
Sem nenhuma notificação de casos de
covid-19 entre alunos, professores e servidores desde o início da retomada das
aulas presenciais na rede estadual de ensino do Rio Grande do Norte, em 26 de
julho, a expectativa é de que 100% dos estudantes voltem às escolas em 4 de
outubro. Essa é a previsão de Getúlio Marques, titular da Secretaria de Estado
da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC). Atualmente, a rede — que possui 429
mil alunos distribuídos em 588 escolas, segundo dados do Censo Escolar — está
funcionando com aulas presenciais com 30% dos alunos, de modo que todos os
estudantes possam comparecer às unidades em formato de rodízio semanal, onde as
crianças e adolescentes se revezam entre ensino presencial e remoto. A autorização inicial ocorreu em 26
de julho, depois de um ano e quatro meses de paralisação por causa das
restrições sanitárias impostas pela pandemia de covid-19. Os primeiros a
retornarem foram alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental I e os da 3º
série do ensino médio. Em 9 de agosto foi a vez de quem está no 6º e 7º ano do
ensino fundamental e do 2º série do ensino médio voltar a assistir aula nas
escolas.
Por último retornaram os estudantes do 8º e 9º ano do fundamental,
além daqueles que estavam entrando no ensino médio. Todas as turmas permanecem
com 30% de ocupação presencial. As exceções são escolas de pequeno porte que já
retornaram com 100% dos estudantes para dentro das salas de aula. O próximo passo é o aumento para 60%
de ocupação nas escolas em 20 de setembro, até a autorização para a volta
completa em 4 de outubro. Para Getúlio Marques, o monitoramento sanitário de
combate ao coronavírus, que vem sendo feito com os 30% nas escolas, credencia o
Estado a avançar na retomada da educação. “Ficamos muito felizes com essa
retomada gradativa, que ajudou para que, neste período, oficialmente, não
tivéssemos nenhuma notificação de casos [de covid-19] entre estudantes,
professores e funcionários. Isso porque as escolas se prepararam para isso, com
todas medidas sendo cumpridas, como álcool gel, distanciamento, máscara,
lavatórios externos. O retorno está tranquilo, como a gente esperava”, reforça
o titular da SEEC.
Dentro do protocolo sanitário, a
secretaria de Educação ressalta que o monitoramento também é feito junto aos
pais dos estudantes para que um eventual caso de covid possa ser rastreado e
isolado. “A gente sempre chama os coordenadores, professores, colaboradores,
sobretudo de forma virtual, para que não haja relaxamento das medidas. Temos
uma situação tranquila, também pelo avanço da vacinação, mas não podemos
relaxar e precisamos manter o que está sendo feito, até porque mais alunos vão
chegar agora. Os poucos casos que tiveram de gripes, tosse, foram isolados em
uma sala, orientados a ficar em casa e testados. Isso tudo nos ajudou muito”,
acrescenta Getúlio Marques. Com 300 alunos, a Escola Estadual
Alberto Torres, no bairro de Petrópolis, Zona Leste de Natal, está funcionando
com 100% de ocupação desde 30 de agosto. O retorno aconteceu com 50% da
capacidade em 10 de agosto. De acordo com a diretora da unidade, Ilkécia
Kalini, a escola recebeu o aval do Estado para retornar com ocupação total,
após a primeira experiência com 150 estudantes sem nenhum registro de casos de
covid durante 20 dias. “Estamos assim desde 30 de agosto e
vem sendo tranquilo nesse aspecto sanitário.
O próprio número de alunos
permitiu que a gente pudesse ter esse controle. Ainda é feito um rodízio, todos
os alunos não vêm todos os dias porque temos atividades remotas. Conseguimos
fazer toda a organização, dividir as carteiras conforme as orientações de
distanciamento, adaptamos horários, reduzimos os intervalos e tudo isso vem
dando um resultado positivo”, comenta a educadora. Nas salas de aula, a retomada segura
das atividades acadêmicas também conta com uma contribuição importante dos
professores, que, além da função habitual, tiveram que assumir o papel de
“fiscal sanitário”, principalmente entre as turmas mais novas. “Toda hora a
gente precisa ficar orientando para usar a máscara corretamente. Às vezes é
difícil um adulto usar, imagine uma criança, mas tem sido tranquilo. Temos
conseguido manter o distanciamento, até porque a adesão dos alunos ainda não é
tão alta, mesmo com a autorização para 100% dos alunos. Temos um longo caminho
a percorrer para compensar as perdas na pandemia, mas estamos caminhando”,
destaca Eliene Silva, professora de Geografia há seis anos na Alberto Torres.
SEEC avalia reforço para estudantes
De acordo com o secretário Getúlio
Marques, a SEEC desenvolve planos de trabalhos específicos para amenizar as
circunstâncias adversas geradas na pandemia, que provocaram perdas
significativas no aprendizado de crianças e adolescentes, seja pela falta de
equipamentos eletrônicos para acesso às aulas em plataformas digitais, até a
falta de engajamento ao ensino remoto, além da evasão escolar. O impacto, que
afeta uma geração inteira de crianças, é consenso entre diretores acadêmicos,
professores e gestores.
A orientação é para que cada escola
faça um diagnóstico interno para avaliar a situação dos estudantes, visando o
nivelamento do ensino. A partir da identificação do problema, medidas como
aumento da carga horária poderão ser adotadas. “Isso nos mostrará aqueles
alunos que estão dentro do que era esperado com o ensino remoto e aqueles que
estão mais distantes. Então para todos esses alunos são necessários
planejamentos diferentes. Cada escola, com seus professores, faz um plano de
estudo, portanto, não há uma definição de aumento de carga horária para todas
as escolas porque cada caso é um caso. A ideia é ter um acompanhamento
específico para grupos separados”.
Natal registra três casos de
contaminação
Segundo a diretora do Departamento de
Gestão Escolar da Secretaria Municipal de Educação de Natal, Wanessa Maranhão
Rodrigues, no dia 2 de setembro, as escolas da capital registravam três casos
de covid-19, sendo duas funcionárias e um professor. O primeiro passo da
retomada em Natal ocorreu em 14 de julho com as turmas do ensino infantil, já o
ensino fundamental (turmas de 1º ao 5º ano) voltaram em 4 de agosto.
No entanto, nem todas retornaram após
a autorização. É o caso da Escola Municipal Professor Veríssimo de Melo, em
Felipe Camarão, Zona Oeste de Natal, que foi a unidade escolhida para ser
transformada em escola cívico-militar na capital. Além do hiato de ensino
presencial por causa da crise sanitária, os alunos precisam enfrentar ainda o
atraso em obras estruturais, que acabaram retardando o retorno. De acordo com o
diretor administrativo, Marcos Antônio, a falta de aulas na unidade prejudica
ainda mais o aprendizado dos 840 estudantes da Veríssimo de Melo. Ele
acrescenta que a situação acabou travando a transição da escola para o modelo
cívico-militar. “A gente continua no sistema, que é
um sistema que, como todos nós educadores sabemos, não chega nem perto do
presencial.
Isso quando o aluno consegue acessar os conteúdos. Estamos
distribuindo as atividades pelo Telegram [aplicativo de mensagens] e também
entregamos as atividades para os que não possuem equipamentos eletrônicos. É
uma pena que ainda não tenhamos retornado. Está faltando essas questões
hidrossanitárias, nossas duas caixas d’água estão com problemas, o fardamento
ainda está tendo uma dificuldade. Então a parte de implantação do modelo
cívico-militar propriamente dito está deixando a desejar por parte da
Secretaria de Natal”, destaca. A expectativa é de que em até 10
dias, 30% dos estudantes possam voltar à unidade de Felipe Camarão. A reportagem
da TRIBUNA DO NORTE tentou contato por telefone com a titular da pasta da
educação Cristina Diniz, mas não obteve resposta. Ela também não se encontrava
na sede da SME na terça-feira (14).