
Mineradora Vale levantou 1,25 bilhão de dólares com emissão feita após a mudança de governo, montante maior do que ela esperava conseguir(Divulgação Vale/VEJA)
As empresas brasileiras estão aproveitando a melhora da
avaliação sobre o risco Brasil, após a mudança de governo, para captar recursos
no exterior e refinanciar suas dívidas. Em menos de um mês, os investidores
estrangeiros compraram 9,6 bilhões de dólares em bônus de empresas como
Petrobras, Marfrig, Vale, Eldorado e Cosan. A expectativa é de que mais
companhias façam novas emissões nas próximas semanas. A demanda por papéis de
empresas brasileiras já conhecidas no mercado está muito superior à oferta,
segundo o diretor-gerente do Bradesco Banco de Investimento (BBI), Leandro de
Miranda, que esteve à frente das operações de Marfrig, Vale e Cosan. O volume
captado pelas companhias nos últimos dias já supera todo o volume do ano
passado, de cerca de 8 bilhões de dólares. Miranda lembra, porém, que a oferta
de títulos ainda é baixa: há alguns anos, o volume de emissões no primeiro
semestre ficava entre 25 bilhões de dólares e 30 bilhões de dólares.
Diversos fatores têm influenciado nas captações. Além da
melhora na parte política, com a mudança de governo e a expectativa de que as
reformas econômicas sejam feitas, o Federal Reserva (Fed, banco central
americano) indicou nesta semana que não deve elevar os juros. Assim, os
investidores continuam procurando juros mais atrativos. Outro ponto é que muitos
fundos de investimento estão com porcentuais históricos muito baixos de
exposição ao Brasil - e com espaço para recompor seus portfólios. Diante desse
apetite por Brasil, os custos para as empresas têm caído, na esteira da queda do
risco país, que era de 500 pontos básicos no início do ano e caiu agora para
300. O economista Nathan Blanche, da Tendências Consultoria, lembra, porém, que
o dinheiro que está fazendo com que o dólar caia, a Bolsa se valorize e as
empresas captem recursos ainda é de curto prazo, de investidores que se
aproveitam de situações momentâneas. "Não podemos esquecer que nosso risco já
foi de 140", diz. "Até outro dia, falava-se de insolvência fiscal em dois, três
anos. Isso significa que, se as novas reformas não forem aprovadas, não teremos
capital externo para investimento de longo prazo."
O responsável pela área de mercado de capitais do banco Morgan
Stanley, Alexandre Castanheira, diz que as empresas não estão neste momento
captando para investir. A Marfrig, por exemplo, captou 750 milhões de dólares, e
boa parte desse montante foi para recomprar títulos que venciam no curto prazo.
A única nova emissão, de empresa que não era conhecida dos investidores, foi a
da Eldorado Celulose, que acabou tendo um pouco menos de demanda para seus
papéis, segundo alguns executivos de bancos. Já a Vale, que pretendia emitir
entre 500 milhões de dólares e 1 bilhão de dólares, acabou fechando em 1,25
bilhão de dólares, com juros abaixo de 6% e demanda por 5 bilhões de dólares. A
maior captação do ano foi da Petrobras, de 6,75 bilhões de dólares, mas os juros
ficaram acima de 8%.
Com Estadão Conteúdo
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