
O CHEFE - Lula era o general do petrolão, segundo MP (Nelson Almeida/AFP)
O procurador da República e coordenador da força-tarefa da Lava
Jato em Curitiba Deltan Dallagnol classificou nesta quarta-feira o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva como “comandante máximo” do esquema criminoso
descoberto pela operação – o maior já descoberto na história do país, ressaltou.

Gráfico do MP deixa claro: Lula era o chefe
De acordo com o procurador, o núcleo político estava acima de
todos os outros no esquema operado na Petrobras. E Lula era o grande general.
“No centro deste núcleo está o senhor Lula”, afirmou. “Sem o poder de decisão de
Lula esse esquema seria impossível”, afirmou. Lula foi denunciado hoje pelos
crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá. De
acordo com o MP, a propina paga ao petista somou 3,7 milhões de reais. Os crimes
que integram a denúncia desta quarta – e que foram chefiados por Lula – somam
87,6 milhões de reais. “O PT e, particularmente Lula, eram os principais
beneficiários de esquemas criminosos de macrocorrupção no Brasil”, afirmou o
procurador. “Na corrupção envolvendo o ex-presidente Lula e José Dirceu existia
um sistema de caixa geral. Isso significa que não precisava ser acertado em cada
obra um valor de propina certa. A propina era regra na Petrobras, não precisavam
ser ajustadas. Lula, Dirceu e Vaccari podiam sacar valores desse sistema geral”,
prosseguiu.
Ressaltou Dallagnol: “Não se trata mais do petrolão. Estamos
falando de propinocracia, ou governo regido pela propina”. Ainda segundo ele, o
objetivo do esquema criminoso era a perpetuação do Partido dos Trabalhadores no
poder de modo criminoso – o mesmo, aliás, por trás do mensalão, afirmou.
“Mensalão e petrolão são duas faces da mesma moeda”, diz o procurador.
Justamente dado o tamanho do esquema criminoso desvendado pela Lava Jato, ele
não ficou restrito à Petrobras, segundo o Ministério Público Federal.
Espalhou-se por Eletrobras, Ministério do Planejamento, Ministério da Saúde e
Caixa Econômica Federal. Segundo o procurador, o esquema só se tornou possível
porque era operado por alguém com o comando do partido e da máquina do governo.
“Lula era o elo comum e necessário entre o esquema partidário e de governo”. Já
o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado na Lava Jato, era o braço
direito do ex-presidente. Ele ainda salientou que Lula não pode mais afirmar que
não sabia de nada. “O petrolão, depois do mensalão, deixa claro que o comandante
do esquema não era José Dirceu, e sim alguém que estava acima de José Dirceu. Só
havia possibilidade de o comandante estar acima, e aí estava o verdadeiro
maestro dessa orquestra criminosa”, afirmou Dallagnol, em referência a Lula.
Como VEJA revelou, foi o ex-presidente quem convenceu a OAS a
assumir as obras deixadas para trás pela Bancoop no Guarujá, cooperativa que foi
à bancarrota após desviar o dinheiro de milhares de associados para os cofres do
PT. Pedido de Lula, sabe-se agora, era ordem, e a OAS topou. Um dos projetos
assumidos pela empreiteira foi justamente o do Edifício Solaris, no Guarujá,
onde o ex-presidente teria uma unidade. A OAS não só evitou o prejuízo a Lula,
tirando o projeto do prédio do papel, como aproveitou a oportunidade para afagar
o petista. Reservou para ele um tríplex, na cobertura do edifício – e cuidou
para que, a exemplo do sítio, o apartamento ficasse ao gosto da família. A
empreiteira investiu quase 800.000 reais apenas numa reforma, que deixou o
imóvel com um elevador privativo e equipamentos de lazer de primeiríssima
qualidade. Sem constrangimento, Lula e a ex-primeira-dama Marisa visitaram as
obras na companhia de Léo Pinheiro, o ex-presidente da OAS.
Tudo estava ajustado para que a família logo começasse a
desfrutar o apartamento. Mas veio a Lava Jato e os planos mudaram. Lula, então,
passou a dizer que tinha apenas uma opção de compra do apartamento – e que
desistira do negócio. O argumento não convenceu a polícia. “Em se tratando de
lavagem de dinheiro, não teremos aqui provas cabais de que Lula é efetivo
proprietário do apartamento, pois exatamente o fato de ele não figurar como
proprietário é uma forma de dissimular a verdadeira propriedade”, explicou o
procurador Roberson Pozzobon. “Eles (Lula e Marisa) simplesmente pararam os
pagamentos (de um apartamento mais simples no Solaris) quando a OAS ficou
responsável pela obra.
Foi nesse momento, mediante ajustes com Léo Pinheiro e
executivos da OAS, que eles recebem a cobertura em pagamento de propinas”,
continuou. Segundo Dallagnol, Lula agiu para barrar a Lava Jato. Ele salientou
que a postura do ex-presidente diante das investigações do petrolão e do
mensalão foi de desqualificação e obstrução, “como aquele que foge da cena do
crime após matar a vítima e busca depois calar testemunhas”. Ele citou delações
premiadas de Pedro Corrêa, Delcídio do Amaral e Fernando
Baiano, classificadas pelo procurador como peças de um quebra-cabeça “que aponta
para o centro, que Lula era o comandante do petrolão e do que denominamos de
propinocracia”.
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