A crise hídrica que afeta o Rio Grande do
Norte – a pior da história – está cada vez mais grave. Nesta quarta (3), o
maior reservatório potiguar, a barragem Armando Ribeiro Gonçalves, que comporta
até 2,4 bilhões de metros cúbicos de água, chegou a 11,74% de sua capacidade e
entrou no chamado volume morto – nome que se dá à reserva de água mais profunda
das represas, que fica abaixo dos canos de captação que normalmente são usados
para retirar água.
Segundo o Instituto de Gestão das Águas do
Estado (Igarn), estava sendo liberada uma vazão de 5 metros cúbicos por
segundo. Hoje, a barragem só consegue liberar 4,36 metros cúbicos. Se assim
continuar, a previsão é que só haverá abastecimento pelos próximos 30 ou 45
dias. Quarenta municípios dependem diretamente das águas da Armando Ribeiro.
Leito rachado e peixes mortos. Este é o
cenário do Açude Rio da Pedra, reservatório que abastece Santana do Matos, uma
das 14 cidades do RN que estão em colapso no abastecimento (Foto: Anderson
Barbosa/G1)
Diretor-presidente do Igarn, Josivan Cardoso
explica que, apesar da situação, o governo estadual está fazendo o possível
para manter as reservas ainda existentes e o abastecimento das cidades. “Ações
de monitoramento, controle e fiscalização implantadas pelo Igarn proporcionam
ainda manter os sistemas em operação, mesmo que dentro de racionamentos e
rodízios". Contudo, Josivan ressalta que é importante que
a população faça o consumo sustentável da água, "tanto para garantir a
continuidade do abastecimento das cidades que ainda não estão em colapso,
quanto para ajudar na recarga dos reservatórios quando as chuvas tiverem
início".
Seca histórica
O primeiro relatório de 2018 também revela que
nunca os níveis de armazenamento dos reservatórios potiguares estiveram tão
baixos. A disponibilidade hídrica total do Rio Grande do Norte é de
4.411.787.259 metros cúbicos. Em 2011, devido ao bom período chuvoso, o índice
chegou a 89,52% de sua capacidade. Agora, está em 11,24%.
Disponibilidade hídrica do RN (%)
- Dos 47 açudes ou barragens monitorados pelo
órgão, que são os que possuem capacidade superior a 5 milhões de metros
cúbicos de água, 16 estão totalmente secos (34,04%) e outros 19 em volume
morto (40,42%).
- Dos
167 municípios potiguares, 153 estão em calamidade por causa da seca.
Isso significa 92% do estado. Deste total, 14 cidades estão em colapso no
abastecimento, ou seja, sem água nas torneiras.
- Em outras 84, a Companhia de Águas e Esgotos do
RN (Caern) criou sistemas de rodízio para garantir o mínimo de
fornecimento. E os prejuízos, segundo o governo, já passam dos R$ 4
bilhões por causa da redução do rebanho e do plantio.
Cidades em colapso:
- Luis
Gomes, desde outubro de 2011
- Tenente
Ananias, desde agosto de 2014
- João
Dias, desde novembro de 2014
- São
Miguel, desde janeiro de 2015
- Pilões,
desde março de 2015
- Rafael
Fernandes, desde novembro de 2015
- Paraná,
desde dezembro de 2015
- Francisco
Dantas, desde fevereiro de 2016
- Marcelino
Vieira, desde fevereiro de 2016
- Almino
Afonso, desde março de 2016
- José
da Penha, desde novembro de 2016
- Marcelino
Vieira, desde fevereiro de 2016
- Cruzeta,
desde setembro de 2017
- Jardim
do Seridó, desde outubro de 2017
- Santana do Matos, desde dezembro de 2017
Maior barragem do RN, Armando Ribeiro
Gonçalves está com menos de 12% de sua capacidade (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Armando Ribeiro
Maior reservatório do Rio Grande do Norte e o
segundo do Nordeste, a barragem Armando Ribeiro Gonçalves tem suas comportas localizadas
na cidade de Itajá, no Vale do Açu, e capacidade para 2,4 bilhões de metros
cúbicos de água. Estava com 286,3 milhões de metros cúbicos no relatório do dia
28 de dezembro do ano passado, o que representava 11,93% do volume máximo.
Agora, de acordo com a medição feita nesta quarta (3), o nível baixou para
281,8 milhões, ou seja, 11,74% da capacidade. A coloração esverdeada das
águas que saem da barragem já começa a chamar a atenção (veja vídeo acima). Porém, o Igarn
disse que a população pode ficar tranquila, já que a vazão que sai da barragem
ainda vai passar por tratamento antes de chegar às torneiras. No entanto, ainda
não se pode afirmar até quando será possível garantir a qualidade dessa água.
Água esverdeada chama atenção nas comportas da barragem
Armando Ribeiro, em Itajá (Foto: Renato Medeiros). Esta é a primeira vez, desde que foi inaugurada, em 1983, que
a Armando Ribeiro entra em volume morto.
Barragem de Santa Cruz, em Apodi (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Santa Cruz
A segunda maior barragem potiguar é a de Santa Cruz. Fica em
Apodi, na região Oeste do estado. Ela tem capacidade total de 600 milhões de
metros cúbicos, mas atualmente possui pouco mais de 87 milhões de acordo com
monitoramento feito no 1º dia de 2018. O nível, que representa 14,57%, se
manteve com a nova leitura feita nesta quarta.
Umari
Também na região Oeste fica a cidade de Upanema. Lá está a
Barragem de Umari, a terceira maior do estado. A capacidade total é de 292,8
milhões de metros cúbicos, mas o volume atual é de 41,2 milhões de metros
cúbicos, o que representa um volume de 14,1% de acordo com a medição feita no
dia 2 deste mês.
Sem água nas torneiras, moradores de Santana do Matos
enfrentam fila para pegar água nos chafarizes espalhados pela cidade (Foto:
Anderson Barbosa/G1)
Torneiras vazias
No final de 2017, o G1 visitou a cidade de Santano do Matos, no 'coração' do Rio
Grande do Norte. A cidade foi a mais recenete a entrar na lista das que estão
em colapso.
Esperança
As previsões para 2018 são um alento, mas não garantias.
Segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte
(Emparn), o estado deve ter chuvas
acima da média ano que vem, mas nada suficiente para encher os
grandes reservatórios. Caso contrário, o sofrimento das marias e de quase toda
a população do estado não tem como diminuir.
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