
A sede do PT em Brasília: dois andares serão devolvidos - Agência O Globo 23-11-2015 / André Coelho
RIO — Não foi só a imagem do PT que a Operação
Lava-Jato afetou. Com representantes das principais empreiteiras do país na
cadeia, o caixa do partido secou. Enquanto toma medidas para fechar as contas e
aumentar a arrecadação, a direção petista tenta dar um verniz positivo ao sumiço
dos financiadores. Após os escândalos do mensalão e da Petrobras, o comando do
PT adotou como bandeira ética o fim do financiamento empresarial. O partido se
antecipou ao Supremo Tribunal Federal e decidiu, em abril, que não aceitaria
mais doação de empresas. Entre as medidas do ajuste petista está a rescisão do
contrato de aluguel de dois dos três andares da sede nacional em Brasília.
O partido vai desocupar o subsolo, onde há um auditório com 140
lugares, e o andar térreo, onde funcionam a recepção e uma loja que vende
camisetas, livros e broches do PT. A decisão foi tomada pelo então tesoureiro
João Vaccari, que está preso, condenado por corrupção passiva e lavagem na
Lava-Jato. O PT não informou de quanto será a economia, apenas que a medida faz
parte de um conjunto de ações para diminuir os gastos com custeio, que já teria
resultado em uma redução de custos de 30%. Segundo a assessoria do partido,
todos os contratos foram renegociados. Essa não é a primeira vez que um
escândalo de corrupção desaloja o PT. Na esteira do mensalão, o partido deixou
um prédio luxuoso em Brasília, onde tinha algumas salas, e mudou-se para a atual
sede, em uma região degradada da capital.
Na tentativa de reduzir a inadimplência de seus filiados, o
partido diminuiu o valor da contribuição cobrada dos que ocupam cargos de
confiança no governo federal. Foram alteradas as faixas de renda e os valores
das parcelas a deduzir. Assim, um filiado com salário líquido de R$ 5 mil teve
sua contribuição reduzida de R$ 448 para R$ 252. Já quem tem renda de R$ 1.500
passou de R$ 57 para R$ 30. Ainda como parte desse esforço, o PT concedeu
desconto de 70% no valor das dívidas de filiados, além de redução de 10% no
valor da contribuição mensal para quem optou por pagamento em débito automático.
Tesoureiro da campanha derrotada do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha ao
governo de São Paulo, no ano passado, Jorge Coelho disse achar viável manter o
partido e fazer campanha sem doação empresarial:
— O PT se criou sem doação
empresarial. As campanhas vão ter que ser mais baratas, com mais militância,
mais mobilização e organização.
FUNDO PARTIDÁRIO
Em setembro, o Supremo
proibiu que partidos e candidatos recebam doações de empresas. Contrários à
decisão, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e líderes partidos da oposição
apostam na confirmação, pelo Senado, de proposta de emenda constitucional, já
aprovada na Câmara, que volta a autorizar as doações. Sem o dinheiro de
empresas, as campanhas e os partidos serão custeados com recursos do Fundo
Partidário e contribuições de filiados e simpatizantes. O 5º Congresso do PT, em
julho, lançou uma campanha de arrecadação pela internet.
Parte da queda de receita será compensada com o aumento do
Fundo Partidário. O Congresso triplicou, em março, os recursos destinados para
este fim no Orçamento. A verba total passou de R$ 289 milhões para R$ 867
milhões. O PT deve receber cerca de R$ 110 milhões este ano. Em 2014, o PT
declarou à Justiça Eleitoral ter recebido R$ 193 milhões em doações de empresas
e pessoas físicas. Em 2013, foram R$ 79 milhões. A resolução interna proibindo a
doação de empresas, antes da decisão do STF, não agradou a todos. O presidente
do diretório do Rio, Washington Quaquá, queria liberar a doação de empresas para
os diretórios regionais, deixando a proibição restrita ao diretório nacional. O
diretório do Rio tem dívida de quase R$ 12 milhões da campanha do senador
Lindbergh Farias para o governo do estado; o de São Paulo, de R$ 25 milhões, da
campanha de Padilha.
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