O segundo e último dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo (9) trouxe questões sobre música popular brasileira, uma delas com "Óia Eu Aqui de Novo" que ficou famosa na voz de Luiz Gonzaga, cartoon inspirado em um quadro de Pablo Picasso e pergunta de inglês sobre música de Bob Dylan. A prova cobrou conhecimentos em matemática, linguagens, além da redação cujo o tema foi "Publicidade infantil em questão no Brasil."
Outro destaque da prova foi uma tirinha de um robô fazendo "selfie", que foi chamado de autorretrato, extraído do blog www.willtirando.com.br. A questão perguntava ao candidato qual era a crítica transmitida pela imagem. Ainda em linguagens, em interpretação de texto, foi abordado o tema do processo de modificação das regras do esporte MMA. Outra questão que perguntava qual o estilo de música brasileira que utiliza os instrumentos cavaquinho e violão, e outra que dizia que muitos jovens da periferia gostam de funk e gospel e que o Brasil não é mais o país só da bossa nova. Uma ilustração do carturnista Carlos Henrique Iotti, publicada no jornal Zero Hora, inspirada no quadro "Guernica" do pintor Pablo Picasso também esteve na prova do Enem 2014. A ilustração faz uma alusão aos problemas decongestionamento no trânsito. A imagem mostra um carro "dizendo": "O trânsito no feriado é um quadro dramático". Os candidados tinham que entender polissemia responder sobre a intertextualidade da obra.
Prova do segundo dia do Enem teve questão de interpretação de texto sobre MMA - (Foto: Reprodução)
Também houve uma questão sobre a obra "Bicho de bolso" da artista plástica brasileira Lygia Clark. O candiato deveria responder sobre a função da arte neoconreta. Entre as questões de inglês, que integram linguagens, os candidatos que optaram por este idioma, encontraram uma pergunta baseada na música "Masters of War", de Bob Dylan. Em espanhol, caiu questões de interpretação do poema "El robo" da escritora uruguaia Circe Maia e do discurso do escritor peruano Mario Vargas Llosa. Em literatura, caíram perguntas sobre clássicos de autores como Gregório de Matos, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, Guimarães Rosa e Manuel Bandeira. O estilo de linguagem das crônicas também foi abordado. Uma das crônicas apresentadas foi "A história mais ou menos" de Luis Fernando Veríssimo.
O cantor e compositor Bob Dylan (Foto: Reuters)
Números no cotidiano
A prova cobrou conhecimento sobre matemática em questões com enunciados que abordavam situações do cotidiano, como economia de energia elétrica, água e doação de sangue. Em uma das perguntas o candidato teve que interpretar uma tabela que mostra a relação de doadores de sangue por habitantes em cada região do Brasil e a média nacional. O objetivo era dizer quais regiões precisavam de uma campanha para a doação de sangue.
Ainda nas questões relacionadas ao contidiano, uma delas abordou a velocidade no trânsito. O candidato tinha de "ajudar" a CET - Companhia de Engenharia de Tráfego sobre a colocação de uma placa de volcidade média para um trecho entre radares, baseando-se da distância entre os equipamentos e no tempo de deslocamento indicado pela CET. Outra pergunta de matemática falava sobre a forma como os incas registravam quantidades, um sistema de cordas e nós, chamados de "quipus". Dependendo da posição dos nós, era possível saber qual número estava indicado. O candidato teve que interpretar um desenho de cordas e nós e indicar o número correspondendte.
Folha do caderno do Enem com a proposta de redação deste ano (Foto: Reprodução)
Redação
Para embasar o tema da relação, a prova trouxe como coletânea o trecho de uma resolução, outro de um livro e um mapa mundi. A resolução é da Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) que define os abusos na publicidade infantil. O mapa mundi, publicado na Folha de S. Paulo, mostra em quais países a propaganda foi proibida ou regulada. Ainda havia um pequeno trecho de um livro que dizia que a criança, desde cedo, tinha de ser preparada para se tornar um futuro consumidor. Com base neste material, o candidato tinha de escrever uma redação abordando a realidade brasileira e respeitando os direitos humanos. Bruno Rabin, professor de redação do Colégio de A a Z, do Rio, considera o tema é bem interessante. "Não é um tema óbvio por não partir de uma efeméride. Segue a tendência dos últimos três anos no Enem", diz. O professor afirma que este tema que entra no assunto mais amplo, da comunicação e os limites da comunicação. Envolve a discussão sobre liberdade de expressão, de um lado, e proteção às crianças, de outro.
"Existem certos abusos e uma preocupação das famílias, pais e educadores em relação aos excessos da publicidade da criança. Como lidar com isso preservando a liberdade da própria publicidade. Seria interessante ao candidato imaginar que há no Brasil algumas regras e iniciativas de autorregulamentação publicitária para filtrar algum tipo de comunicação que possa ser considerada nociva", afirma. Vanessa Mesquita Dutra, professora de redação do Cursinho da Poli, de São Paulo, destaca que a prova do Enem tem trazido direitos humanos como foco. Em 2012, o Enem lançou na redação um tema sobre movimento imigratório para o Brasil. No ano passado, o tema da redação foi a lei seca. "A publicidade voltada para a criança é violenta. Ela não tem estrutura psicológica para processar as informações apresentadas numa propaganda. Uma criança gosta de um determinado personagem, e a tendência é que queira consumir produtos relacionados a esse personagem. Muita vezes a personagem está atrelada a um produto que faz mal à saúde", afirma.
Para a professora, o tema vai exigir muita organização do candidato para formular sua tese e os argumentos que justifiquem seu ponto de vista. E chegar a uma conclusão que apresente propostas de intervenção ao tema. Célio Tasinafo, diretor pedagógico da Oficina do Estudante, de Campinas (SP), diz que o candidato deve fazer um debate sobre mercado consumidor e o peso da progaganda. "Quem domina a estrutura da dissertação deve produzir um texto bom." "O jovem deve saber que a criança é mais vulnerável, todo o capitalismo incentivando o consumo leva a esta situação de que criança seja um consumidor especial sem ter um controle. É o caso de propagandas que associam alimentos a super-heróis, como se comendo aquilo a criança vai ter superpoderes", destaca. "Precisaríamos ter controle maior sobre propagandas direcionadas a estas crianças que acreditam em tudo e não têm experiência de vida. Se em adultos isso já é evidente, imagine para uma criança."
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