Sonoda tinha uma certa quantia em dinheiro que investia na reforma
de uma casa em Uberaba, onde a família passaria a morar. "A mulher não queria se
mudar, e a vítima estava gastando todo dinheiro, a reserva que eles tinham em
caixa. Isso estava trazendo descontentamento", afirmou o delegado.
Para não ficar sem dinheiro, a mulher planejou a morte do
marido. No dia do crime, a viúva contou à polícia que a vítima saiu atrás de um
caminhoneiro para fazer a mudança. Afirmou ainda que, depois, o marido passaria
na USP para se despedir de amigos e, por fim, iria comprar maconha para consumo
próprio. "Ela deu três afirmativas que nós fomos checar e nenhuma delas estava
batendo", disse o delegado.
Vice-presidente da regional da OAB afirma que
ficou chocada (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
Mãe incentivou filha
Segundo o delegado, a mãe
incentivava a filha e ambas discutiam como deveriam assassinar Sonoda, que
viajava de Minas para São Carlos para ficar com a família. Por três vezes, a
enteada pegou carona com padrasto em Ribeirão Preto, onde ela ia na casa do
namorado. A intenção era matar o professor no caminho. "Mas ela não teve
coragem, porque a vítima passou a tratá-la bem e ela acabou se desencorajando e
não efetuando o crime naqueles dias", disse Aquino.
A adolescente relatou em depoimento na presença do Conselho Tutelar que, após
esses episódios, por diversas vezes ela colocou substâncias no suco do professor
na tentativa de envenená-lo, o que não teve efeito. "A vítima teve alguns
problemas, mas nada grave. Depois disso, elas planejaram que iriam esfaquear a
vítima e mandaram afiar três facas para usar como instrumento do crime", relatou
o delegado. Ainda de acordo com Aquino, elas tentaram comprar um revólver
calibre 38, mas não conseguiram. Fizeram ainda contato com o integrante de uma
facção criminosa para que ele cometesse o homicídio, mas ele não aceitou.
Execução
Quando Sonoda chegou de viagem na madrugada de
sábado (14), estranhou os móveis da casa não estarem embalados e prontos para a
mudança. Segundo o delegado, a mulher alegou que o caminhão estava atrasando
tudo. Com isso, ela conseguiu enganar o marido até quarta-feira, quando ele foi
executado.
Desde o crime, a mulher era a principal suspeita, afirmou
Aquino. Segundo ele, tanto ela quanto a filha eram evasivas quando questionadas.
A própria família da vítima, no dia em que foi fazer o reconhecimento do corpo,
desconfiava da versão apresentava pela viúva. "Quando fui na casa e falei do
carro queimado, a menina consolou a mãe de uma forma duvidosa. Eu nem tinha
falado que havia encontrado um corpo dentro do carro. Então, aquilo já levantou
uma grande suspeita em cima da menina", afirmou Aquino. "Elas não demonstraram
nenhum tipo de sentimento, nem arrependimento, nem mesmo no depoimento. A menina
é totalmente fria, não expressa nenhum tipo de sentimento em relação ao
padrasto", completou.
Dor e indignação
O delegado ouviu uma
segunda filha da viúva, que estuda em São Carlos, mas que não morava com a
família e não sabia do crime. Chocada, ela se demonstrou indignada com a
situação. Ao deixar a delegacia, disse, chorando, que não estava em condições de
se manifestar. "É um momento muito triste para mim, eu não tenho o que falar
sobre isso."
O depoimento da mãe, por ser advogada, foi acompanhado pela
vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Carlos, Ariadne
Leopoldino. "Foi terrível. A mãe negou o crime, mas o delegado levantou que ela
instigava e cobrava a filha. Em todo momento mostrou que ela queria a morte. A
menor em nenhum momento demonstrou arrependimento e contou todos os detalhes.
Honestamente, estou chocada de ver a frieza", disse.


Corpo de professor foi encontrado carbonizado
dentro de carro em São Carlos (Foto: Polícia Civil/
Divulgação)
Entenda o caso
No dia do crime, o Corpo de
Bombeiros de São Carlos foi acionado para atender uma ocorrência de incêndio em
veículo no km 148 da Rodovia Luís Augusto de Oliveira (SP-215), próximo da
fábrica de motores da Volkswagen. Quando a equipe chegou, notou que havia um
corpo carbonizado dentro do carro.
Por volta das 20h25, a Polícia Militar foi chamada e encontrou
uma pá no porta-malas do veículo. Também descobriu que a 10 metros do local
havia um buraco, aparentemente uma cova, no qual o corpo poderia ser enterrado.
No início das investigações, a esposa afirmou em depoimento que Sonoda teria
saído de casa para passar em alguns lugares, entre eles uma transportadora onde
pagaria R$ 1 mil pela mudança que faria para Uberaba na quinta-feira (19), com
ela e o filho de 5 anos. Ainda segundo o delegado, o corpo estava no banco
traseiro e a cova teria sido feita para enterrá-lo. "Acreditamos que o professor
já estava morto e queriam despachar o corpo na cova, mas deve ter acontecido
alguma pane no carro, pois havia três marcas de pneus em direções diferentes",
afirmou o delegado na ocasião.