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Distribuição de remédios de alto custo é um dos programas mais caros do Ministério da Saúde (Foto: Pixabay)
Quando
descobriu, em 2008, que sofria de doença de Crohn - um mal crônico que ataca o
intestino - não foi só o diagnóstico que preocupou o servidor público Raimundo
Gonçalves Moreira, de São Paulo. Com a descoberta da doença, ele soube que
precisaria tomar, a cada dois meses, cinco doses do medicamento Remicade. Cada
ampola do remédio custa até R$ 5,1 mil. Logo, aos 63 anos, Moreira gastaria R$
25,5 mil a cada 60 dias para manter o tratamento, um custo considerado
impraticável por ele. "Se eu tivesse que comprar, teria morrido há muito
tempo", conta.
A vida de
Moreira e de muitos outros brasileiros têm sido mantida graças a um programa do
Ministério da Saúde chamado Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica (CEAF), que distribui medicamentos de alto custo - alguns deles
ainda mais caros que os de Moreira. O Sistema Único de Saúde (SUS) gasta cerca
de R$ 7,1 bilhões por ano para comprar esses remédios. Mas pelo menos uma parte
desse valor tem ido direto para o lixo. Um relatório inédito da Controladoria-Geral
da União (CGU), concluído em abril, mostra que 11 Estados e o Distrito Federal
jogaram remédios fora em 2014 e 2015. As causas do desperdício, que chega a R$
16 milhões, foram validade vencida e armazenagem incorreta. Para se ter uma
ideia do tamanho do problema, o valor perdido seria suficiente para custear o
tratamento de Moreira por 104 anos. Os
Estados em que houve descarte foram Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal,
Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Santa
Catarina.

Perdas em série
No total, a
auditoria da CGU encontrou perdas que chegam a R$ 16,07 milhões. A estimativa é
da reportagem da BBC Brasil a partir dos dados do relatório aos quais a
reportagem teve acesso, já que a CGU não consolidou o valor das perdas
financeiras.
As perdas
alarmam, mas não são o único problema do programa. Em 14 Estados, o controle de
estoque simplesmente não correspondia aos remédios que realmente estavam armazenados.
Ou seja: produtos foram retirados ou entraram nos estoques sem que tenham sido
registrados oficialmente pelos responsáveis - o que deixa uma porta aberta para
mau uso de dinheiro ou produto público. Há ainda casos de compras de
medicamentos em que os gestores públicos descumpriram a lei e trouxeram
prejuízo ao erário.
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