A relação do advogado Júnior Gurgel e a ex-chefe da Divisão de Precatórios do TJ nunca foi amistosa. Com Carla Ubarana, ele esteve apenas duas vezes, segundo afirma, para pegar uma certidão. “O setor dos precatórios era fechado. Tinha que bater na porta ela (Ubarana) vinha e abria, com a cara mais feia para lhe atender, o processo normalmente não estava e depois você saia sem ter resposta”. Segundo Júnior Gurgel, Carla Ubarana só atendia, realmente a quem queria “ou a quem os desembargadores mandava”. “Carla Ubarana usou a delação premiada para ganhar um prêmio. Ela ganhou um tutti-frutti para ir ao cinema. Existem outras pessoas lá dentro que se beneficiaram, mas não posso informar porque não tive acesso aos processos. Gente média e gente grande”, revelou.
Por isso, segundo o advogado, a delação premiada de Carla Ubarana não contempla toda a verdade dos fatos. “Se ela tivesse denunciado todos os desembargadores, ela estaria dando aquele sorriso ‘Colgate’ todinho na televisão, no Fantástico? Ela está sorrindo por quê? Porque tem as costas largas, de desembargador. Só não é de mim, que não sou desembargador”, afirmou, sem relevar quem não os desembargadores que a defendem. Com relação à entrevista que Carla Ubarana concedeu ao Fantástico, da Rede Globo, veiculada no último domingo, que achou “fraca como refresco de pipoca”, seja lá o que isso quer dizer, Júnior Gurgel destacou o momento em que ela fala que é a única que entendia o funcionamento da Divisão. “Precatório é só uma folha de papel com o resumo da sentença e a liquidação dela. Só isso. Ela é especialista em roubar precatório. E tem mais: ela tem padrinho e madrinha para deixar ela quietinha no canto”.
Tanto é assim, que Júnior Gurgel questionou: “Por que é que a Justiça, que já pegou e confiscou os bens dela, não vende para pagar as contas? O Tribunal de Justiça no ano passado retirou do valor dos precatórios recebidos R$ 104 milhões para despesa de pessoal do Tribunal”. Com relação ao valor que supostamente foi desviado, que gira em torno dos R$ 20 milhões segundo o Ministério Público e a ré Carla Ubarana, Júnior Gurgel também olha com desdenho. “Talvez tenha sido isso a cada trimestre, quadrimestre. Mas não foi não. Foi para mais de R$ 100 milhões”.
NEGOCIAÇÃO DE SENTENÇAS
Júnior Gurgel afirmou que denunciou, ao MP, os desembargadores Judite Nunes, Rafael Godeiro, Osvaldo Cruz e Amaury de Souza Moura Sobrinho. Mas por que o desembargador Amaury? “O desembargador mandou pagar o precatório do procurador do município, Maurício Carrilho Barreto. Foi feito um cheque pela Prefeitura de Natal, o (então) prefeito Carlos Eduardo Alves, ele passou o recibo em gabinete e foi entregue esse recibo lá no Tribunal de Justiça. Isso é uma coisa que realmente não existe. A Prefeitura deveria ter transferido o recurso para a conta bancária. Da conta bancária ter sido feito o alvará ou uma outra ordem de pagamento”. Além disso, o advogado citou ainda o caso que ocorreu em 2005, quando ele recebeu no escritório Ana Lígia, que se dizia funcionária do gabinete do desembargador Rafael Godeiro. “Ela disse que eu tinha vencido uma contra o Sudameris Arrendamento Mercantil . A demanda tinha sido a sentença de R$ 30 mil e que ela conseguiria que eu teria uma decisão dele de R$ 1,5 milhão de reais e teria que dar R$ 200 mil a ela, 20% ela ficava e 80% era do desembargador Rafael Godeiro”. Júnior Gurgel negou a proposta.
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