
Boca no trombone: Medina, gaúcho como Padilha, diz que sua queda começou há cerca de três meses (Cristiano Mariz/VEJA)
Demitido por telefone pelo presidente Michel Temer na
sexta-feira passada, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, resolveu
quebrar o protocolo. Em vez de anunciar a saída com elogios a quem fica e sumir
do mapa, ele decidiu pôr a boca no trombone. Em entrevista a VEJA no mesmo dia
da demissão, Medina disse que sai do posto porque o governo não quer fazer
avançar as investigações da Lava-Jato que envolvam aliados. Diz: “O governo quer
abafar a Lava-Jato”. Medina entrou em rota de colisão com seu padrinho, o
poderoso ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Gaúchos, os dois se conhecem do
Rio Grande do Sul, onde Medina foi promotor de Justiça, especializado em leis de
combate à corrupção, e Padilha fez sua carreira política.
Medina conta que a divergência começou há cerca de três meses,
quando pediu às empreiteiras do petrolão que ressarcissem o Erário pelo dinheiro
desviado da Petrobras. Depois disso, Medina solicitou acesso aos inquéritos que
fisgaram aliados graúdos do governo. Seu objetivo era mover ações de improbidade
administrativa contra eles. A Polícia Federal enviou-lhe uma lista com o nome de
catorze congressistas e ex-congressistas. São oito do PP (Arthur Lira, Benedito
Lira, Dudu da Fonte, João Alberto Pizzolatti Junior, José Otávio Germano, Luiz
Fernando Faria, Nelson Meurer e Roberto Teixeira), três do PT (Gleisi Hoffmann,
Vander Loubet e Cândido Vaccarezza) e três do PMDB (Renan Calheiros, presidente
do Congresso, Valdir Raupp e Aníbal Gomes). Com a lista em mãos, Medina pediu ao
Supremo Tribunal Federal para conhecer os inquéritos. Recebida a autorização, a
Advocacia-Geral da União precisava copiar os inquéritos em um HD.
Passou um tempo, e nada. Medina conta que Padilha estava
evitando que os inquéritos chegassem à AGU, e a secretária encarregada da cópia,
Grace Fernandes Mendonça, justificou a demora dizendo que não conseguia
encontrar um HD externo, aparelho que custa em média 200 reais. “Me parece que o
ministro Padilha fez uma intervenção junto a Grace Mendonça, que, de algum modo,
compactuou com essa manobra de impedir o acesso ao material da Lava-Jato”, conta
Medina. O ex-advogado-geral diz que teve uma discussão com o ministro Padilha na
quinta-feira, na qual foi avisado da demissão. No dia seguinte, recebeu um
telefonema protocolar do presidente Temer. Grace Mendonça, assessora do HD, vai
suceder a ele. O ministro Padilha, que se limitou a divulgar um tuíte
agradecendo o trabalho de Medina, manteve distância da polêmica e não deu
entrevistas. Exibindo mensagens em seu celular trocadas com o procurador Deltan
Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, e com o juiz Sergio Moro,
Medina afirma que a sua demissão tem significado maior — o de que o combate à
corrupção não está nas prioridades do governo Temer. “Se não houver compromisso
com o combate à corrupção, esse governo vai derreter”, afirma ele. Ainda assim,
Medina faz questão de dizer que nada conhece que desabone a conduta do
presidente.
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