
A governadora Robalba Ciarlini está a caminho de completar 40 por cento
do seu mandato e a classe empresarial do Rio Grande do Norte ainda não
conseguiu visualizar quais são as diretrizes da sua política de desenvolvimento
econômico, se é que ela existe. Além de não ter, até hoje, estabelecido um só programa administrativo
capaz de estimular o direcionamento de novos investimentos públicos ou privados
para as áreas estratégicas na nossa economia (tais como o turismo, a
fruticultura irrigada, a pesca, a aquicultura, a geração de energia eólica e
solar, a mineração - incluindo-se aí a exploração e beneficiamento do petróleo,
do sal, do calcário, do ferro, das pedras ornamentais, etc.), o atual governo
parece estranhamente empenhado em inviabilizar as poucas e insuficientes
conquistas alcançadas em gestões anteriores.
No caso da agricultura e da pecuária tradicionais - que apesar de seus
fraquíssimos desempenhos ainda proporcionam ocupação e renda para metade da
população norte-rio-grandense - chegam a causar estupefação a incompetência, a
omissão e a desídia com que atuam alguns dos agentes governamentais
responsáveis pelos órgãos dessa área. Primeiro, deixaram à deriva, durante todo
o primeiro ano do governo, o chamado "Programa do Leite", através do
qual há cerca de 20 anos o Estado vinha adquirindo um percentual expressivo da
produção leiteira potiguar para distribuição gratuita à população carente dos
167 municípios. Em seguida, destroçaram o Idiarn (Instituto de Defesa e
Inspeção Agropecuária do Rio Grande do Norte) jogando no lixo um trabalho de
quase dez anos e condenando o território estadual a permanecer na zona de risco
de febre aftosa. Com isso, perdeu-se um esforço de décadas dos nossos
selecionadores de raças bovinas, cujos animais hoje não podem mais ser
comercializados para outras regiões do país. Se governos anteriores (Wilma de
Faria e Iberê Ferreira) já haviam se descuidado do "Programa do
Leite" atrasando os pagamentos do leite adquirido, a gestão de Rosalba foi
mais longe: parou de pagar por longos períodos, conduzindo boa parte dos
produtores e das usinas de pasteurização à falência. E até hoje, embora tenha
voltado a cumprir com a obrigação de pagar em dia, se nega a conceder reajuste
para o preço que - todo mundo sabe - não cobre o custo de produção. Como se a
maldade do governo contra o setor ainda fosse pouca, adveio mais um período de
seca para, no decorrer deste ano, ajudar a levar à bancarrota a maioria dos
produtores rurais do RN, sejam eles praticantes da pecuária leiteira ou não.
Produzir leite fica cada dia mais caro e mais inviável, a ponto de neste
final de semestre sequer estar existindo, por parte das vacarias do Estado,
produção suficiente para atender à demanda do "Programa do Leite". E,
diante desta situação, o que se propõe a fazer o governo?... Pelo que já andou
divulgando a Secretaria Estadual da Agricultura, a ideia que está prevalecendo
é a de se passar a comprar leite em pó, ao que tudo indica importado, já que no
mercado interno não existe oferta disponível. Assim, ao que tudo indica, a
população beneficiária do "Programa do Leite" dentro em breve deverá
estar consumindo o produto originário da Austrália ou da Nova Zelândia (países
que dispõem de excedentes), importado com isenção de impostos através de algum
país do Mercosul. Será que um dos objetivos da política econômica do governo
Rosalba Ciarlini é criar empregos no exterior?... Se levarmos em conta que, até
aqui, a única mensagem de cunho econômico que a atual administração encaminhou
ao Poder Legislativo foi a que cria incentivos fiscais às importações através
do Porto de Natal e do futuro Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, parece que
sim! Mas, voltando ao caso do "Programa do Leite": será que não seria
melhor para a economia e para a estabilidade social do Rio Grande do Norte que
o governo admitisse a necessidade de, em razão da seca que se alastra pelo
interior, adotar medidas para salvar o que ainda resta da bacia leiteira
estadual, ao invés de cavar sua sepultura com a importação de leite em pó?... É
bom que a população rural potiguar, que votou maciçamente pela mudança nas
últimas eleições e ajudou a eleger a governadora Rosalba Ciarlini com folgada
maioria logo no primeiro turno, comece a entender - quando aparecerem saquinhos
de leite em pó sendo distribuídos aos inscritos do "Programa do
Leite" - que este governo já fechou metade das vacarias do Estado e vai
acabar fechando o resto.
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